Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações da soja em Chicago continuaram subindo nesta semana, buscando se posicionar para o relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado no dia 12/05. Após este dia, o mercado fez importante ajuste técnico, com as cotações recuando fortemente. Assim, após atingirem a US$ 16,60/bushel para o primeiro mês cotado, em 12/05, o fechamento do dia seguinte ficou em US$ 16,12, contra US$ 16,05 uma semana antes, registrando quase um limite de baixa no dia. Registre-se que o farelo, durante a semana, bateu em US$ 450,90/tonelada curta, sua mais alta performance desde meados de janeiro, enquanto o óleo bateu em 68,66 centavos de dólar por librapeso, se mantendo nas mais altas cotações de sua história. Após isso, os dois subprodutos igualmente recuaram na esteira do ajuste técnico do grão.
Quanto ao relatório do USDA, o mesmo confirmou um aumento na safra estadunidense de soja, porém, manteve estoques finais muito baixos para o ano de 2021/22 nos EUA. Os principais números para este ano 2021/22 foram:
- A produção dos EUA, para esta safra, está estimada em 119,9 milhões de toneladas, após pouco mais de 112 milhões no ano anterior;
- Os estoques finais dos EUA ficariam em apenas 3,81 milhões de toneladas, contra 3,25 milhões neste ano anterior;
- O preço médio aos produtores de soja estadunidenses sobe para US$ 13,25/bushel, contra US$ 11,25 um ano antes e US$ 8,57/bushel dois anos antes;
- A produção mundial de soja sobe para 385,5 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais mundiais alcançariam 91,1 milhões de toneladas, recuperando quase cinco milhões de toneladas em relação ao ano anterior;
- A produção brasileira está projetada em um novo recorde, podendo atingir a 144 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina ficaria em 52 milhões;
- As importações da China somariam 103 milhões de toneladas, contra as projeções de 100 milhões para o corrente ano.
O principal fator altista aqui está nos estoques finais dos EUA. O restante das informações fica no terreno neutro a baixista. Obviamente, tal quadro somente se confirmará diante de clima normal nos EUA em particular. A notar igualmente uma redução nos estoques finais mundiais de óleo de soja (4,09 milhões de toneladas, contra 4,46 milhões um ano antes), mesmo com aumento na produção mundial do subproduto, a qual passaria para 62,25 milhões de toneladas, contra 60,49 milhões um ano antes).
Dito isso, em termos mais conjunturais, o plantio da soja nos EUA avança muito bem, tendo chegado a 42% da área até o dia 09/05, sendo que a média histórica para o período é de 22%. Por outro lado, 10% das lavoura semeadas já germinaram, contra 4% na média.
Já as exportações de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 06 de maio, somaram 236.918 toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. No acumulado do ano comercial atual o volume soma 55,7 milhões de toneladas, ou seja, 90% acima do que o registrado um ano antes nesta data.
Por sua vez, as importações de soja por parte da China aumentaram 11% em abril, alcançando um total de 7,45 milhões de toneladas no mês. O aumento se deu em função de cargas que chegaram com atraso procedentes do Brasil. Espera-se números mais elevados para maio.
Nos primeiros quatro meses do ano a China comprou um total de 28,63 milhões de toneladas de soja, registrando um aumento de 17% sobre igual período do ano anterior. Em março as margens de esmagamento recuaram devido ao novo surto de peste suína africana naquele país, assim como o aumento no uso do trigo nas rações animais em substituição parcial ao milho, devido ao alto preço deste último. Segundo os industriais chineses, eles ainda estão perdendo dinheiro com o esmagamento de soja, pois o preço do grão está muito alto. Enfim, a China comprou ainda 3,8 milhões de toneladas de óleos vegetais em geral, no primeiro quadrimestre deste ano, o que significa um aumento de 47,4% sobre o mesmo período do ano passado.
Aqui no Brasil, com o Real chegando a R$ 5,23 em alguns momentos da semana, e diante de prêmios ainda negativos na maioria dos portos, os preços médios se estabilizaram e até recuaram um pouco. O que segurou os mesmos foi a performance altista em Chicago. Desta forma, a média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 166,65/saco, enquanto nas demais praças nacionais o produto girou entre R$ 163,00 e R$ 167,00/saco.
Enquanto isso, a comercialização da futura safra (2021/22), a ser plantada somente em setembro no Mato Grosso, maior produtor nacional, avançou para 27,7% do total esperado naquele Estado, ficando acima da média histórica para esta época, a qual é de 14,9%. Mas, na mesma época do ano passado as vendas antecipadas do Estado atingiam a 37,2% da produção esperada. Quanto a safra atual (2020/21) as vendas atingem a 83,5% da produção estadual, ficando acima da média histórica que é de 78,3% do total.
Quanto as exportações brasileiras de soja, o país teria exportado um total de 17 milhões de toneladas em abril, segundo o governo brasileiro, enquanto a Anec mantém o número de 15,6 milhões exportadas. Para maio, espera-se que as mesmas atinjam a 15,3 milhões de toneladas. O Brasil ainda deverá exportar 1,8 milhão de toneladas de farelo de soja em maio. Em maio de 2020 o país exportou 13,9 milhões de toneladas de grãos de soja e 1,77 milhão de toneladas de farelo segundo dados da Anec.
Enfim, destaque para recente estudo divulgado pela Embrapa sobre o uso de tecnologias sustentáveis na agricultura. Os mesmos geram economia de terras de cultivo de milhões de hectares. Somente para a soja tais tecnologias, que incluem sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, uso de bioinsumos incluindo controle biológico de pragas, entre várias outras, foi capaz de gerar uma economia de 71 milhões de hectares de áreas plantadas, o que corresponde à soma dos territórios de Irlanda e França.
O estudo, conduzido pela Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, contou com a participação de mais de 50 pesquisadores e analistas representando nove unidades de pesquisa da Empresa. Os dados, oriundos de pesquisas e estudos desenvolvidos ao longo das últimas décadas, geraram a publicação Tecnologias Poupa-Terra 2021, recém-lançada em comemoração ao 48º aniversário da Embrapa.
As tecnologias poupa-terra são aquelas adotadas pelo setor produtivo, de baixo ou alto custo, que permitem incrementos sustentáveis na produção total em uma mesma área e, graças ao seu uso, evita-se a abertura de novas áreas para produção agropecuária. Práticas conservacionistas, como o plantio direto, o manejo e a conservação do solo e dos recursos hídricos, podem ser caracterizadas como práticas poupa-terra, uma vez que aumentam a produtividade de modo sustentável, sendo que uma das principais vantagens das tecnologias poupa-terra é que atendem a produtores de todos os portes: pequeno, médio e grande.
Em termos gerais, segundo ainda a Embrapa, na safra de 2019/2020 foram produzidos 251 milhões de toneladas de grãos em uma área de 65,8 milhões de hectares. A contribuição da soja para esse montante foi de 120,9 milhões de toneladas em 36,9 milhões de hectares, o que representa uma produtividade de aproximadamente três quilos por hectare. A soja responde por 3,6% dos empregos gerados pelo agro no Brasil. Se comparar com a década de 1970, quando não havia a tecnologia existente hoje para produção de soja no Brasil, para manter esses índices de produtividade seria necessário expandir a área em 195%, ou seja, praticamente o triplo do que se tem hoje. Com a ciência e as tecnologias poupa-terra se conseguiu preservar uma área, portanto, de 71 milhões de hectares (cf. Embrapa in: Notícias Agrícolas).
Quer saber mais sobre a Ceema/Unijui? Clique na imagem e confira.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).