Os sugadores estão presentes na cultura da soja desde o período vegetativo e se estendem até o final do reprodutivo. Dentre as principais espécies de percevejos que causam danos na cultura da soja, destacam-se as espécies de Nezara viridula (percevejo- verde), Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno) e Euschistus heros (percevejo-marrom). Os demais percevejos não prejudicam a produtividade da leguminosa (AGEITEC).
A partir da fase reprodutiva a população de sugadores aumenta, podendo atingir alta incidência no final do período de desenvolvimento das vagens (R4) e início de enchimento de grãos (R5). É exatamente nesse momento que a soja é mais suscetível ao ataque dos sugadores. O pico populacional é atingido próximo à maturação fisiológica (R7), (figura 1).
Entre o período de florescimento até a maturação, a maior densidade populacional é composta por ninfas de 3° a 5° instares. Porém, os danos dessas ninfas são similares dos percevejos adultos (AGEITEC).
Figura 1. Períodos de maior incidência de percevejos na cultura da soja

Podemos notar com a Figura 1, que o momento que o percevejo entra na lavoura é de grande importância para realizar o manejo, pois se consegue reduzir a oviposição e a segunda geração da praga (FRANCO, R. G. 2018).
Figura 2. Percevejos que ocorrem com maior frequência na cultura da soja

Ciclo de Desenvolvimento dos Percevejos
Figura 3. Ciclo de desenvolvimento do Euschistus heros
Figura 4. Ciclo de desenvolvimento do Piezodorus guildinii
DANOS
Os percevejos sugadores podem incidir na cultura desde a fase vegetativa (quando estão saindo da diapausa) até a maturação, causando problemas diretos e indiretos de qualidade e rendimento das sementes.
Entretanto, apenas na fase reprodutiva (início do R3) que a produtividade e a qualidade das sementes são comprometidas. Após, no período R5.1 (início do enchimento de grãos) é o chamado período crítico, em que a população aumenta e alcança a maior densidade populacional em R6 (final do enchimento de grãos). Posteriormente à colheita, essas pragas procuram outras plantas hospedeiras para continuarem seu ciclo (PROMIP, 2019).
Danos diretos podem ser vistos como abortamento dos grãos, redução do potencial germinativo, de vigor, de massa, tamanho e teor de óleo dos grãos. A germinação e o vigor estão relacionados com a morte dos embriões e enfraquecimento das sementes.
Os danos indiretos são caracterizados por transmissão de doenças fúngicas no momento da picada e indução de um distúrbio fisiológico denominado “soja louca”. Esse distúrbio acarreta em folhas verdes no final do ciclo, causando prejuízos no rendimento. No campo, os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e se tornam mais escuros.
De acordo com CORRÊA-FERREIRA & AZEVEDO (2002), os maiores números de sementes danificadas por percevejos são oriundos de danos do sugador P. guildinii. Por outro lado, os menores danos são oriundos de E. heros.
Figura 5. Danos nos grãos pelo percevejo-marrom da soja

Diferentemente das lagartas que se alimentam das folhas, os percevejos atacam diretamente os grãos. Dessa forma, segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Samuel Roggia, existe potencial de perda em produtividade e em qualidade dos produtos como óleo e ração animal. Ainda, para os produtores de sementes, o ataque de percevejos se torna mais preocupante, pois afeta diretamente o vigor das sementes que acarretará em problemas para o próximo estabelecimento da lavoura de soja.
Os sugadores podem causar perda de produtividade acima de 30% em lavouras de soja. Um percevejo por metro quadrado acarreta em uma redução de 49 a 120 kg de grãos.ha-1 (TRIUNFO, 2020). Essa variação de redução de grãos depende da espécie de percevejo, do clima, fase da cultura, cultivar e sua produtividade.
O consumo diário de um percevejo E. heros é estimado em perdas de 0,08 g.dia-1, para N. viridula é de 0,16 g.dia-1 e para P. guildinii é de 0,21 g.dia-1. O percevejo verde-pequeno é o que causa maior nível de danos na cultura, possuindo capacidade 2,6 vezes maior que o percevejo-marrom. A causa dos danos é a maior profundidade das picadas comparado aos demais percevejos.
Figura 6. Danos dos principais percevejos em soja
MONITORAMENTO E NÍVEL DE CONTROLE
O monitoramento deve ser realizado semanalmente nos períodos mais frescos do dia e na fase reprodutiva (momento em que ocorre perdas mais significativas). No início dessa fase, o monitoramento deve ser realizado de forma mais constante caso a população for considerada significativa, pois nesse período se inicia a formação das vagens que servirão de alimento para os percevejos.
O nível de ação deve ser iniciado quando houver 2 percevejos.m-1 na fase reprodutiva ou 4 percevejos.m-1 na fase vegetativa. Já para a produção de sementes, o nível de ação inicia quando houver apenas 1 percevejo.m-1 (PROMIP, 2019).
