A fase juvenil de uma planta é o período entre a emergência e o início da indução fotoperiódica, ou seja, durante a fase juvenil a planta não responde ao fotoperíodo. Assim, um período juvenil longo (PJL) é uma característica para retardar o início do florescimento (Hartwig & Kiihl, 1979; Kiihl & Garcia, 1989).

A soja tem alta sensibilidade às mudanças de latitude ou data de semeadura, onde por muito tempo foi o grande limitador para que a cultura fosse cultivada em regiões tropicais, onde o fotoperíodo médio durante a estação de crescimento da soja é menor do que em regiões temperadas e subtropicais.

O menor fotoperíodo, das regiões tropicais ou de semeaduras de setembro ou janeiro em regiões subtropicais, induz o florescimento precoce, causando reduções na estatura das plantas e na produtividade, e em alguns casos inviabilizando o cultivo.

A solução para aumentar a fase vegetativa da cultura veio na década de 70 com a introdução de cultivares com genes de juvenilidade longa (Hartwig & Kiihl, 1979).

Nestas cultivares, a taxa de desenvolvimento durante a fase semeadura-florescimento é menor (florescimento tardio) que nas cultivares sem os genes de juvenilidade longa quando a planta está submetida a um fotoperíodo próximo ou abaixo do ótimo (Sinclair et al., 2005).

O controle do florescimento, e consequentemente, do porte da planta, representou um fator básico a ser considerado no melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares menos sensíveis às variações de data de semeadura e locais (latitude).

Para entender o efeito do PJL, também, no Sul do Brasil, um trabalho foi conduzido no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil, durante a safra 2017/18, com oito épocas de semeadura: 05/08/2017, 02/09/2017, 17/10/2017, 21/11/2017, 19/12/2017, 16/01/2018, 16/02/2018 e 22/03/2018.

Foram semeadas cultivares de soja que representam os principais grupos de maturidade relativa (GMR): GMR 4.8 (NS 4823 RR – sem PJL), GMR 5.5 (BMX Elite IPRO – sem PJL), GMR 6.2 (TMG 7062 IPRO – com PJL), GMR 6.8 (BMX Ícone IPRO – com PJL) e GMR 7.8 (TEC 7849 IPRO – sem PJL).

Desse modo, quanto maior o GMR, maior vai ser a duração do ciclo.

Na Figura 1, painel A (semeadura em outubro), a duração do ciclo vai reduzindo conforme a redução do GMR. Porém no painel B (semeadura em agosto) isso não ocorreu, na qual dois GMRs menores tiveram um ciclo maior. Essa alteração na duração do ciclo está relacionada ao PJL nas cultivares com GMR 6.2 e 6.8, que tiveram um atraso no florescimento devido ao período inicial ser sem indução.

Figura 1. Duração do ciclo de desenvolvimento, em dias, de cinco cultivares de soja semeadas em outubro (A) e agosto (B) em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Fonte: Equipe FieldCrops.

O mês de outubro na região Sul do Brasil é definido como período preferencial de semeadura visando atingir altas produtividades (Zanon et al., 2018). De acordo com Zanon et al. (2016), o PJL retarda o início do florescimento, mesmo quando a indução do fotoperíodo é máxima.

Na Figura 2, é possível observar que a antecipação da semeadura para o mês de setembro e agosto reduz a fase vegetativa nas cultivares sem PJL mais que nas cultivares com PJL.

Do ponto de vista prático, para semeaduras antecipadas, em áreas que tem como objetivo realizar duas safras de soja no verão, é indicada a semeadura de uma cultivar com PJL, para que as plantas atinjam maior número de nós férteis e maior estatura, que permita a colheita mecanizada com eficiência e com boa produtividade.

Durante os meses de outubro, novembro e dezembro, não houve diferença na duração da fase de desenvolvimento vegetativa entre cultivares com e sem PJL. A partir do mês de janeiro, a redução da fase de desenvolvimento vegetativa foi maior nas cultivares sem PJL. De acordo com esse estudo de caso, foi possível observar que o PJL aumenta a plasticidade da cultura da soja em semeaduras realizadas fora do período recomendado.

Figura 2. Redução na duração da fase vegetativa de quatro cultivares de soja semeadas de agosto a março em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Fonte: Equipe FieldCrops.

Conclui-se que cultivares com PJL apresentam menor redução do potencial produtivo em comparação a cultivares sem o PJL em épocas de semeaduras precoces e tardias. Além disso, o PJL aumentou a plasticidade e a estabilidade da cultivar de soja com PJL. Essas características são desejáveis para lavouras semeadas em condições não ótimas de cultivo como, por exemplo, o cultivo da soja safrinha no RS ou a antecipação da semeadura para antes de outubro (Figura 3).

Figura 3. Produtividade de cinco cultivares de soja semeadas em agosto (A), janeiro (B) e fevereiro (C) em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Fonte: Equipe FieldCrops.
Referências Bibliográficas

ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022



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