No sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), é comum a inserção de espécies forrageiras para fornecer alimento aos animais durante a entressafra dos grãos, além de contribuir para a cobertura do solo, reduzindo a erosão superficial e promovendo a ciclagem de nutrientes.

No Sul do Brasil, onde as condições climáticas favorecem o cultivo do azevém (Lolium multiflorum), essa espécie se destaca no sistema ILP devido à sua versatilidade e aptidão para o outono/inverno. Embora seja considerada uma planta daninha em sistemas de produção de grãos, no contexto forrageiro, o azevém desempenha um papel relevante na região.

Além de melhorar a cobertura do solo, o azevém possui características que o tornam atrativo para o ILP. O ciclo da cultura até o florescimento varia conforme a cultivar, mas, em geral, situa-se entre 100 e 120 dias. A planta adapta-se bem a solos de baixa fertilidade e apresenta um elevado potencial de produção de biomassa e matéria seca, podendo atingir até 40 t ha⁻¹ e 6 t ha⁻¹, respectivamente  (Cherubin et al., 2022).

Outra característica importante do azevém é sua alta capacidade de dispersão de sementes (Figura 1), favorecendo a ressemeadura natural em áreas de pecuária. Embora esse processo possa ser problemático em sistemas de produção de cereais de inverno, no ILP, ele se torna uma vantagem, pois reduz os custos de implantação das pastagens.

Figura 1. Sementes de azevém.
Foto: Martha Lustosa Carvalho

Além de proporcionar uma excelente cobertura do solo e reduzir significativamente a emergência de plantas daninhas, o azevém apresenta outra característica interessante: sua ação alelopática. Diversos compostos químicos presentes na planta podem inibir a germinação e o desenvolvimento de espécies concorrentes, contribuindo para o manejo integrado de plantas daninhas.


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Os benefícios do azevém vão além da produção de forragem e da cobertura do solo. Quando bem manejado, ele pode favorecer a produtividade da cultura sucessora. Sua capacidade de reciclar nutrientes é notável, sendo capaz de acumular mais de 20 kg/ha de nitrogênio na parte aérea (Tiecher, 2016). Com a decomposição e mineralização dos resíduos culturais, esse nutriente torna-se disponível para a cultura seguinte, promovendo um efeito positivo no sistema produtivo.

Tabela 1. Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de carbono (C) e nitrogênio (N) da parte aérea das principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.
Fonte: Tiecher (2016)

Estudos indicam que a inserção do azevém no sistema ILP pode aumentar significativamente a produtividade da soja em sucessão, quando comparada ao cultivo sem a palhada dessa cobertura vegetal. Beutler et al. (2024) observaram ganhos superiores a 20% na produtividade da soja cultivada em plantio direto sobre a palhada do azevém, em comparação à soja sem essa cobertura, evidenciando a importância da palhada do azevém para o desempenho produtivo e destacando a aptidão da cultura como planta de cobertura.

Além de melhorar atributos físicos do solo, o cultivo do azevém promove o uso mais eficiente da terra, contribui para a sustentabilidade do sistema produtivo e aprimora as condições do solo para a cultura sucessora. A palhada não apenas reduz a emergência de plantas daninhas, mas também ajuda a moderar a temperatura superficial do solo, diminuindo a evaporação da água e proporcionando uma amplitude térmica do solo mais favorável ao desenvolvimento das plantas.

Tabela 2. Massa de 100 grãos e produtividade de soja cultivar bmx raio ipro em função das diferentes coberturas do solo utilizando palhada de azevém.
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente (p < 0,05).Fonte: Autor (2023).
Fonte: Beutler et al. (2024)

Contudo, a inserção do azevém no sistema de produção deve ser cuidadosamente planejada, especialmente em sistemas ILP. Caso o cultivo inclua poáceas produtoras de grãos, como trigo e aveia, o azevém pode se comportar como planta daninha devido à sua alta capacidade de ressemeadura natural. Portanto, seu manejo adequado é essencial para evitar interferências indesejadas e maximizar os benefícios do sistema.


Veja mais: Estratégias para o controle do azevém


Referências:

BEUTLER, A. N. et al. QUANTIDADE DE PALHA DE AZEVÉM NA SUPERFÍCIE DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE SOJA EM PLANTIO DIRETO SOB INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA. Revista Observatório de La Economia Latinoamericana, 2024. Disponível em: < https://ojs.observatoriolatinoamericano.com/ojs/index.php/olel/article/view/2227/1881 >, acesso em: 17/03/2025.

CHERUBIN, M. R. et al. GUIA PRÁTICO DE PLANTAS DE COBETURA: ASPECTOS FITOTÉCNICOS E IMPACTOS SOBRE A SAÚDE DO SOLO. ESALQ-USP, 2022. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf >, acesso em: 17/03/2025.

TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 17/03/2025.

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