Há 37 anos o bicudo está presente nas lavouras de algodão. A cultura sofreu diversas crises de custo de produção elevado, condições climáticas adversas e incidência de pragas e doenças. No entanto, o fator que mais se destaca na produção, é a infestação do bicudo (Anthonomus grandis).

O adulto possui coloração que varia do castanha quando jovem e cinza quando mais velho. Possui pelos dourados esparsos sobre as asas. Quando recém emergidos, possuem coloração avermelhada. Apresenta um rostro (bico alongado) escuro, medindo a metade do tamanho do corpo do inseto. Na extremidade apical, possuem peças bucais. No centro do rostro, situam-se as antenas, característica comum da família Curculionidae (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

O adulto é encontrado geralmente no terço médio da planta, especificamente nos botões florais.

Figura 1. Adulto de Anthonomus grandis

Fonte: Defesa Vegetal

A alimentação e a oviposição são dependentes da temperatura e da quantidade de botões florais. Em níveis de infestação entre 11-20%, o número de orifícios (oriundos da alimentação e da oviposição) pode ser de até dois. Quando a infestação está acima de 60%, os botões florais apresentaram até cinco orifícios de oviposição por botão (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

Figura 2. Danos nos botões florais por alimentação e oviposição do Bicudo.

Foto: INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015.

As larvas permanecem dentro dos botões florais, usando a estrutura como fonte de alimento e proteção dos agentes externos.

Figura 3. Larva do bicudo

Foto: Embrapa, 2007

No estabelecimento do algodão, os bicudos que restaram da entressafra são atraídos para a cultura recém-emergida. Os adultos quando incidem na lavoura na fase vegetativa, geralmente permanecem na bordadura. A movimentação inicia na fase reprodutiva, em que os botões florais atraem a praga (SANTOS, 1999).

Na fase reprodutiva até a chegada da maturação, o bicudo possui alimentação abundante, acumulando gordura para sobreviver na entressafra. Geralmente os bicudos sobrevivem e são suficiente para uma nova infestação na safra seguinte.

As maçãs ovipositadas do algodão que são formadas no final do ciclo, ajudam a desenvolver todas as fases de vida da praga. As estruturas se transformam em uma proteção para o inseto, não se abrem e não são colhidas. Os adultos vão sendo liberados gradativamente de dentro das cápsulas das maçãs (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

Figura 4. Maçã com fibra e sementes destruídas

Foto: Embrapa, 2007.

No interior das flores abertas, os adultos se alimentam dos grãos de pólen e pétalas. Quando há presença da larva, as pétalas não conseguem se abrir, ficam presas na base e com aspecto de “balão”.

Figura 5. Flores com aspecto de “balão”

Foto: Embrapa, 2007.

Quando as infestações são grandes, a planta do algodoeiro se mostra vigorosa e alta. No entanto, possui poucas maçãs viáveis.

Monitoramento

Deve ser constante, avaliando 250 botões florais/talhão (1 botão/planta), adotando como nível de controle até 5% de botões florais atacados pelo bicudo.

As armadilhas contendo feromônios também são adotadas como referência para a tomada de decisão. As armadilham devem ser instaladas no perímetro dos talhões a intervalos de 200 m, 50 dias antes da semeadura, permanecendo 9 semanas. Determina-se o índice BAS = bicudos/armadilha/semana (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

O índice indicará o número de aplicações a partir do surgimento dos botões florais:

  • Mais de 2 BAS (três aplicações) – faixa vermelha
  • Entre 1 e 2 BAS (duas aplicações) – faixa amarela
  • De 0 a 1 BAS (uma aplicação) – faixa azul
  • Zero BAS (nenhuma aplicação).

Figura 6. Armadilha usada para monitoramento do bicudo

Foto: INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015.

Quadro 1. Índice de captura na armadilha e tomada de decisão

Fonte: INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015.

Manejos

Tubo-Mata-Bicudo (TMB)

Pode-se utilizar de mecanismos de controle na entressafra, como tubo-mata-bicudo (TMB). Este dispositivo possui feromônio em seu interior.

