O objetivo desse trabalho foi avaliar o conteúdo de lignina no
tegumento de grão de soja cultivadas no campo após a aplicação foliar de indutor de lignificação PX.
Autores: Diego Eduardo Romero Gonzaga¹; Fabiano Aparecido Rios²; Rogério Marchiosi³, Osvaldo Ferrarese Filho4, Wanderley Dantas dos Santos5
Introdução
A biossíntese de monolignóis, seu transporte e a polimerização na parede celular, regulado por enzimas intrínsecas, é um processo bioquímico conhecido como lignificação (Monteiro et al., 2004). A lignina é uma macromolécula originada através da via dos fenilpropanoides, responsável pela sustentação, pelo crescimento e desenvolvimento do vegetal, além de aumentar a resistência contra fatores bióticos e abióticos (Boatright et al., 2004, Vance et al., 1980). A qualidade das sementes está relacionada com fatores genéticos, físicos, sanitários e fisiológicos (Krzyzanowski et al., 2008). O tegumento da semente de soja por apresentar pouca lignina oferece pouca proteção para a radícula, bem como pouca resistência a danos mecânicos (Alvarez et al. 1997).
Além disso, o aumento do conteúdo de lignina reduz os efeitos de umidade do ambiente sobre a semente devido a menor permeabilidade do tegumento (França Neto., et al 2000). Para o Brasil manter a posição no cenário mundial de produção de soja (Embrapa, 2018), estudos relacionados ao melhoramento e manutenção da qualidade de sementes são necessários (Neto & Krzyzanowski, 2003). Diante disso, estudos realizados na via de biossíntese de lignina elucidaram o mecanismo que induz o aumento de lignina em plantas (Ferrarese et al. 2000, dos Santos et al. 2004, Salvador et al. 2013). Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar o conteúdo de lignina no tegumento de grão de soja cultivadas no campo após a aplicação foliar de indutor de lignificação PX.
Material e Métodos
Durante a safra de 2017/2018, o experimento foi conduzido na Fazenda Experimental de Iguatemi da Universidade Estadual de Maringá localizada no noroeste do Estado do Paraná. O delineamento experimental foi realizado em cinco repetições em blocos inteiramente casualizados com parcelas de 5,0 m de comprimento e 3,0 m de largura, totalizando 15,0 m2. A semeadura foi realizada no dia 19 de outubro de 2017, utilizando a cultivar BMX potência RR, com espaçamento entrelinhas de 0,45 m. De acordo com as recomendações da cultivar, o controle de doenças, insetos-praga e plantas daninhas foi realizado. A aplicação do indutor de lignificação foi feita através da pulverização foliar quando as plantas atingiram o estádio fenológico R5.1. Para isso, foi utilizado um pulverizador costal modelo XR11003 pressurizado por CO2 a 38 lb pol-2.
O experimento apresentou testemunhas, sem promotor, e plantas tratadas com indutor na concentração de 5,0 mmol L-1. Para melhor espalhamento do indutor sobre as folhas foi utilizado um adjuvante (Aureo®) na concentração de 0,5% V/V. A colheita das plantas foi realizada no mês de março de 2018, no estádio R9, descontando 0,5 m de bordadura para evitar possíveis contaminações, retirando cinco plantas de cada parcela. Após a colheita, foram separadas as sementes das plantas de cada parcela e, posteriormente, as sementes foram mergulhadas em água durante 12 horas para a remoção do tegumento. Os tegumentos foram transferidos para uma estufa a 60°C e, após a secagem, a biomassa foi triturada em um moinho. Para determinar o conteúdo de lignina, 300 mg de biomassa foram homogeneizados em 7 mL de tampão fosfato (50 mM, pH 7,0) e transferidas para tubos de centrífuga de 15 mL.
O material foi centrifugado por 5 minutos a 3200 rpm e lavado por sucessivas agitações com auxílio de um bastão de inox seguidas de centrifugação, de acordo com a sequência: cinco vezes com 7 mL de tampão fosfato (50 mM, pH 7,0); cinco vezes com 7 mL de Triton® 1% (v/v) preparado em tampão fosfato (pH 7,0); seis vezes com 7,0 mL de NaCl 1,0 M também em tampão (pH 7,0); seis vezes com 7,0 mL de água destilada e duas vezes com 5,0 mL de acetona. Após a centrifugação, o precipitado foi seco em estufa a 60°C por 24 h. O material obtido foi definido como a fração da parede celular isenta de proteínas. Após a parede celular isenta de proteínas, 20 mg desta biomassa foi adicionada a tubos de vidro com rosca contendo 0,5 mL do reagente brometo de acetila 25% (preparado em ácido).
