Solos tropicais muito intemperizados e naturalmente pobres em nutrientes e de baixa CTC. Estes são, de acordo com o Éder Martins, pesquisador da Embrapa Cerrados, e um dos maiores especialistas em remineralização no país, os ambientes nos quais o uso de remineralizores de solo (REM) se torna mais eficiente. Tais condições estão presentes em 99% dos solos utilizados para a agricultura no Brasil.

Os remineralizadores de solos, também conhecidos como pó de rocha, são fontes de nutrientes e também condicionadores de solos. Atuam de renovação do processo de formação de solos a partir do uso de minerais primários de rochas silicáticas. Seu uso gera minerais secundários com elevada capacidade de troca de cátions, elevada superfície específica e geração de estruturas de solo com acumulação de carbono estável.

“Os REM podem ser considerados a base mineral para a renovação tecnológica da agricultura tropical, a Revolução Sempre Verde (RSV). O tripé REM — insumos biológicos e rotação de culturas e plantas de cobertura — constitui o conjunto de ferramentas da RSV. Esses novos insumos minerais apresentam potencial de ocorrência a menos de 300 km de todas as áreas agrícolas e seus principais objetivos são aumentar a eficiência do uso de nutrientes nos sistemas produtivos, contribuir com o sequestro de carbono e a formação de agregados estáveis no solo. Todos esses processos são baseados em insumos regionais e locais integrados por processos que imitam a natureza, o que diminui a dependência de pacotes tecnológicos e, consequentemente, dos custos de produção”, resume o Martins.

Adoção dos REM

De acordo com Carlos Pitol, ex-pesquisador da Fundação MS, o uso dos REM na agricultura vem, de forma crescente, despertando o interesse de produtores. “Há muitos fatores favoráveis sustentando à adoção da tecnologia, como o aumento dos resultados positivos e de experiências bem sucedidas, comprovando o que a pesquisa vem falando da tecnologia; produtores e técnicos, procurando informações sobre o assunto; aumento do número de empresas e do volume de produto, disponibilizando pó de rocha próximo do produtor, barateando o custo e facilitando que os agricultores passem a testar o produto; a influência positiva do pó de rocha, melhorando a eficiência dos fertilizantes e diminuindo os custos com a fertilidade e mantendo a produtividade; a influência positiva sobre os produtos biológicos e microorganismos benéficos, contribuindo para a sua melhor eficiência, além do fato de ser um produto natural, o que, por si só, representa um forte apelo”, explica Pitol.

Martins acrescenta ainda que a eficiência de uso de nutrientes no processo de manejo com fontes convencionais é muito baixa. “Boa parte do fósforo aplicado é fixado no solo, enquanto o potássio pode ser lixiviado e o nitrogênio, lixiviado e volatilizado. Não podemos admitir esse desperdício de recursos naturais bilionários todos os anos, que dependemos de mais de 83% desses nutrientes que são importados do hemisfério norte. O principal efeito observado na prática de uso de REM é o aumento da eficiência de uso de nutrientes. É preciso salientar que os REM não são substitutos de fertilizantes, mas são aliados no aproveitamento destes. Cada tipo de REM pode fornecer alguns tipos de nutrientes e também melhorar as características físicas, químicas e biológicas dos solos. Os agricultores percebem o aumento da disponibilidade de fósforo e de micronutrientes, ao mesmo tempo em que aumenta o efeito residual de todos os nutrientes dos REM e dos outras fontes aplicadas. É constatado o aumento da CTC de origem mineral e associada à matéria orgânica. Isso somente é possível com a ação dos outros dois tripés: a manutenção da biota com o uso de insumos biológicos e o manejo com rotação de culturas, plantas de cobertura e Plantio Direto”, afirma Éder Martins.

Elevados custos de produção

Além das questões agronômicas favoráveis, o argumento mais forte à adoção dos pós de rocha é, de fato, financeiro. Maurício Oliveira, coordenador de Agricultura Conservacionista do Ministério da Agricultura, explica que, preocupado com o elevado custo de produção no Brasil, principalmente do milho e da soja, o Mapa vem incentivando há alguns anos pesquisas em torno do assunto. Os trabalhos resultaram inclusive na inclusão dos remineralizadores na categoria de insumos agrícolas pela Lei 12.890/2013 e nas Instruções Normativas nº 5 e nº 6 do Mapa, publicadas em 10 de março de 2016, que estabelecem especificações e garantias, as tolerâncias, o registro, a embalagem, a rotulagem e a propaganda dos remineralizadores destinados à atividade agrícola.

“Existem questões como, por exemplo, os altos teores de fósforo retidos no solo e que os remineralizadores são capazes de liberar. A reação desse insumo exige uma intensa atividade biológica nesse solo, algas fungos líquenes, micorrizas, adicionando-se ainda microorganismos eficientes como a bouveria e os metarrizios. Quando se tem uma intensa microvida no solo, a pressão de pragas e doenças de plantas reduz significativamente. Os pós de rochas são fontes de silício, um mineral que confere às plantas alta resistência contra pragas e doenças. É também uma fonte de potássio, que o Brasil é altamente dependente de importação – o que eleva os custos de produção para o agricultor – além de ser fonte de inúmeros microelementos nutrientes”.

Ainda segundo Oliveira, a pesquisa e a experiência do agricultor têm consistentemente demonstrando a viabilidade econômica desse insumo e o que é mais importante, o agricultor está satisfeito com os resultados obtidos nas fazendas. A procura por pó de rocha é muito maior do que a oferta. “Nesse sentido, o Ministério está atento para com a qualidade, com as especificações técnicas dos produtos ofertados no mercado e assim por diante. Temos sim, que intensificar as pesquisas e as validações regionais dos diversos materiais com potencial para atuar como remineralizadores de solo para que, ao final, estabeleçamos as dosagens ideias para cada tipo de solo e cultura, e outros estudos com relação à sanidade, e as respostas dos diferentes materiais as diferentes culturas”, lembra.

Associação microbiológica benéfica

Dois grupos de rochas silicáticas podem ser destacados: o das rochas ricas em potássio, e o da rochas ricas em cálcio e magnésio. Além de disponibilizar os nutrientes indicados, essas rochas fornecem silício, outros micronutrientes, e novas fases minerais formadas por biointemperismo no solo pela interação entre as raízes das plantas e os micro-organismos associados. Essas novas fases apresentam elevada superfície específica e elevada CTC. Martins explica que, desta forma, as raízes são estimuladas a se desenvolverem desde o início da germinação, aumentando a sua quantidade e a intensidade de produção de exsudatos, o que estimula uma associação microbiológica benéfica. Esse processo aumenta a resiliência das culturas a estresses biofísicos. Os solos são mais estruturados e aumentam a eficiência de uso da água.

Adoção

Os estudos existentes mostram que, geralmente, a viabilidade econômica de uso é de até 300 km de distância entre a mineração e a área agrícola. “Os estudos realizados de parceria entre a Embrapa e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) mostram que todas as áreas agrícolas podem ser beneficiadas por fontes potenciais que ocorrem a menos de 300 km de distância. Mostrou-se, também, que 20% do país apresenta potencial de ocorrência de REM. Além de buscar os REM mais próximos da área agrícola, deve-se levar em consideração em qual grupo pertence, quais nutrientes podem ser disponibilizados e como devem ser associados com outros insumos. De qualquer maneira, é imprescindível que o solo apresente uma atividade biológica elevada para que seja possível o processo de biointemperismo na escala de tempo agronômica”, observa o especialista.

Fonte: FEBRAPDP, Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação, Redação FEBRAPDP  

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