O sistema de produção soja-milho é cada vez mais difundido em regiões agrícolas onde as condições climáticas e ambientais permitem o cultivo de mais de uma cultura de verão por safra. Com o surgimento de cultivares de soja de ciclo precoce e super precoce, a adoção do milho segunda safra (milho safrinha) passou a aumentar, possibilitando a otimização do uso da terra em diversos ambientes agrícolas.
No entanto, assim como na soja ou milho safra, na cultura da safrinha também existe uma série de pragas que podem causar danos quantitativos e qualitativos à cultura. Contudo, pensando em um sistema soja-milho, o manejo de pragas é um pouco mais complexo, considerando que algumas pragas que acometem o milho, já estão presentes na lavoura no momento da semeadura, em função da presença na cultura anterior.
Uma dessas pragas é o percevejo barriga-verde (Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus). Conforme destacado por Saran (2008), o pico populacional dos percevejos em soja coincide com a maturação fisiológica da cultura (R7), período, em que, nem sempre o controle dessas pragas é realizado quando o foco da lavoura é a produção de grãos e não sementes.
Os percevejos remanescentes do cultivo da soja, se abrigam na palhada e/ou em plantas hospedeiras, permanecendo nas áreas de cultivo até o estabelecimento da cultura seguinte (safrinha). Sendo assim, os percevejos podem estar presentes no momento da implantação da cultura do milho, infestado a lavoura. O percevejo barriga-verde pode atacar o milho ainda no início do desenvolvimento da cultura, prejudicando o estabelecimento e produtividade da lavoura.
Figura 1. Dinâmica populacional do percevejo barriga-verde no sistema de produção soja-milho.

Os danos são decorrentes do processo de alimentação do percevejo, e variam de acordo com o nível de infestação e estádio em que a praga acomete a cultura. Se, no processo de alimentação, o meristema apical da planta for danificado, as folhas centrais da plântula murcham e secam, manifestando o sintoma denominado “coração morto”; pode ocorrer também o perfilhamento da planta, tornando-a improdutiva (Figura 2). Quando o meristema apical não é danificado, as primeiras folhas que se desenrolam do cartucho apresentam estrias esbranquiçadas transversais, muitas vezes com perfurações de halo amarelado, provenientes das punções que o inseto fez quando se alimenta na base da planta ainda jovem. Quando as folhas do cartucho não conseguem se desenrolar, conferem um aspecto de “encharutamento” da planta (Ávila, 2015).
Figura 2. Danos de percevejo em milho.

Figura 3. Danos característicos da ocorrência do percevejo barriga-verde no milho.

As perdas de produtividade podem variar em função do período em que a praga acomete o milho. Conforme observado por Duarte; Ávila; Santos (2015), analisando os danos e nível de dano econômico do percevejo barriga-verde no milho, as maiores perdas de produtividade são observadas quando o percevejo infesta a cultura nos períodos iniciais do seu desenvolvimento de V1 a V3. Além disso, considerando a produtividade média de 6.586 kg-1 e o custo de aproximadamente R$ 102,00 por hectare, o nível de dano econômico da praga, obtido pelos autores foi de 0,8 percevejo m–².
Conforme observado por Duarte; Ávila; Santos (2015), a medida em que há o aumento populacional da praga, tem-se a redução da produtividade do milho, principalmente quando acomete o milho no período crítico da cultura a praga (VE a V3). Com isso em vista, estabelecer a cultura do milho no “limpo”, sem a presença da praga, e/ou adotando medidas de manejo que contribuam para reduzir os danos dos percevejos no milho é essencial para reduzir perdas produtivas.
Uma dessas medidas é o tratamento de sementes com inseticidas apropriador e registrados para o controle do percevejo barriga-verde no milho. Considerando que a fase inicial da cultura é a mais sensível ao ataque da praga (figura 4), fornecer proteção via tratamento de sementes com inseticidas é essencial para o controle dos percevejos e redução dos danos nas plantas.
Figura 4. Fases do ciclo da cultura do milho em que ocorrem ataques por pragas.

Sob elevadas infestações, quando o tratamento de sementes não é suficiente para o controle eficiente da praga, pode ser necessário realizar o controle químico dos percevejos via pulverização de inseticidas. Conforme orientações de manejo, o nível de controle do percevejo barriga-verde na cultura do milho é de 0,5 percevejos por m² ou 1 percevejo a cada 10 plantas. Após o período sensível do milho ao percevejo barriga-verde (VE a V3), os danos em decorrência da incidência da praga não são expressivos para a cultura.
Atualmente, 61 produtos apresentam registro no Ministério da Agricultura e Pecuária para o controle do Diceraeus melacanthus na cultura do milho e 28 produtos estão registrados para o controle do percevejo Diceraeus furcatus. Os principais grupos químicos são: neonicotinóide, piretróide e os carbamato (Agrofit, 2024).
Veja mais: Culturas Bt e as principais pragas controladas
Referências:
AGROFIT. CONSULTA ABERTA. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA, 2024. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 30/01/2024.
ÁVILA, C. J. MANEJO INTEGRADO DAS PRINCIPAIS PRAGAS QUE ATACAM A CULTURA DO MILHO NO PAÍS. visão agrícola n. 13, 2015. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA_13_Protecao_plantas-artigo2.pdf >, acesso em: 29/01/2024.
DUARTE, M. M.; ÁVILA, C. J.; SANTOS, V. DANOS E NÍVEL DE DANO ECONÔMICO DO PERCEVEJO BARRIGA VERDE NA CULTURA DO MILHO. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.14, n.3, p. 291-299, 2015. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1050151/danos-e-nivel-de-dano-economico-do-percevejo-barriga-verde-na-cultura-do-milho >, acesso em: 30/01/2024.
GARCIA, A. N. COMO DEVEMOS REALIZAR O MANEJO DE PERCEVEJOS NO MILHO SAFRINHA? KWS Sementes, informativo Agroservice. Disponível em: < https://www.kws.com/br/media/download-informativo/kws_br_informativo_agroservice_percevejo_milhosafrinha.pdf >, acesso em: 29/01/2024.
SARAN, P. E. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PERCEVEJOS DA SOJA. FMC, 2008.
SENAR. GRÃOS: MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS (MIP) EM SOJA, MILHO E SORGO. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, 2018. Disponível em: < https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/181-GR%C3%83OS.pdf >, acesso em: 30/01/2024.