As cotações da soja, em Chicago, tomando o primeiro mês como referência, subiram um pouco nesta semana, com o fechamento desta quinta-feira (16) ficando em US$ 15,26/bushel, contra US$ 15,19 uma semana antes.

A seca na Argentina e no Rio Grande do Sul, apesar de algumas chuvas ocorridas nesta semana, continua deixando Chicago sob tensão. Neste sentido, considerando que a Argentina é o maior exportador mundial de farelo de soja, as cotações deste subproduto chegaram a bater em US$ 504,00/tonelada curta durante a semana, antes de recuarem para US$ 491,40 no fechamento do dia 16/02. O óleo de soja igualmente melhorou um pouco, batendo em 61,90 centavos de dólar por libra-peso neste mesmo dia.

Os níveis do farelo, atingidos por pouco tempo também em janeiro, são os mais altos dos últimos nove anos em Chicago.

Enquanto isso, os embarques de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 09/02, atingiram a 1,56 milhão de toneladas, ficando dentro da expectativa do mercado. Até este dia, no total do atual ano comercial, os EUA já embarcaram 39,5 milhões de toneladas, ou seja, 2% acima do que foi embarcado na mesma época do ano anterior. Quanto à produção de soja na Argentina, analistas privados locais avançam que a safra total do país poderá ficar em apenas 38 milhões de toneladas. Na província de Buenos Aires, grande parte das lavouras, por exemplo, tende a atingir uma produtividade máxima de apenas 30 sacos/hectare. (cf. Crop Tour Argentina 2023)

Por outro lado, na China, o governo local busca aumentar a produção local de soja em 2023, estimulando o plantio de variedades de alto rendimento. A ideia é fazer o mesmo com o milho e o trigo locais. De fato, a China vem tentando reduzir sua grande dependência para com a soja importada. Neste sentido, também está sendo estimulada a redução do farelo de soja na composição das rações animais chinesas. Uma realidade que o Brasil deve levar muito em consideração, pois a mesma tende a mudar o cenário do mercado mundial da oleaginosa nos próximos anos.

Por sua vez, no Brasil, os preços pouco se alteraram em relação a semana anterior. Com o câmbio permanecendo entre R$ 5,10 e R$ 5,20 em grande parte do período, a média gaúcha fechou a semana em R$ 164,91/saco, enquanto algumas praças praticavam R$ 163,00. No restante do país, as principais praças registraram preços entre R$ 145,00 e R$ 158,00/saco.

Dito isso, a colheita da soja no Brasil atingia a 17,4% da área no início da presente semana, contra 30% em 2022 e 20,3% na média histórica. O Mato Grosso havia colhido 44,1%; Rondônia 43%; São Paulo 19,6%; Goiás 18,5%; Mato Grosso do Sul, 7,5%; Bahia 11,2%; Paraná 5,2%; Tocantins 10,3%; Maranhão 5,2%; Piauí 4,8%; Minas Gerais 3,8%; Santa Catarina 2% e Pará 1,8%. (cf. Pátria Agronegócios) O Rio Grande do Sul ainda não iniciou a sua colheita, a qual será severamente frustrada novamente No caso do Mato Grosso, segundo o Imea local, a colheita está atrasada devido ao excesso de chuvas, pois no ano passado 60,5% das lavouras já estavam colhidas nesta época do ano.

Outrossim, o Rally da Safra no Brasil começa a diminuir as projeções do volume total a ser colhido no país, devido a forte quebra no Rio Grande do Sul. Agora o volume final total está estimado em 153 milhões de toneladas, sendo o mesmo ainda 18,4% acima do colhido no ano anterior. A produtividade média ficaria em 58,8 sacos/hectare no país. Já no Rio Grande do Sul as perdas ultrapassam a 5 milhões de toneladas (mais de 25% sobre o inicialmente previsto), não se descartando a possibilidade de a safra gaúcha perder um total de 10 milhões de toneladas, ficando em níveis próximos à frustrada safra do ano passado. (cf. Agroconsult)

Nesse caso, a produção total brasileira poderá recuar para níveis um pouco abaixo de 150 milhões de toneladas. Neste momento, a Aprosoja-RS estima uma colheita de 12,6 milhões de toneladas em relação ao previsto inicialmente. Isso equivale a uma quebra consolidada de 40% do esperado, lembrando que na safra anterior as perdas ultrapassaram os 50%, com o Estado gaúcho colhendo pouco mais de 9 milhões de toneladas. Em muitas regiões, caso de Soledade, as perdas chegam a 80% do esperado. O milho, por sua vez, vem apresentando produtividade média entre 50 a 60 sacos por hectare, contra até 200 sacos em épocas de safra cheia. Pelo sim ou pelo não, é o terceiro ano de quebra de safra de verão no Rio Grande do Sul, nos últimos quatro anos.

Em paralelo, no Paraná a colheita da soja chegava a 7% da área neste início de semana, contra 3% no ano passado e 10% em 2020, conforme o Deral. Já o plantio do milho segunda safra, no Paraná, teria chegado a 12% da área esperada. Enquanto isso, a colheita paranaense do milho de verão segue lenta, com apenas 7% da área colhida.

Por outro lado, segundo a Anec, a exportação brasileira de soja, em fevereiro, deverá atingir entre 7,6 e 9,4 milhões de toneladas. Já em milho, o país poderá atingir a 2,1 milhões de toneladas no corrente mês.

Enfim, a tendência geral no país é de preços ainda mais baixos, caso não haja desvalorização do Real nas próximas semanas. E isso se deve ao forte recuo dos prêmios. De fato, na medida em que a colheita da soja avança, problemas logísticos começam a surgir com mais intensidade no país. Isso faz os prêmios derreterem nos portos, prejudicando a formação dos preços aos produtores. Tomando Paranaguá como referência, nos últimos 30 dias, até o começo desta semana, os prêmios para o embarque fevereiro já registravam uma perda de 44 centavos de dólar/bushel, chegando a 9 centavos negativos, ou seja, a menos do que o valor do bushel praticado na Bolsa de Chicago. Os meses seguintes apontam para prêmios melhores do que os de março, mas ainda bem mais baixos do que os observados há um mês. Abril, maio, junho e julho estão com 20 centavos menor nos últimos 30 dias.

Além disso, o elevado custo do frete vem tirando renda dos produtores. Por exemplo, um trajeto entre Sorriso (MT) e o porto de Paranaguá PR), que custava entre R$ 350,00 e R$ 370,00 por tonelada, passou para algo entre R$ 500,00 e R$ 550,00 até o começo desta semana, chegando a valores entre R$ 510,00 a R$ 560,00 neste último dia 15/02. Em reais por saco, os custos do frete, que estavam variando de R$ 20,00 a R$ 22,00, já passam a um intervalo de R$ 30,00 a R$ 33,00 e podem chegar aos R$ 40,00, neste mesmo trajeto, no pico da colheita brasileira. (Cf. Brandalizze Consulting)

Hoje, aproximadamente 61,1% de todo o transporte de grãos no Brasil é feito pelo modal rodoviário, seguido pelo ferroviário, com 20,7%, e pelo aquaviário, com 13,6%, de acordo com números da Confederação Nacional dos Transportes.

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).



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