A buva (Conyza spp.) é uma planta daninha muito comum em lavouras de soja. Pode sobreviver nos cultivos de verão e inverno, causando dificuldades no controle com herbicidas, além de servir de abrigo para os principais insetos fitófagos.

Os principais insetos-pragas que podem sobreviver nessas plantas incluem percevejos e lagartas, podendo reinfestar as lavouras de soja com maior população e voracidade.

O monitoramento deve prevalecer durante o ano todo, pois se adaptam a diferentes alimentos e apresentam elevada capacidade de sobrevivência na entressafra. Oliveira & Rando (2017), relatam que as plantas de buva abrigam a maior diversidade de pragas, possibilitando altas infestações.

Figura 1. Plantas de buva servindo como abrigo para insetos-pragas.

Características importantes da buva:

  • Apenas 1 planta pode produzir mais de 200 mil sementes, apresentando facilidade de dispersão e reprodução;
  • Rápido crescimento, possibilitando vantagens para competir com a soja;
  • Maior habilidade para absorver nutrientes, radiação e água;
  • Desenvolve-se mesmo em condições de déficit hídrico (Mendes et al., 2016);
  • Há casos de múltipla resistência para os mecanismos de ação: Inibidores do PSII, Inibidores do PSI, Inibidores da PROTOX, Inibidores da EPSP e Mimetizadores de Auxina (Sausen et al., 2020);
  • Serve como “ponte-verde” para a sobrevivência de pragas.

O momento correto do seu controle é antes das plantas apresentarem 4 folhas ou com no máximo 15 cm de altura (Mendes et al., 2016). A dificuldade de manejo se eleva com o aumento de folhas, além de apresentarem tolerância e resistência a herbicidas, incluindo o glifosato. Este cenário permite que esta planta persista no ambiente e sirva de abrigo para insetos-pragas, conhecido como “ponte-verde”.



Figura 2. Momento em que se encontra com maior facilidade de controle.

A planta emerge no outono ou na primavera, em condições de temperaturas entre 20-25°C. Por esse motivo de momento da emergência, onde a lavoura se encontra em pousio ou com culturas de inverno, seu manejo é realizado tardiamente, resultando em controles ineficientes da buva.

Em uma pesquisa de Dalazen et al. (2017), intitulada “Análise faunística de insetos-praga e seus inimigos naturais associados a buva em cultivo de soja”, estudou-se a população das principais pragas da soja, incluindo percevejos e lagartas, em plantas de buva.

Para os percevejos, estes insetos apresentam um terço da sua vida se alimentando de culturas. O restante da sua vida passa em plantas hospedeiras, ocupando locais de hibernação disponíveis por essas plantas que não são controladas (Panizzi, 1997).

Como visualizamos na Figura 3, indivíduos pertencentes às espécies do percevejo-barriga-verde (Edessa meditabunda), percevejo-marrom (Euschistus heros) e percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii) são insetos que apresentam aumento da população após a colheita da soja. Ou seja, permanecem nas lavouras através da buva que oferece condições de sobrevivência para esses insetos.

Percebe-se que o número de indivíduos é extremamente elevado, encontrando aproximadamente 30 percevejos da espécie barriga-verde por amostra em cenários em que não há a soja como cultura principal. Assim, nota-se que a buva é uma planta hospedeira viável para os percevejos.

Figura 3. Número de percevejos encontrados durante um ano em plantas de buva.

Fonte: Dalazen et al. (2017).

Para as principais lagartas, a população pode permanecer em taxas elevadas durante todo o ano, indicando que a buva serve como hospedeiro para a praga permanecer na lavoura na safra e entressafra.

As espécies que apresentam os maiores picos são lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e falsa-medideira (Chrysodeixis includens). Estes, são os principais lepidópteros encontrados nas lavouras brasileiras.

