A matocompetição de plantas daninhas com plantas cultivadas, pode resultar em significativas perdas de produtividade além de reduzir a qualidade dos grãos produzidos. Dentre as principais plantas daninhas que infestam a soja, destacam-se as tradicionais buva (Conyza sp.) e capim-amargoso (Digitaria insularis), e outras espécies com crescente participação e preocupante manejo, tais como o caruru (Amaranthus sp.) e o picão-preto (Bidens sp.).

Embora o estabelecimento da soja no limpo, seja uma das principais e mais eficientes estratégias de manejo visando reduzir a matocompetição, sob condições ambientais adequadas de umidade e temperatura, diferentes fluxos de emergência de plantas daninhas podem ocorrer em meio a soja, dificultando o manejo e controle dessas plantas na pós-emergência da cultura.

Espécies como o caruru e o picão-preto apresentam elevada habilidade competitiva e difícil controle em função da resistência a herbicidas. Além disso, a elevada produção de sementes pelo caruru, e fácil dispersão delas, contribui para o elevado índice de infestação das áreas de produção.

Figura 1. Sementes de caruru.

Diversos casos de resistência do caruru a herbicidas já foram relatados, incluindo resistência simples e múltipla a herbicidas, o que restringe ainda mais as ferramentas químicas para o controle pós-emergente dessa planta daninha. No Brasil, os casos de resistência do caruru a herbicidas vêm evoluindo desde 2011. Um fator que contribui para isso é a capacidade do caruru em se reproduzir, podendo inclusive haver cruzamento entre espécies (hibridização), transmitindo resistência a novas populações.



Figura 2. Evolução dos casos de resistência das principais espécies de caruru de incidência em cultivos agrícolas.

Abreviações ALS, FSII, PROTOX e EPSPs correspondem a nomenclatura dos respectivos mecanismos de ação de herbicidas ao qual a planta daninha apresenta resistência. Fonte: Heap (2024)

Não menos importante, espécies de picão-preto, dentre as principais a Bidens pilosa  e a Bidens subalternans também apresentam resistência a herbicidas no Brasil. Segundo Heap (2024), os casos relatados de B. pilosa incluem a resistência simples aos herbicidas inibidores da ALS (1993) e resistência múltipla aos herbicidas inibidores da ALS e da fotossíntese ao nível do fotossistema II (2016). Já os casos relatados de B. subalternans são mais recentes, incluindo a resistência simples aos herbicidas inibidores da ALS (1996), e EPSPs (2023) e a resistência múltipla aos herbicidas inibidores da ALS e da fotossíntese ao nível do fotossistema II (2006).

No caso do caruru, dependendo da espécie e densidade populacional, a presenta dessa planta daninha em áreas de soja pode reduzir em até 80% a produtividade da cultura (Penckowski et al., 2020). Da mesma forma, Rizzardi; Fleck; Agostinetto (2003) observaram que o picão-preto apresenta elevada habilidade competitiva, sendo que, densidades populacionais de apenas 0,4 plantas m² já alcançam o nível de dano econômico da cultura, dependendo do ambiente de cultivo.

Com base nos aspectos observados, o crescente desenvolvimento dessas daninha na pós-emergência da soja expressa um preocupante cenário no manejo de plantas daninhas, principalmente considerando a limitada oferta de ferramentas eficientes para o controle dessas espécies. Com isso em vista, deve-se pensar a médio/longo prazo, em estratégias de manejo que contribuam para a redução  das populações e fluxos de emergência dessas plantas daninhas, tais como o emprego de herbicidas pré-emergentes, a boa cobertura do solo (figura 3) e o uso de biotecnologias como materiais genéticos resistentes a herbicidas de diferentes mecanismos de ação, como a soja LibertLink, a soja Enlist E3 e a soja Intacta 2 Xtend®.

Figura 3. Influência da cobertura do solo (palhada) sobre a emergência do caruru.

Foto: Cultivar (2021)

Confira o vídeo abaixo com as dicas do professor e pesquisador Alfredo Albrecht.


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Referências:

CULTIVAR. BROCA E PODRIDÃO. Cultivar Grandes Culturas, n. 267, 2021. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1134394/1/Caruru-resistente.pdf >, acesso em: 23/01/2024.

HEAP, I.  THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE.  Online.  Tuesday, January 23, 2024. Disponível em: < https://weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 23/01/2024.

PENCKOWSKI, L. H. et al. ALERTA! CRESCE O NÚMERO DE LAVOURAS COM Amaranthus hybridus RESISTENTE AO HERBICIDA GLIFOSATO NO SUL DO BRASIL: O PRIMEIRO PASSO É SABER IDENTIFICAR ESSA ESPÉCIE! Revista FABC, 2020. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/ebook/REVISTA-Fabc.pdf >, acesso em: 23/01/2024.

RIZZARDI, M. A.; FLECK, N. G.; AGOSTINETTO, D. NÍVEL DE DANO ECONÔMICO COMO CRITÉRIO PARA CONTROLE DE PICÃO-PRETO EM SOJA. Planta Daninha, n.2, p.273-282, 2003. Disponível, em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/bPFj9C7VsRPftYPhpTxsp3D/?lang=pt#:~:text=O%20rendimento%20de%20gr%C3%A3os%20da,uniformizados%20para%2013%25%20de%20umidade. >, acesso em: 23/01/2024.

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