Os frascos foram aquecidos por 30 minutos em banho maria a 70°C. Posteriormente, as amostras foram resfriadas em gelo e a reação foi interrompida pela adição de 0,9 mL de NaOH 2 M. Em sequência, 0,1 mL de hidroxilamina-HCl 7,5 M e 6 mL de ácido acético foram adicionados. Para a obtenção do sobrenadante, as amostras foram centrifugadas durante 5 minutos a 3200 rpm e o conteúdo de lignina foi quantificado por espectrofotômetro a 280 nm. Os valores foram expressos em mg.g-1 de parede celular isenta de proteínas (PCIP) de acordo com a curva padrão (Adaptado de SU, 2005). Os resultados obtidos foram submetidos à análise para determinar a significância das diferenças entre as amostras realizando o teste t de student, com P≤0,05, através do programa Graph Pad Prism® (Versão 6,0).
Resultados e Discussão
De acordo com a Figura 1, o conteúdo de lignina foi influenciado pelo indutor de lignificação, pois houve 31% de aumento no conteúdo de lignina no tegumento de grão de soja. Segundo Neto & Kryzanowski (2003), como o conteúdo de lignina possibilita maior tempo de armazenamento de grãos, podemos inferir que o método de aplicação foliar do indutor de lignificação em plantas de soja pode ser um novo artificio para aumentar a rigidez da parede celular vegetal e, consequentemente, atuar na manutenção da qualidade dos grãos. A lignina também contribui com a proteção contra patógenos, interferindo na digestão enzimática dos componentes da parede celular (Siranidou et al. 2002, Lattanzio et al. 2006; Liu et al. 2018), bem como na proteção contra ataques de percevejos e no aumento de resistência a danos mecânicos gerados durante a colheita, garantindo qualidade dos grãos (Alvarez et al., 1997, Capelleti et al., 2005, Neto & Kryzanowski, 2003). Dessa forma, esse resultado permite inferir que o indutor de lignificação utilizado e a metodologia aplicada pode ser extremamente eficiente à proteção de sementes, podendo gerar uma nova classe de agroquímicos biodegradáveis e atóxicos capazes de induzir e aumentar a produção do conteúdo de lignina em tegumentos de grãos de soja sem a necessidade de intervenções genéticas.
Figura 1. Conteúdo de lignina no tegumento da soja.
Conclusão
A partir dos resultados é possível concluir que a aplicação do indutor de lignificação em plantas de soja (estádio R5.1), na concentração de 5,0 mmol L-1 é eficiente no aumento do conteúdo de lignina no tegumento de grão de soja.
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Referências
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BOATRIGHT, J; NEGRE, F; CHEN, X; KISH, C. M; WOOD, B; PEEL, G; ORLOVA, I; GANG, D; RHODES, D; DUDAREVA, N. Understanding in Vivo Benzenoid Metabolism in Petunia Petal Tissue Plant Physiology, V.135, p.1993-2011, 2004.
CAPELETI, I; FERRARESE, M. L. L.; KRZYZANOWSKI, F. C.; FERRARESE-FILHO, O. A new procedure for quantificationof lignin in soybean (Glycinemax (L.) Merrill) seed coat and their relationship with resistance to mechanical damage. Seed Science and Technology, Virum, Denmark, v. 33, n.2, p. 511-515, 2005.
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Informações dos autores
1 Mestrando em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá/PR.
2 Doutor em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá/PR.
3 Doutor em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá/PR.
4 Doutor em Ciências (Bioquímica), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá/PR.
5 Doutor em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá/PR.
Disponível em: Anais do II Congresso Online para Aumento de Produtividade do Milho e Soja (COMSOJA), Santa Maria, 2019.
uai, que artigo mais mal feito, cade o nome do indutor???
Boa tarde, Augusto! O produto está em fase de patente.
Obrigado.
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Obrigado!
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