VIVAN (2009) relatou que em locais onde houve o dispositivo, a população foi menor do que em locais que não se aderiu ao controle TMB. NEVES (2010), relatou que o uso de cola no dispositivo (por vezes os insetos podem se soltar do tubo), captura 10,5 vezes mais bicudos do que em armadilhas com feromônio.

Figura 7. Tubo-mata-bicudo

Foto: INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015.

Semeadura concentrada

A semeadura concentrada por fazenda, áreas vizinhas ou regiões próximas, dentro de 30-40 dias, faz com que haja maior uniformidade de plantio e, consequentemente, que a disponibilidade de botões florais e maçãs ocorra de forma simultânea. Essa medida evita que um talhão seja invadido por bicudos de lavouras vizinhas (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

Vazio sanitário

É o fator chave para a redução da população de pragas na lavoura. O algodão é praticamente o hospedeiro obrigatório para a reprodução da praga. Dessa forma, interrompe-se o crescimento populacional através do vazio sanitário.

O vazio sanitário para o estado de Mato Grosso está dividido em duas regiões: sul + centro e norte. Na I região, o vazio deve ser respeitado de 1º de outubro até 30 de novembro. Na região II, o vazio está compreendido de 15 de outubro até 14 de dezembro (INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA SEDEC/INDEA-MT Nº 001/2016).

Destruição dos restos culturais

A eliminação da soqueira é obrigatória por lei no Brasil para os estados do Ceará, Paraná, Bahia e São Paulo. Deve ser realizado até o dia 31 de agosto de cada ano agrícola (INSTITUTO BIOLÓGICO – APTA, 2016). No caso do Mato Grosso, a destruição das soqueiras deve ser realizada até o dia 30 de setembro para a região I e até dia 14 de outubro para a região II (INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA SEDEC/INDEA-MT Nº 001/2016).

Os produtores podem destruir a soqueira através de mecanização e utilização de herbicidas (2,4-D e glifosato), em uma ou duas aplicações, antes ou após as roçadas. Entretanto, a resistência do glifosato está limitando o controle do bicudo (Embrapa, 2016). Os restos do algodão, como sementes, fibras e, principalmente a soqueira (restos culturais) e a tiguera (plantas voluntárias), favorecem a continuidade do inseto na lavoura e podem ser o maior fator que eleva a população na safra (Embrapa, 2016).

Veja também: Mosca-branca no Algodão

É recomendado não se plantar milho após a colheita do algodão, devido à dificuldade de controle da soqueira e da tiguera (emergem primeiro e hospedam os bicudos na lavoura). A eficiência é elevada quando se combinam métodos mecânicos com químicos (aplicações de herbicidas) (Embrapa, 2016).

Controle cultural

Visa as práticas de manejo como:

  • Escolha de cultivar;
  • Planejamento da época e do local de plantio;
  • Densidade e espaçamento entre plantas;
  • Preparo adequado do solo;
  • Data de plantio;
  • Coleta de estruturas atacadas;
  • Época e modo de realização da colheita.

As cultivares de ciclo precoce e médio possuem frutificação mais concentrada e facilitam o manejo. As cultivares tardias possuem uma fase vegetativa maior e, geralmente coincidem com o período de grande densidade populacional (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

Controle químico

  • Aplicações na bordadura

Deve-se realizar aplicações sistematizadas de inseticidas nas bordaduras (30 metros) pois os adultos que estavam na área de refúgio são atraídos pelos semioquímicos emitidos pelo algodoeiro e infestam pela bordadura (Embrapa, 2016). Inicia-se a partir da segunda folha expandida até a fase de primeira maçã firme (intervalos de uma semana). Cria-se uma barreira química na bordadura.

  • Aplicações a partir do aparecimento do primeiro botão floral (fase B1)

As demais aplicações em toda lavoura, inicia-se a partir do surgimento dos primeiros botões florais, podendo reduzir a população da primeira geração de bicudos (intervalos de 5 dias).  Outro método são as aplicações de inseticidas quando surgir o primeiro capulho aberto (intervalo de uma semana) (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

  • Aplicação na desfolha do algodoeiro

Por fim, a aplicação de desfolha deve ser realizada para contribuir para a redução de bicudos da entressafra. Aplicação ocorre quando 60% das maçãs se apresentarem abertas e as que ainda não se abriram estiverem com mais de 25 dias (Embrapa, 2016). As plantas desfolham e, os bicudos que estiverem na planta em contato com o inseticida, morrem. O método ainda antecipa a colheita (Embrapa, 2016).