No momento de realizar o pano de batida, que é a ferramenta mais confiável, deve-se contabilizar os adultos e as ninfas grandes (3°, 4° e 5° instar). As ninfas maiores possuem tamanho igual ou maior que 0,3 cm (EMBRAPA, 2019).
Controle Biológico
Há a possibilidade de controle de percevejos através do controle biológico, priorizando a seletividade a inimigos naturais.
O uso mais recorrente desse recurso são as aplicações de parasitoides de ovos como Trissolcus basalis e Telenomus podisi em percevejo-marrom da soja. Há relatos de taxa de parasitismo de 60% para Trissolcus basalis e 80% para Telenomus podisi.
As vespas de ovos possuem controle em diversos percevejos como N. viridula, E. heros, Dichelops melacanthus, P. guildinii, Thyanta perditor e Acrosternum sp. (EMBRAPA, 2000).
Além dos parasitoides de ovos, há também controle biológico de adultos através de vespas Hexacladia smithii em adultos do percevejo-marrom e mosca de Trichopoda nitens em adultos de N. viridula (EMBRAPA, 2000). Entretanto, o uso ainda não está disponível comercialmente em larga escala (EMBRAPA, 2019).
Figura 7. Ciclo de desenvolvimento de Telenomus podisi em ovos de percevejo

Controle Químico
O controle químico é a principal ferramenta para controlar percevejos em soja (EMBRAPA, 2019). A utilização de produtos químicos deve ser iniciada apenas no momento que houver vagens na soja (início do R3), pois antes desse estágio o percevejo-marrom não possui potencial de causar danos à cultura (CORRÊA-FERREIRA, 2005). Segundo o mesmo autor, o controle de E. heros e P. guildinii até o período de florescimento não é justificado.
Para controle desses sugadores, existem cerca de 53 produtos para controle do percevejo-marrom da soja (AGROFIT, 2020). O principal problema é que existem apenas 3 grupos químicos distintos: organosforados (acefato, malationa, clorpirifós e fenitrotiona), neonicotinoides (acetamiprid, dinotefuran, imidicloprid e thiametoxam) e piretroides (alfa-cipermetrina, bifentrina, beta-ciflutrina, cipermetrina, esfenvalerato, fenpropatrina, lambda-cialotrina e zeta-cipermetrina). Acarretando em aplicações frequentes dos mesmos mecanismos de ação por meio de pulverizações (PROMIP, 2019).
De acordo com VICENSI (2017), a mistura de neonicotinoide + piretroide possui o melhor custo benefício entre os produtos testados, apresentando controle satisfatório dos insetos pragas. SUGAYAMA (2017), relatou que o controle de percevejo E. heros foi de 100% em aplicações com as combinações de neonicotinoides + piretroides. Por fim, MOREIRA (2012), também obteve eficiência de controle de 80% com a mistura para controle de percevejo-marrom em soja. Essa mistura possui registro para controle de Anticarsia gemmatalis, Nezara vidirula, Piezodorus guildinii, Euschistus heros, Bemisia tabaci e Diabrotica speciosa na cultura da soja.
Ainda, em relação ao percevejo-marrom, relata-se diversos casos de elevada tolerância a alguns inseticidas. Dessa forma, torna-se imprescindível a utilização de cultivares tolerantes como ferramenta de controle dos sugadores.
De acordo com estudos da Rede de ensaios que é gerida pela Embrapa Soja e pela TAGRO – Tecnologia Agropecuária (composta por pesquisadores de instituições das diversas regiões produtoras de soja do Brasil), testou-se diversos produtos e foram divulgados os dados dos 50% melhores no controle de percevejo-marrom.
Tabela 1. Produtos e doses estudados pela Rede de ensaios cooperativos de inseticidas para controle de percevejo-marrom em soja. Safra 2018/19
Pode-se notar que os produtos que contêm acefato (Perito, Racio e Orthene) possuem melhor eficiência de controle sobre adultos que ninfas grandes. Já os produtos como Sperto, Talisman e PNR1 (lambda-cialotrina +imadacloprido) possuem melhor eficiência de controle sobre ninfas que em adultos.
Figura 8. Frequência entre os 50% dos melhores produtos. Safra 2018/19.
ÁVILA et al. (2019), avaliaram a partir de seu trabalho que os melhores inseticidas e suas respectivas doses (g i.a.ha -1) foram: imidacloprido + bifentrina (75,0 + 15,0), thiametoxam + lambdacialorina (35,25 + 26,5); e imidacloprido + betaciflutrina (100,0 + 12,5). Estes são os que proporcionaram maior eficiência de controle de adultos + ninfas grandes de E. heros.
Todos os ingredientes ativos são pertencentes aos grupos químicos neonicotinoides + piretroides, respectivamente.
OLIVEIRA et al. (2014), relataram que quando há mais que três percevejos.m-1, as misturas dos mesmos produtos referidos anteriormente (Bifentrina + Imidacloprido, Lambdacyhalotrina + Tiametoxan e Betaciflutrina + Imidacloprido), apresentaram controle de percevejo-marrom menor que 80%.
