Por Argemiro Luís Brum

O primeiro contrato cotado para a soja, em Chicago, terminou o mês de outubro em baixa na comparação com o início do mesmo mês. Em 1º de outubro o bushel da oleaginosa registrou US$ 10,57. No dia 30 o produto estava em US$ 9,76. Ou seja, um recuo de 7,7% em 30 dias. O farelo igualmente despencou, saindo de US$ 350,00/tonelada curta para US$ 301,60. Apenas o óleo de soja, sustentado pelo conflito no Oriente Médio, subiu, passando de 42,91 centavos de dólar por libra-peso, para 43,81 centavos na comparação entre as duas datas. O fechamento desta quinta-feira (31) acabou ficando em US$ 9,82/bushel, contra US$ 9,96 uma semana antes.

No ano passado o mês de outubro se encerrou com o bushel da soja valendo US$ 12,87, o farelo valendo US$ 431,00/tonelada curta e o óleo 51,42 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, em um ano o recuo nas cotações foi significativo, atingindo 24,2%, 30% e 14,8% respectivamente.

Assim, os atuais preços da soja no Brasil, os melhores, na média, neste ano, só se explicam pela forte desvalorização do Real nos últimos meses. A moeda estadunidense valia R$ 5,76 em boa parte desta última semana de outubro, contra R$ 5,00 no final de outubro de 2023. Vale adicionar, também, uma melhoria nos prêmios nos portos brasileiros. Assim, a semana terminou com o saco de soja valendo, na média, R$ 127,90 no Rio Grande do Sul, sendo que as principais praças locais trabalharam com valores entre R$ 126,00 e R$ 128,00/saco. Já nas demais regiões do país, a soja oscilou entre R$ 124,40 e R$ 142,00/saco.

Um ano atrás, a média gaúcha foi de R$ 136,79/saco, enquanto as principais praças do Estado trabalhavam a R$ 133,00. Nas demais regiões do país os preços oscilavam entre R$ 115,00 e R$ 124,00/saco. Nota-se, portanto, que no Rio Grande do Sul, atualmente, os preços médios estão mais baixos, enquanto no restante do país os mesmos estão bem mais elevados do que há um ano.

Assim, se o câmbio estivesse nos níveis de outubro/23 o preço da soja, no Rio Grande do Sul, hoje, estaria na média de R$ 115,00/saco, considerando as demais variáveis (Chicago e prêmio) em cada época, assim como o desconto médio devido aos custos de comercialização e às margens obtidas pelas empresas compradoras.

Já para abril do próximo ano, realizando uma projeção com dois cenários cambiais e tomando as projeções de Chicago e dos prêmios para aquela futura data, temos:

Cenário 1) manutenção de um câmbio ao redor de R$ 5,76 por dólar. O valor líquido da soja, ao produtor gaúcho no balcão, tende a ficar, em média, entre R$ 115,00 e R$ 116,00.

Cenário 2) retorno do câmbio ao patamar de R$ 5,00 por dólar. O valor líquido a ser recebido pelos produtores recua para algo entre R$ 100,00 e R$ 101,00/saco.

Alertando que, se a safra sul-americana for cheia e não havendo outras variáveis importantes que pressionem os preços externos, a soja em Chicago pode recuar para US$ 9,00/bushel e até um pouco menos. Isso, reduz, obviamente, os preços em reais aqui projetados.

Dito isso,o USDA divulgou que, no dia 27/10, a soja havia sido colhida em 89% da área nos EUA, contra a média histórica de 78%. Já os embarques de soja estadunidense, na semana encerrada em 24/10, atingiram a 2,39 milhões de toneladas. Com isso, no atual ano comercial, os EUA já exportaram 10,4 milhões de toneladas de soja, contra 10,2 milhões em igual momento do ano anterior.

E no Brasil, o plantio da nova safra de soja atingia a 36% da área esperada, estando ainda um pouco atrasado em relação ao ano anterior (cf. Pátria Agronegócios e AgRural). No Mato Grosso, segundo o Imea, a área semeada atingia a 56% do total esperado em 25/10. Lembrando que a média histórica neste estado é de 62,3% (cf. Imea).

Diante de uma colheita praticamente concluída nos EUA, o mercado se volta, agora, para as condições de plantio da oleaginosa na América do Sul, onde se espera uma safra recorde. Como já frisamos, dependendo do mesmo e do desenvolvimento futuro destas lavouras, as cotações em Chicago podem vir a US$ 9,00/bushel e até menos (cf. Commstock Investments).

Novas estimativas de plantio brasileiro, agora divulgadas pelo banco holandês Rabobank, dão conta de um aumento de 1,5% na área total semeada, levando a mesma para 47 milhões de hectares. Em clima normal o setor agrícola do banco espera uma colheita de 167 milhões de toneladas. Lembrando que, segundo a Conab, o Brasil colheu nesta última safra um total de 147,4 milhões de toneladas, após frustrações regionais importantes.

Enfim, a ferrugem asiática começa a atingir as lavouras brasileiras. Forte incidência da praga surgiu em alguns locais do Noroeste gaúcho, captada a partir do início do Programa Monitora Ferrugem RS para a safra 2024-2025, na última semana. Com a instalação de 74 coletores em lavouras de soja em todo o estado, o programa visa prevenir e controlar a ferrugem asiática, principal doença que afeta o cultivo no Brasil. A ferrugem asiática pode ocasionar perdas na produtividade de até 90%, especialmente em anos com condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento (cf. Emater).

Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).



 

FONTE

Autor:Dr. Argemiro Luís Brum/CEEMA-UNIJUÍ

Site: Informativo CEEMA UNIJUÍ

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