A descoberta dos baculovírus está intimamente relacionada com o desenvolvimento da indústria da seda, produzida a partir dos casulos de Bombyx mori (bicho-da-seda). Assim como outras culturas agrícolas, a seda enfrentava uma série de problemas relacionados a doenças, e precisavam ser resolvidos para que a indústria prosperasse. Por volta de 1800 com a chegada da microscopia de luz, foram descobertos corpos de oclusão altamente refratáveis em formato de poliedro, e a doença ficou conhecida como poliedrose viral. Somente com a chegada da microscopia eletrônica que foram observados vírions em formato de bastão no interior do poliedro, e posteriormente o vírus foi nomeado baculovírus (ROHRMANN, 2013).
Os baculovírus são patógenos naturais utilizados na agricultura devido à sua alta especificidade de hospedeiro, segurança e facilidade de aplicação a campo. Possuem DNA dupla fita circular com tamanho de genoma variando de 80 a 180 mil pares de base. Esses vírus infectam a fase larval de lepidópteros (lagartas) e de alguns insetos da ordem Hymenoptera, vespas que possuem comportamento semelhante ao de lagartas nessa fase. Além disso, podem infectar também a fase larval de alguns dípteros (mosquitos) (JEHLE ET AL., 2006).
A infecção viral (Figura 1) inicia quando o inseto se alimenta dos poliedros virais que estão presentes naturalmente no ambiente ou que foram pulverizados (SOSÁ-GOMEZ et al., 2020). Mediante pH alcalino, o poliedro é dissolvido no intestino médio da lagarta e estabelece a infecção. Na fase tardia da infeção são produzidos novos poliedros. Ao ser infectada por baculovírus a lagarta tende a parar de se alimentar e move-se até o topo da planta, onde ocorre a morte do inseto. A lagarta vira um “saco de poliedros”, se liquefaz e libera o vírus novamente no ambiente (JEHLE et al., 2006; RORHMANN 2013).
O controle biológico com uso de vírus é uma ferramenta importante e pode servir como alternativa ao uso de inseticidas químicos no manejo de pragas (SZEWCZYK et al., 2006). O maior programa de controle biológico utilizando baculovírus foi desenvolvido no Brasil para o controle da lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis no início de 1980, sendo que o isolado viral utilizado foi denominado Anticarsia gemmatalis multiple nucleopolyhedrovirus isolado 2D (AgMNPV-2D) (SOSA-GÓMEZ, 2017). Neste sentido, uma média de 20 g de lagartas mortas infectadas pelo vírus eram maceradas e misturadas na calda do pulverizador para posterior aplicação na lavoura. Até 2005 a área tratada com baculovírus expandiu para 2 milhões de hectares. Outro fator interessante é que de 8 a 10 dias após aplicação, as lagartas mortas podem ser coletadas e congeladas para posterior maceração, mistura na calda do pulverizador e nova aplicação (SZEWCZYK et al., 2006).
FIGURA 1: Ciclo de infecção viral dos baculovírus
Fonte: Adaptado de Barros et al., 2012.
O uso de baculovírus para o controle de lagartas é uma estratégia promissora e sustentável, visto que esses vírus são altamente específicos aos insetos-praga e não causam danos ao homem e aos inimigos naturais. Além disso, os produtos podem ser formulados contendo mais de uma espécie de baculovírus, aumentando o espectro de controle do produto. A empresa Simbiose, por exemplo, possui em seu portfólio produtos à base de baculovírus para o controle da lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), denominados VirControl Ci. e VirControl S.f, respectivamente. Outras empresas do ramo desenvolvem produtos semelhantes.
Elaboração do texto: Lucas Boeni, Mestrando PPGAgro – UFSM
Revisão: Henrique Pozebon, Doutorando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS
JEHLE, J. A. et al. On the classification and nomenclature of baculoviruses: a proposal for revision. Archives of virology, v. 151, n. 7, p. 1257-1266, 2006.
ROHRMANN, G. F. Baculovirus Molecular Biology [Internet]. 3rd edition. Bethesda (MD): National Center for Biotechnology Information (US); 2013. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK114593/
SOSA-GÓMEZ D. R. et al. Entomopathogenic Viruses in the Neotropics: Current Status and Recently Discovered Species. Neotropical entomology, 2020.
SOSA-GÓMEZ, D. R. Microbial control of soybean pest insects and mites. In: Microbial Control of Insect and Mite Pests. Academic Press. p. 199-208, 2017.
SZEWCZYK, B et al. Baculoviruses—re-emerging biopesticides. Biotechnology advances, v. 24, n. 2, p. 143-160, 2006.