Veja também: Quantos dias vive um percevejo?
TECNOLOGIA BLOCK
Segundo o líder do programa de melhoramento genético de soja da EMBRAPA, pesquisador Carlos Arrabal Arias, a Tecnologia Block aumenta a proteção das lavouras aos insetos que sugam as vagens. Entretanto, a tecnologia não descarta a utilização de inseticidas, apresentando maior tolerância aos sugadores (EMBRAPA, 2019).
Esta ferramenta é de fundamental importância para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Além disso, de acordo com Arias, possui moderada resistência ao nematoide de galha Meloidogyne javanica e resistência às principais doenças da soja (cancro da haste, mancha olho-de-rã e podridão radicular de fitóftora). A primeira cultivar de soja com a Tecnologia Block é a BRS 1003IPRO indicada para os estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O pano-de-batida é a melhor ferramenta para a tomada de decisão na cultura da soja. Deve-se realizar o monitoramento semanalmente e, no período reprodutivo, intensificar o monitoramento dos sugadores. Aliado a isso, é importante saber identificar as fases de desenvolvimento do sugador, para contabilizar as ninfas de 3°, 4° e 5° instares juntamente com os adultos.
O manejo deve seguir uma linha que inclua as técnicas do MIP, como o controle biológico, cultivares tolerantes, racionalidade no uso de princípios ativos, aplicação de produtos que possuam seletividade aos inimigos naturais e considerar o nível de ação para iniciar o controle.
Por fim, realizar as aplicações químicas apenas quando houver as vagens na cultura (após R3), pois os danos anteriormente a esse estágio não são significativos.
Referências:
AEGRO. PERCEVEJO MARROM: 7 ESTRATÉGIAS DE CONTROLE NA SOJA. Disponível em: < https://blog.aegro.com.br/percevejo-marrom/>. Acesso em: 15.03.2020
AGEITEC. Complexo de percevejos sugadores de grãos. Disponível em: <https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/soja/arvore/CONT000fznzu9ib02wx5ok0cpoo6auodk2cy.html>. Acesso em: 15.03.2020
AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: < http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 10.03.2020
ÁVILA, Crébio José; CAVALHEIRO, Bruna Mandryk; DA SILVA, Ivana Fernandes. Eficiência de inseticidas no controle de Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae) na cultura da soja. In: Anais do Congresso Brasileiro de Fitossanidade. 2019.
CORRÊA-FERREIRA, B. S. Suscetibilidade da soja a percevejos na fase anterior ao desenvolvimento das vagens. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 40, n. 11, p. 1067-1072, 2005.
CORRÊA‐FERREIRA, Beatriz S.; DE AZEVEDO, Joacir. Soybean seed damage by different species of stink bugs. Agricultural and Forest Entomology, v. 4, n. 2, p. 145-150, 2002.
EMBRAPA. Eficiência de inseticidas no controle do percevejo-marrom (Euschistus heros) em soja, na safra 2018/2019: resultados sumarizados de ensaios cooperativos. Circular técnica 154, Londrina – PR, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/205139/1/CT1543.pdf>. Acesso em: 15.03.2020
EMBRAPA. Embrapa lança Tecnologia Block de tolerância a percevejos na soja. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/44394590/embrapa-lanca-tecnologia-block-de-tolerancia-a-percevejos-na-soja >. Acesso em: 15.03.2020
EMBRAPA. O controle biológico dos percevejos e sua aplicação no Mip-Soja. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105491/1/ID-1791.pdf>. Acesso em: 15.03.2020
FRANCO, R. G. Percevejo na Cultura da Soja. Informativo Técnico Nortox. Edição 04, janeiro 2018
KOPPERT. Podisibug – Micro-Vespa Parasitóide Telenomus podisi. Disponível em: < https://www.koppert.com.br/podisibug/ Data de acesso: 10.03.2020
MOREIRA, Suélen Cristina da Silva. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE PERCEVEJO MARROM, EUSCHISTUS HERUS (FABRICIUS) (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE), NA CULTURA DA SOJA. 2012. 14 f. TCC (Graduação) – Curso de Biotecnologia, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2013. Disponível em: <https://dspace.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/123456789/526/1/SUELENMOREIRA.pdf>. Acesso em: 10.03.2020
OLIVEIRA, J.F.; PEREIRA, C.;RODRIGUES, L.A.; CADAMURO,M.; TOMQUELSKI, G.V. Efeito de alguns inseticidas em altas populações de Euschistus heros na cultura da soja. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA, 34., 2014, Londrina. Resumos expandidos… Londrina: Embrapa Soja, 2014. p.73-76. (Embrapa Soja. Documentos, 353).
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VICENSI, T. R. APLICAÇÃO DE INSETICIDAS PIRETROIDES + NEONICOTINOIDES PARA CONTROLE DE Euschistus heros PARA CULTURA SOJA. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – SETOR PALOTINA, 2017. Disponível em: < https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/62239/tcc%20pronto%202112.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 10.03.2020
Redação: Equipe Mais Soja.
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