Todos querem uma cota da cota de importação de trigo sem tarifa. O tema foi debatido no painel “Visão Internacional – EUA, Argentina, Paraguai, Rússia e Brasil”, realizado no 26o Congresso Internacional da Indústria do Trigo, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), em Campinas (SP).
A conversa contou com representantes de cada país e foi moderada pelo presidente executivo da entidade organizadora, Rubens Barbosa. Defendendo seus interesses, os palestrantes de Argentina, Rússia e Estados Unidos apresentaram suas visões e contrapuseram colocações dos demais.
O presidente da U.S. Wheat, Vince Peterson, disse que os EUA vão trabalhar duro por uma boa parte da cota de 750 mil toneladas livre de impostos. Ele observa que o produto norte-americano se destina ao Norte e Nordeste do Brasil, principalmente, “onde praticamente todo o trigo utilizado nos moinhos é estadunidense”. Nos últimos dez anos, os Estados Unidos respondem por 85% das importações brasileiras de trigo de fora do Mercosul.
Peterson lembra que entre os anos de 1960 e 1987, os EUA responderam por cerca de 50% das importações brasileiras de trigo. Ele disse que, recentemente, o país negociou com o então embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, a implementação de uma cota sazonal.
“Os Estados Unidos têm interesse em retomar essa relação antiga com o Brasil. No entanto, voltar àqueles percentuais de participação seria muito ambicioso. Na época a Argentina não era tão grande exportadora e os EUA tinham mais trigo disponível”, lembrou.
“Se tivéssemos o acesso livre de impostos que os fornecedores do Mercosul têm, o comércio seria muito mais equilibrado do que é agora. Os EUA conseguiriam vender mais e a Argentina venderia menos. Eles têm vários mercados. E o mercado global está grande e vai crescer ainda mais. Há espaço para todo mundo”, pontuou. “Poderíamos ser um fornecedor consistente de 1 milhão de toneladas ao ano para o Brasil. Talvez, por volta de 1,5 milhão”.
EUA x Argentina
O dirigente norte-americano disse que a constituição de seu país impede a taxação sobre exportações de quaisquer produtos de quaisquer estados, enquanto a Argentina taxa as exportações de trigo em 7%. “Das 14,5 milhões de toneladas exportadas, 1 milhão representam os impostos”, disse.
Segundo o subsecretário de mercados agropecuários do Ministério da Agroindústria da Argentina, Jesús Silveyra, Peterson estaria equivocado, pois a taxa não afeta os preços no FOB. “O exportador desconta essa taxa do que ele paga ao produtor. Então, quem termina pagando essa taxa é o produtor”, disse. “Eles [os estadunidenses] sempre vão querer uma porção do mercado de trigo. Querem tirar da Argentina essa parte do mercado”, acusou.
Peterson e Silveyra concordaram, porém, num ponto: a cota livre de imposto não dará grande vantagem aos Estados Unidos. “Falo em termos de acesso ao mercado em relação aos concorrentes. A taxa será zero para EUA, Canadá, Rússia e quem mais estiver interessado”, disse o presidente da U.S. Wheat. “A vantagem será dos moinhos brasileiros que terão o poder de decidir, tornando mais justa a competição”, concluiu.
Silveyra observou que a chegada norte-americana é maior no norte do Brasil e não acredita que ela irá crescer muito no restante do território. “Vale lembrar que a cota não é só para os Estados Unidos. A Argentina pode se beneficiar também”, salientou.
Rússia x Argentina
Quem também quer uma parcela dessa cota é a Rússia. O diretor da Sodrugestvo – companhia agroindustrial russa –, Bart Swankhuizen, acredita que o país deve pegar uma parte da cota, mas que esta não deve ser muito grande. “Tudo depende dos preços dos Estados Unidos, do Canadá e da Rússia, bem como da qualidade que os moinhos vão exigir sob esta cota”, observou.
Swankhuizen não crê que a Rússia vai ser um grande exportador de trigo ao Brasil enquanto o Mercosul existir, devido à taxação de 10% sobre o grão de fora do bloco. “Vai ser difícil de competir”, ainda que os preços de FOB russos e argentinos sejam similares, segundo ele. “O Mercosul é injusto. Os moinhos pagam mais do que deveriam e a Argentina eleva preços a níveis que tornariam mais vantajoso importar de fora do bloco, não fosse a taxa”.
Na edição de 2018 do Congresso, o dirigente da companhia russa criticou o trigo argentino e a postura do país na política de preços. Ele disse que a qualidade do grão argentino é inferior à do russo. Neste ano, reiterou sua posição. Jesús Silveyra, rebateu dizendo que, nos anos 1980, a Argentina fornecia trigo à Rússia, atestando sua qualidade. Ele disse, ainda, que se os membros do Mercosul quiserem continuar com o bloco, devem cumprir as regras impostas entre os países.
Também participaram do painel o superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti, e o presidente da Central Nacional de Cooperativas do Paraguai (Unicoop) Rubén Zoz.
Fonte: Agência SAFRAS