Por Argimiro Luís Brum
O primeiro mês cotado para a soja, em Chicago, na esteira do relatório de intenção de plantio nos EUA, subiu um pouco na arrancada da semana, porém, não se sustentou. Assim, o fechamento desta quinta-feira (03/04) ficou em US$ 10,11/bushel, contra US$ 10,16 uma semana antes. A média de março fechou em US$ 10,05/bushel, correspondendo a um recuo de 3,4% sobre a de fevereiro. Para comparação, em março de 2024 a média havia sido de US$ 11,79/bushel.
Efetivamente, o relatório de intenção de plantio confirmou o esperado pelo mercado e reduziu a futura área de soja nos EUA. A mesma deverá recuar 4% em relação ao ano anterior, ficando em 33,8 milhões de hectares, dentro do esperado pelo mercado. Em compensação, os estoques trimestrais, na posição 1º de março, ganharam 4% sobre o mesmo período do ano anterior, alcançando 52 milhões de toneladas.
Por sua vez, o mercado sente o tarifaço imposto por Donald Trump ao mundo, a partir de anúncios feitos com maior precisão no último dia 02/04. A soja estadunidense poderá perder mercado, especialmente na China, o que enfraquece as cotações e, junto com estoques maiores, por enquanto anula os efeitos altistas da redução de área a ser semeada. A partir de agora, o clima nos EUA passa a ser um elemento central de influência nas cotações da oleaginosa, já que o plantio deverá iniciar no final de abril e continuar durante o mês de maio.
Vale ainda destacar que a relativa firmeza do grão, em Chicago, se deve, em muito, ao forte aumento no valor do óleo de soja, estimulado pela possibilidade de um maior uso de biodiesel nos EUA. De fato, nesta semana a cotação da libra-peso, naquela Bolsa, subiu 9,9%.
E na Argentina, os agricultores locais passaram a vender sua soja no mais lento ritmo em 10 anos. Isso se deve à expectativa de que a moeda local se desvalorize ainda mais, enquanto podem vir isenções fiscais por parte do governo Milei. Lembrando que a Argentina é o maior exportador mundial de farelo e óleo de soja. Por enquanto, os produtores do vizinho país teriam vendido entre 17% e 18% apenas de sua nova safra que começa a ser colhida.
Pelo sim ou pelo não, diante de um governo errático, os agricultores argentinos vivem um forte momento de incertezas. Tal situação atrapalha o governo local, pois a soja é a principal fonte de dinheiro estrangeiro do país, principalmente por meio de exportações de óleo de soja processado e farelo. Nesta semana o peso argentino estava em 1.070 por dólar, equivalendo, ao câmbio atual, a R$ 0,005. Os produtores igualmente olham com atenção o imposto de exportação, atualmente em 26% e 24,5% para a soja e seus derivados óleo e farelo, respectivamente. Alguns produtores esperam que Milei cumpra as promessas de cortá-las ainda mais após uma redução temporária até junho (cf. AcSoja).
Soma-se a estas preocupações o fato de que a redução do nível do rio Paraguai, mais uma vez, vem atrasando as barcaças que transportam soja paraguaia para as moageiras instaladas na região de Rosário (Argentina). Com isso, a moagem atrasa e a oferta de farelo e óleo de soja diminui momentaneamente, inclusive para exportação, ajudando a elevar o valor do óleo em Chicago. As exportações de soja do Paraguai caíram 14,2% nos dois primeiros meses de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024 (cf. Reuters).
E aqui no Brasil, os preços da oleaginosa até baixaram um pouco, porém, o viés é de estabilização. O prêmio cedeu um pouco e o câmbio se manteve ao redor de R$ 5,70 por dólar, fato que ajudou no comportamento dos preços internos. Assim, enquanto a média gaúcha fechou a semana em R$ 127,38/saco, as principais praças locais trabalharam com R$ 125,00 no balcão. No restante do país os valores giraram entre R$ 105,00 e R$ 119,50/saco nos principais locais de comercialização.
Dito isso, diante de uma demanda mundial mais aquecida, especialmente por parte da China, o Brasil deve ter batido um recorde de exportação de soja no primeiro trimestre do ano. Segundo consta, “as tradings brasileiras carregaram 22,8 milhões de toneladas de soja em navios no acumulado do ano até 25 de março, sendo que 17,7 milhões de toneladas foram para a China” (cf. Agrinvest). Vale destacar que os embarques para a China refletem ainda compras antecipadas de 33 milhões de toneladas feitas pelos chineses até dezembro do ano passado. Importante se faz destacar que a China, independentemente da atual guerra comercial imposta pelos EUA, vinha importando muito mais soja do Brasil do que da América do Norte. Isso vem aumentando desde a primeira guerra comercial imposta por Trump, no já distante 2018. Segundo a Anec, em janeiro e fevereiro do corrente ano a China recebeu 79% das exportações brasileiras de soja, contra 75% no mesmo período do ano passado.
Enfim, a colheita da atual safra da oleaginosa brasileira chegou a 82% da área semeada, contra 79,3% na média histórica (cf. Pátria AgroNegócios e AgRural). Especificamente no Paraná, a mesma atinge a 95% da área, enquanto no CentroOeste, ela está concluída em grande parte da região. Já no Rio Grande do Sul a colheita atingia a 24% da área até o dia 27/03, contra 22% na média dos últimos cinco anos (cf. Emater).
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).