Comentários referentes ao período entre 14/04/2023 a 20/04/2023

Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, disponível no site da CEEMA – UNIJUI

As cotações da soja, em Chicago, após ensaiarem uma elevação, com o primeiro mês cotado voltando a ultrapassar os US$ 15,00/bushel, atingindo mesmo US$ 15,19 no dia 18/04, voltaram a recuar no final da semana. Com isso, o primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (20) em US$ 14,97/bushel, contra US$ 15,01 uma semana antes.

Começa a haver pressão do plantio nos EUA, o qual iniciou bem, neste ano. Até o dia 16/04 o mesmo chegava a 4% da área esperada, contra 1% na média histórica para esta época.

Por sua vez, os embarques de soja, na semana encerrada em 13 de abril, somaram 526.376 toneladas nos EUA, ficando dentro das expectativas do mercado. Com isso, o total exportado no ano comercial chega a 46,7 milhões de toneladas, sendo apenas 1% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior.

Já a NOPA (Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA) apontou que o esmagamento de soja, naquele país, atingiu a 5,06 milhões de toneladas de soja em março, ficando acima das expectativas do mercado e também acima do volume registrado em fevereiro. O volume processado no mês passado foi o segundo maior, para um mês, desde dezembro de 2021. A entidade informou também que os estoques de óleo de soja, naquele país, ficaram 0,86% abaixo do esperado pelo mercado.

Por outro lado, na China, a política local continua sendo de reduzir o uso do farelo de soja nas rações animais, visando diminuir a dependência para com as importações de soja. O novo plano propõe que a proporção de farelo de soja na alimentação animal seja reduzida para menos de 13% até 2025, ante 14,5% em 2022. Esta política iniciou ainda em 2021 e lentamente vai pesando negativamente no mercado mundial da soja.

O maior comprador mundial da oleaginosa, por enquanto, parece desejar diminuir mais as compras dos EUA, mas não há dúvida que Brasil e Argentina serão igualmente atingidos. A ideia seria reduzir o uso do farelo de soja, nas rações, para 12% até 2030.

Com isso, cerca de 4 milhões de toneladas de grãos de soja deixariam de ser importadas. Há uma tendência de que as importações de soja do país asiático possam recuar para 82 milhões de toneladas até 2025, contra as atuais 96 milhões. Os chineses estariam usando mais colza, semente de girassol e proteína sintética como substitutos do farelo de soja. (cf. Rabobank)

Enquanto isso, na Argentina, diante de uma quebra de safra sem precedentes, com a produção da atual safra sendo estimada, agora, em apenas 23 milhões de toneladas, a oferta de farelo de soja continua reduzida. Mesmo com o novo “dólar soja” os produtores locais não estão vendendo o suficiente, gerando alta capacidade ociosa e margens ruins junto à indústria moageira local. Os primeiros dias desta nova fase do câmbio diferenciado, para os sojicultores, resultaram em vendas ao redor de 441.000 toneladas, contra 1,6 milhão na segunda rodada e 3,1 milhões na primeira. (cf. Bolsa de Comércio de Rosário) Grande parte do problema está no imposto de exportação (retenciones), mantido pelo governo, e que tira 33% da margem de ganho do produtor argentino.

E aqui no Brasil, os preços continuam despencando. O câmbio colaborou nesta semana, recuando para R$ 4,92 por dólar em alguns momentos, enquanto os prêmios chegaram a US$ 2,10/bushel negativos para abril e maio, tomando Paranaguá como referência. Mesmo com o dólar voltando ao patamar de R$ 5,08 no final da semana, devido a uma desidratação na proposta do arcabouço fiscal enviado ao Congresso, os preços não mudaram de rumo.

Em tal contexto, a média gaúcha, no balcão, fechou a semana em R$ 141,46/saco, com muitas praças locais praticando R$ 137,00 (o pior preço em dois anos). Nas demais regiões do país os preços são ainda piores, com as médias girando entre R$ 121,00 e R$ 129,00/saco.

Em geral, os produtores brasileiros, não ânsia de ganharem ainda mais, deixaram o mercado escapar dos R$ 200,00/saco, apostando em preços ainda maiores, apesar dos alertas. Com isso, e diante de nova safra nacional recorde, das históricas dificuldades de logística que o país possui, e de movimentos de compra menos intensos por parte da China, os preços despencaram, mesmo com Chicago se mantendo firme. Aliás, os preços só não são menores graças a Chicago. Se naquela Bolsa o bushel estivesse, hoje, em US$ 13,36 (valor cotado para setembro), o preço do saco de soja no mercado gaúcho estaria ao redor de R$ 108,00, mantidas as demais variáveis como estão na atualidade. Mais uma vez se comprova a importância da prática da média de comercialização, a partir do custo de produção que cada propriedade possui.

Agora, diante do forte recuo nos preços, os produtores aceleram o ritmo de venda da última safra, com a mesma atingindo a 43% da safra até o dia 07/04, o que representa 66 milhões de toneladas da colheita total. No ano anterior, o volume era de 72 milhões de toneladas, o que correspondia a 55% da safra daquele ano. A média histórica fica em 59,8% da produção estimada. (cf. Datagro) Vale destacar que a aceleração das vendas se deve, também, à chegada do período de pagamento dos compromissos e contratos financeiros, assumidos quando da formação da lavoura, além de dívidas que se acumulam, especialmente no caso dos produtores gaúchos, que enfrentaram uma terceira frustração de safra em quatro anos.

Dito isso, a colheita da soja no país atingia a 86,3% da área nacional no início da presente semana, contra 89,7% na média histórica para a data. (cf. Pátria AgroNegócios) Especificamente no Rio Grande do Sul, a colheita continua muito atrasada, atingindo a 32% da área até o dia 13/04, contra 64% na média histórica para a data. (cf. Emater) Enfim, as exportações de soja, por parte do Brasil, atingiram a média de 838.860 toneladas diárias até a segunda semana de abril, com desaceleração ao redor de 10% em relação ao início do mês. Mesmo assim, supera as 603.800 toneladas diárias registradas em abril do ano passado. (Cf. Secex) Apesar da redução no ritmo, a Anec espera que o Brasil exporte 15,1 milhões de toneladas de soja no mês de abril, superando as 11,4 milhões registradas em abril de 2022.

Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum -Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

Fonte: CEEMA UNIJUI

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