Por Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações da soja voltaram a subir um pouco nesta semana. Havia um relatório de oferta e demanda do USDA previsto para este dia 09/10, porém, com a situação de “shutdown” nas contas públicas dos EUA, o serviço público estadunidense paralisou há uma semana e, com isso, o relatório não foi divulgado e o mercado está à mercê de especulações, pois sem estatísticas confiáveis.
Por enquanto, o bushel de soja, para o primeiro mês, fechou a quinta-feira (09) em Chicago, valendo US$ 10,22/bushel, contra US$ 10,23 uma semana antes.
E no Brasil, os preços se mantiveram estáveis, com leve viés de alta em algumas regiões. O câmbio se manteve entre R$ 5,30 e R$ 5,35 por dólar e os prêmios estáveis. Assim, a média gaúcha ficou em R$ 122,77/saco, enquanto as principais praças locais trabalharam em R$ 120,00. Nas demais regiões brasileiras, os valores oscilaram entre R$ 113,00 e R$ 122,00/saco.
Em paralelo, as exportações brasileiras de soja atingiram volume recorde para o mês, em setembro, puxadas pela demanda firme no exterior, especialmente da China, e a pouca presença dos EUA neste mercado devido a guerra tarifária. Em setembro do corrente ano o Brasil exportou 6,99 milhões de toneladas de soja, sendo 6,6% acima do exportado em setembro de 2024. Porém, em relação a agosto houve recuo de 30,3% (cf. Secex). Neste sentido, vale lembrar que a Argentina está mais agressiva neste mercado, o que limita os embarques brasileiros atualmente. Dito isso, de janeiro a setembro o Brasil exportou 93 milhões de toneladas, recorde para o período.
Já para outubro, a Anec espera que o Brasil exporte 7,12 milhões de toneladas, superando em quase 2,7 milhões o volume do mesmo mês do ano passado. Em farelo de soja, as exportações brasileiras foram estimadas em 1,92 milhão de toneladas, abaixo das 2,46 milhões de toneladas de outubro do ano passado.
Em tal contexto, a Anec igualmente espera que de janeiro a outubro o Brasil alcance um total de 102,2 milhões de toneladas exportadas, o que superaria o volume exportado em todo o ano completo de 2023 e 2024, quando alcançamos o recorde anual. No ano passado, as vendas externas ficaram em 97,3 milhões de toneladas, contra 101,3 milhões em 2023 (cf. Secex). A China segue sendo o principal comprador, tendo adquirido 6,5 milhões de toneladas em setembro, ou seja, 93% do total exportado pelo Brasil no mês passado. Em tal contexto, a China registrou uma participação de 79,9% nas exportações totais de soja do Brasil, contra a média de 74% entre 2021 e 2024. Em 2024, a participação chinesa foi de 76%. Com isso, o total a ser exportado pelo Brasil em 2025 poderá chegar a 110 milhões de tonelada. Para o farelo de soja, as exportações brasileiras estimadas, para os 10 primeiros meses do corrente ano, chegam a pouco mais de 19 milhões de toneladas (cf. Anec).
Enfim, a grande preocupação, agora, é com a nova safra 2025/26, já que a mesma está se mostrando como uma das mais problemáticas dos últimos anos, pois os custos de produção estão em alta, há recuo nos preços internacionais da commodity e previsões climáticas incertas. Com isso, a rentabilidade dos produtores está ameaçada. Especificamente no Centro-Oeste, projeções apontam que o desembolso médio por hectare deve subir cerca de 4% em relação ao último ciclo, podendo ultrapassar R$ 5.600,00 em regiões como Rio Verde (GO) e Sorriso (MT). O aumento é impulsionado principalmente pela valorização dos fertilizantes, com alta próxima de 10%, em meio a gargalos globais relacionados às tensões comerciais entre China e Estados Unidos, impactos da guerra no Leste Europeu e redução de oferta em grandes polos asiáticos. Parte dos defensivos agrícolas também acompanha esse movimento. Com margens mais estreitas, a produtividade mínima necessária para cobrir os custos cresce. Em áreas do Mato Grosso, já ultrapassa 56 sacos por hectare; em Goiás, gira em torno de 51 sacos (cf. Outofino Agrociência). Vai ser preciso um clima muito positivo para se alcançar produtividade que resulte em boas sobras. E esse é um quadro geral, guardadas as características de cada região, especialmente no Rio Grande do Sul onde a situação vem se agravando nos últimos cinco anos devido às secas constantes.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).