Algumas espécies de plantas daninhas apresentam uma grande capacidade reprodutiva, com elevado potencial em produzir sementes. Dependendo da espécie, a produção de sementes por planta pode chegar a 250.000, havendo relados na literatura de plantas com produção de sementes superior a 1 milhão, como é o caso do Amaranthus palmeri, popularmente conhecido como caruru gigante (Gazziero & Silva, 2017).
Assim como o caruru, diversas espécies daninhas do sistema de produção agrícola se reproduzem por sementes, as quais podem ser dispersas por distintos agentes dispersantes, dependendo das características das sementes. Essas sementes passam a integrar o banco de sementes do solo e podem permanecer viáveis por longos períodos, até que condições ideais de temperatura, umidade e luminosidade estimulem a germinação.
Sob condições favoráveis, essas sementes germinam e originam fluxos de emergência de plantas daninhas, que acabam infestando as culturas agrícolas. É importante destacar que algumas sementes apresentam particularidades quanto à exigência de luz para a germinação, sendo classificadas em três grupos: fotoblásticas positivas (necessitam de luz para germinar), fotoblásticas negativas (germinam na ausência de luz) e fotoblásticas neutras (germinam independentemente da luminosidade).
Nesse contexto, a cobertura do solo com palhada é uma das principais estratégias utilizadas para reduzir a germinação das sementes fotoblásticas positivas. A palhada na superfície do solo atua como uma barreira física, restringindo a chegada de luz no banco de sementes do solo. Esse fator é determinante para reduzir os fluxo de emergência de espécies que dependem de luz para germinar como a buva (Conyza sp.).
Segundo Yamashita & Guimarães (2011), além de temperatura e umidade, a germinação da buva é fortemente influenciada pela luminosidade, sendo que as sementes de Conyza canadensis e Conyza bonariensis germinação apenas na presença de luz. De acordo com Yamashita & Guimarães (2015) e corroborado por Rodrigues et al. (2024), o aumento da fitomassa seca/palhada na superfície do solo reduz substancialmente a germinação das sementes de buva (figura 1), independentemente da natureza da palhada (culturas de cobertura ou comerciais).
Figura 1. Emergência de plântulas de Conyza, sob quantidades crescentes de palha de milho.

O mesmo é válido para outras espécies daninhas consideradas fotoblásticas positivas. Estudos demonstram que em sistemas de produção em que prevalece a cobertura do solo, há uma redução acentuada das populações de planta daninhas, contribuindo para um melhor estabelecimento inicial da cultura no campo e também redução da matocompetição.
Figura 2. Densidade de plantas daninhas. A) Com pousio; e, B) Sem pousio (com palhada da cultura anterior).

Além de restringir a passagem de luz, a biomassa de algumas espécies vegetais utilizadas como plantas de cobertura pode conter substancias alelopáticas que afetam a germinação de sementes de plantas daninhas. Dentre as principais espécies com alelopatia conhecida que atuam inibindo a germinação de algumas plantas, destacam-se o azevém (Lolium multiflorum) (Moraes et al., 2009).
Como consequência da redução dos fluxos de emergência e da população de plantas daninhas, ocorre também menor produção e dispersão de sementes no banco de sementes do solo, o que contribui para o manejo dessas plantas no sistema de produção agrícola. Outra alternativa para reduzir o banco de sementes do solo é o controle químico com o emprego dos herbicidas pré-emergentes.
Os herbicidas pré-emergentes atuam diretamente no banco de sementes do solo, em sementes em processo de germinação. Ao inviabilizarem a germinação dessas sementes, esses herbicidas reduzem consequentemente os fluxos iniciais de emergência de plantas daninhas, reduzindo indiretamente a produção e dispersão de sementes por essas populações.
Pesquisas demonstram que quando aplicados de acordo com as recomendações técnicas da cultura, os herbicidas pré-emergentes reduzem substancialmente a emergência das plantas daninhas, afetando consequentemente a produção de sementes e aporte ao banco de sementes do solo.
Figura 3. Testemunha (a esquerda), tratamento com herbicidas pré-emergente (a direita) visando o controle do azevém em trigo.

De acordo com Pedroso; Avila Neto; Dourado Neto (2020), o controle dos fluxos de emergência das plantas daninhas é ainda superior quando os herbicidas pré-emergentes utilizados apresentam mais de um principio ativo ou mecanismo de ação em sua formulação, ampliando o espectro de ação no controle das populações infestantes.
Tabela 1. Percentagens de controle de caruru (Amaranthus spp.) registradas aos 39 dias após a pulverização do herbicida.

Veja mais: Importância da palhada na eficácia dos herbicidas residuais na soja
Com isso em vista, adotar estratégias de manejo que garantam boa cobertura do solo, associadas ao uso de herbicidas pré-emergentes (preferencialmente formulados com dois ou três ingredientes ativos como o ZethaMaxx®Evo) contribui de forma efetiva para reduzir os fluxos de emergência das plantas daninhas. Como resultado, diminui-se o número de indivíduos capazes de produzir sementes e reforçar o banco de sementes do solo, favorecendo o estabelecimento dos cultivos sucessores.
Referências:
GAZZIERO, D. L. P.; SILVA, A. F. CARACTERIZAÇÃO E MANEJO DE Amaranthus palmeri. Embrapa Soja, Documentos, n. 384, 2017. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1069527/1/Doc384OL.pdf >, acesso em: 02/09/2025.
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