Veja também: Lagartas do período inicial da soja

Como visualizamos na Figura 4, entre junho e outubro, quando há baixas temperaturas, as populações de pragas reduzem a praticamente zero. No entanto, a partir de novembro a densidade populacional cresce de maneira elevada em plantas hospedeiras como a buva.

Figura 4. Número de lagartas encontradas durante um ano em plantas de buva.

Fonte: Dalazen et al. (2017).

Algumas pragas polífagas, como lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e do velho-mundo (Helicoverpa armigera), podem sobreviver nas plantas daninhas. Mendes, et al. (2016) relata que a taxa de sobrevivência reduz com a finalização do ciclo da praga, apresentando baixas qualidades nutricionais para o desenvolvimento das lagartas.

De acordo com Batista et al. (2014), a buva não serve como ponte-verde para a lagarta-do-cartucho. Apresentam ciclo de desenvolvimento de 30-40 dias. Por isso, mesmo com redução da taxa de sobrevivência, elas podem completar seu ciclo e sobreviver durante a fase de lagarta, momento em que possui a capacidade de causar injúrias. Quando completa a fase larval, já causou os maiores estragos.

Figura 5. Taxa de sobrevivência de lagarta-do-cartucho (esquerda) e do velho-mundo (direita) em plantas de buva e milho.

Fonte: Mendes et al. (2016).

Considerações finais

Recomenda-se reconhecer corretamente as espécies de plantas daninhas que estamos enfrentando no campo na safra e entressafra, bem como realizar o seu manejo quando ainda estão no estágio de plântulas, reduzindo os custos de controle e aumentando a eficiência de combate às pragas.

O manejo na entressafra é de fundamental importância para conseguirmos reduzir a população de plantas daninhas e, consequentemente, de insetos-pragas. A buva emerge justamente quando o produtor não costuma realizar manejos com herbicidas. Por isso, o monitoramento é importante para detectarmos sua presença e agir no momento mais correto.

Conyza spp. apresenta potencial de abrigar percevejos e lagartas. Com a soja durante o verão e a permanência de buva na entressafra, as pragas apresentam capacidade de sobrevivência. Mesmo que sua qualidade nutricional seja baixa, as lagartas podem completar sua fase mais crítica na lavoura. O manejo integrado é a melhor alternativa de combate fitossanitário

Lembre-se que a permanência de ervas daninhas está ligada diretamente com a população de pragas e aumento de custos para o produtor.

Referências:

BATISTA, C. de S. et al. Aspectos biológicos de Spodoptera frugiperda (JE Smith)(Lepidoptera noctuidae) alimentada com buva (Conyza sp.). In: Embrapa Milho e Sorgo-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC/BIC JÚNIOR, 6., 2014, Sete Lagoas.[Trabalhos apresentados]. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2014., 2014.

DALAZEN, Giliardi et al. Análise faunística de insetos-praga e seus inimigos naturais associados a buva em cultivo de soja. Pesquisa Agropecuária Tropical (Agricultural Research in the Tropics), p. 336-344, 2017.

MENDES, S. M. et al. A buva (Conyza spp.) pode ser considerada planta hospedeira de Spodoptera frugiperda e Helicoverpa armigera?. Embrapa Milho e Sorgo-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2016.

OLIVEIRA, Rafael Alvim G.; RANDO, Jael Simões Santos. Diversidade de insetos em plantas hospedeiras próximas às áreas de cultivo de milho e algodão. JOURNAL OF NEOTROPICAL AGRICULTURE, v. 4, n. 3, p. 35-40, 2017.

PANIZZI, A. R. Wild hosts of pentatomids: ecological significance and role in their pest status on crops. Annual Review of Entomology, v. 42, n. 1, p. 99-122, 1997.

SAUSEN, Darlene et al. Biotecnologia aplicada ao manejo de plantas daninhas/Biotechnology applied to weed management. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 5, p. 23150-23169, 2020.

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Redação: Equipe Mais Soja.

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