Desde a germinação à colheita, a água é o elemento chave para a ocorrência dos principais processos fisiológicos e bioquímicos na soja. Ao longo do ciclo de desenvolvimento, a água chega a representar 90% da massa verde de uma planta de soja, sendo que a demanda por água durante o período inicial de desenvolvimento (emergência a 4 folhas) varia de 2 a 4 mm dia-1, chegando a demanda potencial de 7 a 9 mm dia-1 durante a formação da vagem e enchimento de grãos (R3 a R5).
Em outras palavras, um solo com capacidade de armazenar 40 mm suporta a demanda hídrica de uma planta de soja por 10 e 5 dias sem chuvas durante o período inicial e o período de R3-R5, respectivamente.
Devido a importância da água, em 2015 o Dr. Sentelhas e seus colaboradores conduziram um estudo utilizando um modelo para estimar o impacto da distribuição de chuvas ao longo do ciclo de desenvolvimento da soja sobre o potencial produtivo da soja no Brasil.
Foram analisados 17 locais nas principais regiões produtoras de soja, incluindo os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Piauí, Bahia, Tocantins, Pará e Maranhão. Para cada local foi quantificado e definido o potencial produtivo, o potencial produtivo limitado por água e a lacuna de produtividade média atual.
Figura 1. Lacuna de produtividade de soja (yield gap) devido ao déficit hídrico nas principais regiões produtoras de soja do Brasil. (Adaptado de Sentelhas et al. 2015, publicado na Journal of Agricultural Science). Para mais informações clique aqui.
Foi possível verificar nesse estudo que a redução de produtividade devido ao déficit hídrico variou de 500 a 2600 kg ha-1 (de 8 a 43 sc ha-1). As maiores reduções devido à falta de água ocorreram no sul do Brasil (Rio Grande do Sul e Paraná) enquanto as menores perdas ocorreram no Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Pará.
Entre os principais fatores identificados no estudo que afetaram o grau de limitação por água foram a latitude (quanto maior a latitude, menor a evapotranspitação e a demanda hídrica diária) e a variabilidade climática (na região sul do Brasil a variabilidade hídrica entre anos e entre regiões é maior, dependendo muito da influência do fenômeno ENOS – El Niño, La Niña ou neutro). Nesse estudo, também foi constatado que o principal motivo para a redução do potencial produtivo é o déficit hídrico.
Durante a safra 2019/20, o estudo do Dr. Sentelhas e seus colaboradores se mostra atual e comprova na prática que a água é o principal fator causador de perdas de produtividade, sobretudo na região sul em comparação com o centro-oeste brasileiro. Entre as principais práticas de manejo capazes de mitigar o déficit hídrico está a irrigação, o uso de cultivares mais estáveis, época de semeadura e escalonamento da semeadura, rotação de culturas e adoção de práticas de manejo que viabilizem o aumento da capacidade de armazenamento de água do solo. É tempo de pensar no manejo e planejar a próxima safra!
Redação: Michel Rocha da Silva – Equipe Mais Soja