O nitrogênio é um dos nutrientes, se não o nutriente requerido em maiores quantidades pela cultura da soja. Estima-se que para produzir 1.000 kg.ha-1 de grãos, são necessários 80 kg.ha-1 de N. Embora essa demanda possa ser suprida por diferentes fontes, a principal delas é a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), que consiste na capacidade da soja em simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Bradyrhizobium, em fixar nitrogênio atmosférico (Denardin, 2006).
Embora em algumas ocasiões, essas bactérias já estejam presentes no solo, a quantidade delas nem sempre é suficiente para uma adequada simbiose visando suprir toda a necessidade de nitrogênio da planta de soja, sendo necessário assim, uma das alternativas é fornecer um maior número de bactérias fixadoras de nitrogênio através da inoculação da soja.
A forma mais usual de realizar a inoculação da soja é através do tratamento das sementes, adicionando inoculantes líquidos ou turfosos contendo as bactérias desejadas. Quando realizada a inoculação com inoculantes turfosos, deve-se utilizar uma substância adesiva recomendada pelo fabricante, ou mesmo uma solução açucarada a 10%, na dose de 300 mL/50 kg de sementes, para auxiliar na adesão do inoculante turfoso à semente (Nogueira & Hungria).
O tratamento de sementes pode ser realizado a nível de propriedade (On farm), ou a nível de industria (TSI), nesse ultimo, as sementes já são adquiridas tratadas pela industria, o que confere ao tratamento de sementes maior uniformidade de homogeneidade em relação a maioria dos tratamentos On farm. Junto ao Inoculante, é comum observar a adição de inseticidas, fungicidas, micronutrientes, aminoácidos e bioestimulantes ao tratamento de sementes.
Outra forma de realizar a inoculação da soja, é através do sulco de semeadura da soja, onde uma solução contendo o inoculante é depositada no sulco de semeadura, sobre as sementes, conferindo assim maior contato inoculante, semente, solo. Além disso, a prática permite maior ganho operacional e comodidade para realizar a inoculação da soja.
Mas qual a melhor forma de realizar a inoculação da soja visando maior nodulação? Sementes ou Sulco?
Avaliando a viabilidade da aplicação de inoculantes na cultura da soja, via semente e sulco de semeadura, em solo já cultivado ou não com soja, Vieira Neto et al. (2008) testaram oito tratamentos: (1) inoculação via semente (inoculante + fungicida + micronutriente); (2) sem inoculação (fungicida + micronutriente); (3) testemunha (semente pura, sem tratamento); (4) aplicação no sulco-dose 1 (dose do inoculante recomendada no sulco); (5) aplicação no sulco-dose 2 (duas vezes a dose recomendada no sulco); (6) aplicação no sulco-dose 3 (três vezes a dose recomendada no sulco); (7) sulco-dose 1 + inoculação via semente; e (8) adubação com N (200 kg ha-1 N) (Vieira Neto et al., 2008).
Os autores buscaram identificar a melhor forma de realizar a inoculação da soja em ambientes já cultivados e não cultivados com a oleaginosa, com base na resposta de variáveis como número de nódulos totais e número de nódulos viáveis, sendo essas, variáveis relacionadas a produtividade da cultura. Segundo Vieira Neto et al. (2008), para os tratamentos onde a inoculação ocorreu via sementes, foi utilizado inoculante turfoso contendo as estirpes de Bradyrhizobium elkanii SEMIA 587 e 5019, já nos tratamentos onde a inoculação ocorreu via sulco de semeadura, foi utilizado inoculante líquido com as estirpes de B. japonicum SEMIA 5079 e 5080.
Conforme resultados, Vieira Neto et al. (2008) destacam que em áreas com histórico de cultivo da soja, maiores respostas de aumento da nodulação foram observadas com o uso de inoculante líquido no sulco de semeadura, segundo os autores, isso se deve principalmente as melhores condições de ambiente para o desenvolvimento do Bradyrhizobium. Já com relação a áreas sem histórico de cultivo da soja, Vieira Neto et al. (2008) destacam haver maior número de nódulos quando aplicado inoculante turfoso associado a fungicidas e micronutrientes via sementes (tratamento de sementes).
Tabela 1. Número de nódulos totais e número de nódulos viáveis avaliados em raízes de soja, aos 75 dias após emergência, cujas sementes foram submetidas a diferentes tratamentos de inoculação, em área com histórico de vários anos de cultivo da soja e em área sem cultivo anterior com esta a cultura (Vieira Neto et al., 2008).

Fonte: Vieira Neto et al. (2008)
Os autores salientam que em áreas onde não há histórico de cultivo da soja, especialmente em sistema plantio direto, a ausência do equilíbrio desse sistema e de características que possibilitem a sobrevivência e desenvolvimento do Bradyrhizobium no solo, faz com que a inoculação via tratamento de sementes apresente melhores resultados de nodulação em comparação a inoculação no sulco de semeadura. Sendo assim, com base nos resultados apresentados por Vieira Neto et al. (2008), pode-se dizer que visando o maior número de nódulos da FBN, a inoculação via tratamento de sementes proporciona melhores resultados em áreas sem histórico de cultivo da soja, enquanto a inoculação via sulco proporciona melhores resultados em áreas com histórico de cultivo da soja.
Confira o trabalho completo de Vieira Neto et al. (2008) clicando aqui!
Referências:
DENARDIN, N. D. APLICAÇÃO DE INOPCULANTES DEFINE O SUCESSO DA NODULAÇÃO. VISÃO AGRÍCOLA, n. 5, 2006. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va05-solos08.pdf >, acesso em: 05/07/2021.
NOGUEIRA, M. A.; HUNGRIA, M. BOAS PRÁTICAS DE INOCULAÇÃO EM SOJA. 40ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul – Atas e Resumos. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126872/1/Boas-Praticas-de-Inoculacao.pdf >, acesso em: 05/07/2021.
VIEIRA NETO, S. A. et al. FORMAS DE APLICAÇÃO DE INOCULANTE E SEUS EFEITOS SOBRE A NODULAÇÃO DA SOJA. R. Bras. Ci. Solo, 32:861-870, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbcs/a/CyDQ8ybgrjyqzVHv4tWB9Jm/?lang=pt >, acesso em: 05/07/2021.