Por Argemiro Luís Brum
Ainda em ritmo de paralisação do serviço público estadunidense, as cotações da soja em Chicago subiram nesta semana. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (23) em US$ 10,44/bushel, após US$ 10,10 uma semana antes. A cotação deste dia 23 foi a mais elevada desde o dia 16 de setembro passado.
A colheita nos EUA avança normalmente, com produtividade recorde, porém, sem as estatísticas oficiais disponíveis no momento quanto ao percentual já colhido. Ao mesmo tempo, as exportações dos EUA continuam enfrentando problemas devido ao fechamento do mercado chinês para seu produto, mesmo que internamente o consumo da soja siga firme. Espera-se uma reunião entre os dois presidentes para estes próximos dias.
Enquanto isso, a China não importou soja dos Estados Unidos em setembro, sendo este o primeiro mês, desde novembro de 2018, que tais embarques caíram para zero. Enquanto isso, as importações da América do Sul aumentaram em relação ao ano anterior. Para comparação, no mesmo mês do ano passado os EUA exportaram 1,7 milhão de toneladas para a China.
Tal realidade, como se sabe, ocorre devido a guerra comercial imposta por Trump contra a China, fato que elevou as tarifas de importação nos dois países. Com isso, os chineses aumentaram em 29,9% as compras da soja brasileira em setembro, na comparação com setembro de 2024, chegando a 10,96 milhões de toneladas. Este volume responde por 85,2% do total das importações chinesas da oleaginosa, segundo dados da alfândega chinesa, enquanto os embarques da Argentina aumentaram 91,5%, para 1,17 milhão de toneladas, ou 9% do total. As importações de soja da China atingiram 12,87 milhões de toneladas em setembro, o segundo nível mais alto já registrado.
Como já comentado anteriormente neste espaço, “se não houver um avanço nas negociações comerciais entre EUA e China, os agricultores dos EUA poderão enfrentar bilhões em perdas, já que as esmagadoras chinesas continuarão a se abastecer na América do Sul. Pequim, no entanto, também pode enfrentar uma possível crise de abastecimento no início do próximo ano, antes que a nova safra do Brasil chegue ao mercado. Uma lacuna no fornecimento de soja pode surgir na China entre fevereiro e abril do próximo ano se não houver um acordo comercial. O Brasil já embarcou um volume enorme, e ninguém sabe quanto estoque de safras antigas ainda resta” (cf. AgRadar Consulting).
No período de janeiro a setembro, a China importou 63,7 milhões de toneladas do Brasil, um aumento de 2,4% e 2,9 milhões de toneladas da Argentina, um aumento de 31,8%, nos dois casos em relação ao ano anterior. Embora os compradores chineses estejam evitando a safra estadunidense deste ano, as compras realizadas no início de 2025 (antes do início da guerra comercial), junto ao mercado estadunidense, sobem a 16,8 milhões de toneladas, ou 15,5% acima de igual período de 2024.
E aqui no Brasil, com os prêmios subindo e Chicago melhorando, a valorização do Real não evitou uma pequena melhoria nos preços da oleaginosa. A média gaúcha ficou em R$ 124,29/saco, enquanto as principais praças registraram R$ 122,00. No restante do país os preços oscilaram entre R$ 119,00 e R$ 125,00/saco.
Por sua vez, o plantio da nova safra 2025/26 chegou a 24% no início da presente semana, contra 16,2% na média histórica para a data (cf. Pátria AgroNegócio e AgRural).
Especificamente no Mato Grosso do Sul a semeadura atingiu a 30,9% da área esperada. Para esta safra, espera-se um aumento de 5,9% na área cultivada, totalizando 4,79 milhões de hectares. A produtividade média prevista é de 52,8 sacos por hectare, com produção estimada em 15,2 milhões de toneladas (cf. Aprosoja-MS).
E no Brasil, a produção total esperada na próxima safra é de 178 a 180 milhões de toneladas, contra 171,8 milhões colhidas na última safra, conforme números revisados pela Abiove.
Segundo ainda a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), diante da colheita projetada, a exportação total do Brasil, em soja, poderá chegar a 111 milhões de toneladas em 2026, se elevando 1,4% sobre o volume de 2025. Já o esmagamento de soja deverá atingir a 60,5 milhões de toneladas, avançando 3,4% sobre 2025. Assim, os estoques finais de soja brasileira em 2026 aumentariam 75% na comparação anual, para 10,5 milhões de toneladas.
A exportação de farelo de soja brasileiro, no próximo ano, chegaria a 24,6 milhões de toneladas, alta anual de 4,2%. Já o volume fabricado desse produto no país cresceria 3,3%, para 46,6 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, a produção de óleo de soja, impulsionada pela fabricação de biodiesel, foi estimada em 12,2 milhões de toneladas em 2026, com avanço de 3,8% sobre 2025, enquanto o consumo interno aumentaria 4,8%, para 11 milhões de toneladas. Enfim, a exportação de óleo de soja cairia mais de 25% no ano que vem, para cerca de 1 milhão de toneladas.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).







