As bactérias fixadoras de nitrogênio não são mais uma novidade para a ciência e para a agricultura. Os fazendeiros as têm usado no cultivo de plantas da família das leguminosas por centenas de anos sem que soubessem, e a ciência as descobriu cerca de 130 anos atrás, no final do século XIX. Mas somente nos últimos anos a biodiversidade brasileira tem sido utilizada para expandir o uso dessas bactérias em diversas culturas.

Essas novas tecnologias começam a ganhar o mundo a partir de pesquisas realizadas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em outras instituições do Brasil. Eficazes para o crescimento das plantas como alternativa à utilização de compostos químicos, as estirpes de Azospirillum brasilense HM053 e HM210, selecionadas na UFPR pelo professor Fábio Pedrosa, serão agora estudadas nos Estados Unidos, a partir de um contrato de transferência de tecnologia firmado entre a a UFPR e a empresa americana PIVOT BIO, que tem sede na cidade de Berkeley, Califórnia.

Estes exemplares são estudados desde a década de 1990 pelo professor Pedrosa, do Núcleo de Fixação Biológica de Nitrogênio, e agora, a partir do contrato, poderão ser investigados também pela empresa norte-americana, que aposta nos biofertilizantes para suprir as necessidade de nitrogênio das plantas e para melhorar a sustentabilidade e a saúde do planeta por meio da inovação científica. Eles chegaram a visitar a UFPR duas vezes antes de assinar o contrato, via Agência de Inovação.

O professor Emanuel Maltempi de Souza, pesquisador do Núcleo de Fixação de Nitrogênio, lembra que é a primeira vez que uma empresa do exterior mira sua atenção às bactérias da biodiversidade brasileira. “Eles pretendem estudá-las e desenvolver pesquisas que podem resultar em um novo produto”, explica. O convênio leva em conta também  a lei da biodiversidade, que normatiza “o acesso ao patrimônio genético, proteção e acesso ao conhecimento tradicional associado e, a repartição de benefícios para a conservação e uso sustentável da biodiversidade”.

De acordo com a Agência de Inovação, responsável por intermediar o convênio, assinado pelo reitor Ricardo Marcelo Fonseca, o contrato tem como objeto o fornecimento de tecnologia e concessão de licença para uso e pesquisa e desenvolvimento de produtos comercial das cepas Azospirillum brasilense HM053 e HM210. O contrato tem validade de 4 anos para desenvolvimento dos estudos.

Segundo Maltempi, a empresa se interessou pelos resultados promissores apresentados pelos estudos realizados na UFPR. O professor explica que em todas as etapas do seu desenvolvimento, a pesquisa tomou como base o cenário e o contexto brasileiro, por isso não esperava que pudesse haver interesse de instituições de fora do país. “Eles levaram uma de nossas versões, mas há outras em desenvolvimento”, completa.

A nova versão de Azospirillum brasilense atualmente em desenvolvimento nos laboratórios da Universidade, chamada de 3.0, vai passar por testes em laboratório e pode ter seus primeiros resultados publicados a partir do ano que vem. A primeira versão das bactérias desenvolvidas na UFPR, chamadas de série Ab-V, estão no mercado desde 2010 e são utilizadas em para inocular cultura de milho e soja em milhões hectares em todo o Brasil.

O que fazem as bactérias fixadoras de nitrogênio?

A bactéria Azospirillum brasilense é uma bactéria fixadora de nitrogênio que pode impactar positivamente o crescimento das plantas, incrementando a produção de culturas tradicionais do solo brasileiro. Além de promoverem ganhos na produção, elas reduzem o consumo dos fertilizantes químicos e contribuem para o controle biológico de pragas e doenças vegetais. Outro diferencial é que não são transgênicas. Estirpes de Azospirillum brasilense selecionadas na UFPR já são usadas na cultura de milho e soja (junto com Bradyrhizobium) em milhões de hectares no Brasil.

O laboratório da UFPR também está investigando bactérias que aumentam a disponibilização de fosfato, outra nutriente essencial para as plantas de cultivo agrícola, de alto custo e com reservas mundiais limitadas. Neste momento, a equipe de cientistas trabalha na triagem de bactérias capazes de solubilizar fosfato, ou seja, disponibilizar para plantas o fosfato imobilizado no solo. De acordo com o professor, há entre 20 ou 30 microrganismos sendo estudados.

Fonte: Universidade Federal do Paraná – UFPR

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