Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago ganharam um pouco de fôlego nesta semana, com o primeiro mês cotado voltando a se aproximar dos US$ 9,00/bushel, porém, encontrando resistência em romper este teto. Assim, o fechamento desta quinta-feira (05) acabou retraindo as mesmas, ficando em US$ 8,89/bushel, contra US$ 8,86 uma semana antes. A média de fevereiro ficou em US$ 8,85, contra US$ 9,17 em janeiro e US$ 9,10/bushel em fevereiro do ano passado.
A recuperação se deu em cima de notícias de que o governo argentino suspendeu os registros de exportação de soja. Com isso, o farelo subiu, com a tonelada curta em Chicago, deste subproduto, ganhando 2,8% naquela Bolsa em quatro dias úteis, fechando esta quarta-feira (04) em US$ 305,20. É bom lembrar que a Argentina exporta praticamente 50% do farelo mundial. O óleo de soja, após forte baixa, também voltou a subir, puxado pela recuperação nas cotações do petróleo.
Todavia, o grão não subiu mais porque as ameaças do coronavírus, aqui atingindo também os EUA, inibem o mercado exportador, tornando baixas as vendas externas de soja por parte daquele país.
Neste sentido, as exportações líquidas de soja, por parte dos EUA, fecharam a semana do 20/02 somando 339.300 toneladas, com um recuo de 38% sobre a média das quatro semanas anteriores. Para o ano 2020/21 o volume vendido ficou em 22.100 toneladas. Com isso, a soma dos dois anos chegou a apenas 361.400 toneladas, contra uma expectativa mínima do mercado de 600.000 toneladas.
Já as inspeções de exportação estadunidenses, na semana encerrada em 27/02, atingiram a 670.608 toneladas, acumulando no ano comercial, iniciado em 1º de setembro, um total de 29,6 milhões de toneladas, contra 26 milhões um ano antes na mesma época.
Por outro lado, o mercado continua não acreditando que o acordo comercial entre EUA e China será cumprido em sua integralidade. Neste momento, o índice da atividade industrial chinês caiu para 40,3 pontos em fevereiro, o menor nível desde 2004, quando começou a série histórica. Isto se deve a paralisação de grande parte das atividades industriais chinesas devido ao surto do coronavírus.
Mas este fato acabou sendo relativizado, por enquanto, pela notícia de reação do G7 e dos Bancos Centrais respectivos à paralisia da economia mundial devido ao coronavírus. Neste sentido, ajucou o fato de que o FED dos EUA acabou reduzindo mesmo, e de forma excepcional, seus juros básicos durante esta semana (porém, deixou claro que, passado o efeito do surto de coronavírus, ele retomará a trajetória de alta em seu juro básico).
O fator positivo para as cotações ficou mesmo com a elevação das tarifas de exportação (retenciones) sobre a soja na Argentina. Isto poderá frear as vendas externas argentinas do referido produto, auxiliando aos EUA e ao Brasil. Tal tarifa passou de 30% para 33% sobre o valor do produto.
É o segundo aumento desde dezembro passado. Para tentar estancar a natural reação negativa dos produtores, a decisão apresentou duas contrapartidas: a aplicação de um sistema de compensação para os pequenos sojicultores (que produziram menos de 1.000 toneladas na última safra) e a redução do imposto de exportação para outras culturas agrícolas regionais.
Mesmo assim, na prática, o aumento destas taxas reduz os incentivos para exportação do complexo soja argentino, podendo reduzir a área semeada local na futura safra.
Além disso, em função do clima, a colheita brasileira começa a apresentar atraso, além de quebras importantes no terceiro Estado produtor, que é o Rio Grande do Sul. Isso igualmente deu um pouco de sustentação ao mercado nesta semana. Todavia, não se deve esquecer que, por enquanto, a safra atual da América do Sul continua sendo apontada para um recorde histórico.
No Brasil, o câmbio continuou disparando, com o Real se aproximando rapidamente de R$ 4,65 no final desta semana. Com isso, mais o pequeno aumento em Chicago, os preços subiram. O balcão gaúcho fechou a semana em R$ 80,00/saco (no ano passado, nesta data, o saco valia R$ 70,55).
Ou seja, o produto está valendo nominalmente quase 10 reais a mais do que no ano passado nesta época. Infelizmente, tal recuperação de preços não compensa a quebra de safra que vem ocorrendo em grande parte do Estado (colheita média até o momento entre 15 a 30 sacos por hectare, sendo que a projeção geral feita pela Emater é de uma quebra de 16,2% – este percentual deverá ser muito maior pois a seca persiste).
Os lotes, no mercado gaúcho, fecharam a semana em R$ 89,00/saco. Nas demais praças nacionais, os lotes oscilaram entre R$ 77,00/saco no Nortão do Mato Grosso e R$ 89,50 em Campos Novos (SC), passando por R$ 86,50 no centro e norte do Paraná; R$ 77,00 em São Gabriel (MS); R$ 78,50 em Goiatuba (GO); R$ 79,50 em Pedro Afonso (TO); e R$ 81,50/saco em Uruçuí (PI).
Vale destacar ainda que os lotes melhoraram um pouco, com seus valores oscilando entre US$ 0,26 e US$ 0,50/bushel no final da corrente semana.
Diante dos atuais preços as vendas aumentaram, porém, os compradores recuaram, esperando que tais altas sejam passageiras e o mercado volte a se acomodar em níveis mais palatáveis aos seus interesses.
Enfim, a colheita da nova safra de soja atingia, até o dia 28/02, um total de 40% da área semeada, contra 45% na mesma época do ano passado e 36% em relação a média histórica. Por Estado produtor, a colheita se apresentava com 2% no Rio Grande do Sul; 45% no Paraná; 80% no Mato Grosso; 47% no Mato Grosso do Sul; 35% em Goiás; 22% em São Paulo; 21% em Minas Gerais; 11% na Bahia; 30% no Maranhão e Tocantins; 2% no Piauí; e 9% no conjunto dos demais Estados produtores. (cf. Safras & Mercado)
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.