Cerca de 50% dos custos de inseticidas é decorrente ao controle do bicudo. Entretanto, voltado apenas para o controle dos adultos, já que as larvas e pupas se desenvolvem dentro das estruturas reprodutivas, dificultando o controle. Essa característica reduz a eficiência com produtos químicos e aumenta o número de aplicações (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

O adulto é a única fase de vida do inseto na qual ele fica exposto a ação do inseticida. Ainda, eles geralmente se encontram na porção mediana da planta e sob os botões florais, onde se alimentam e ovipositam. Assim, para atingir o alvo, as aplicações devem apresentar eficiência. Além disso, os bicudos ficam mais expostos nas horas mais quentes e ensolaradas do dia, tornando as aplicações ainda mais desfavoráveis.

As formulações oleosas (UBV e BVO), pó, SC e EW, oferecem melhores resultados de controle da praga. Segundo o INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO (2015), as formações com UBV e BVO irão contribuir significativamente para o controle do bicudo no algodão. Grupos químicos de organofosforados (paratiom metil, malathion, fenitrotion, etofenproxi, carbosulfan, etc.), e piretroides (betacyflutrin, zetacypermetrin, esfenvalerate, bifenthrin, deltametrin, alfacipermetrina, etc.) são os mais utilizados.

Os inseticidas mais usados no início do controle são os organofosforados. Cerca de 80 dias após a emergência (DAE), os piretroides são os mais usados no controle químico do bicudo. Entretanto, este princípio repele os ácaros-predadores, o que contribui para o estabelecimento de insetos-pragas. Já há relatos de resistência do bicudo aos piretroides (INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO, 2015).

Existem 106 produtos registrados para controle de bicudo no algodão (AGROFIT, 2020). Estão disponíveis grupos químicos de piretroide, antranilamida, álcool alifático, metilcarbamato de oxima, neonicotinoide, piridina azometina, feniltiouréia, fenilpirazol, pirazol, inorgânico precursor de fosfina, organofosforado, inorgânico, éter difenílico e metilcarbamato de benzofuranila. Pesquisas desenvolvidas recentemente no Laboratório de Manejo de Pragas da Unesp de Ilha Solteira/SP (PAPA & ZANARDI Jr., 2015 – dados não publicados), registraram que a mortalidade do bicudo via tarso é eficiente para os produtos que são utilizados no controle.

Tabela 1. Porcentagem de eficiência de mortalidade 36 horas após exposição via tarso

O número de pulverizações para controle do bicudo gera custos para o produtor que ultrapassa qualquer outro controle de praga, podendo chegar até 23 aplicações por safra agrícola.

Figura 8. Número médio de pulverizações realizadas para controle de diversas pragas.

Fonte: BELOT ET al. (2016 apud Embrapa)

Figura 9. Produtos registrados para o controle do bicudo, Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae), em lavouras de algodoeiro.

Fonte: Embrapa, 2016.

Considerações finais

O bicudo-do-algodoeiro é o maior causador de custos para a cotonicultura, além de possuir elevado potencial de dano. O manejo para controle da praga deve ser feito de forma adequada, abrangendo diversos métodos, como cultural, químico, vazio sanitário, semeadura concentrada, destruição de restos culturais e uso de TMB. As táticas de manejo são válidas para a pré-safra, safra e pós-safra.

O monitoramento deve ser realizado constantemente, visando identificar a praga no início de sua incidência. Além disso, deve-se conhecer os princípios ativos dos produtos e sua eficiência de controle. O controle do bicudo não está restrito para uma região de produção. A ação coletiva dos produtores é a chave para o sucesso do combate à praga, por isso deve ter apoio da pesquisa, extensão e fiscalização.



 

REFERÊNCIAS

AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: < http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >. Acesso em: 19.03.2020

GABRIEL, Dalva. O bicudo-do-algodoeiro. Documento técnico, v. 25, p. 1-20, 2016.

INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO. O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis BOH., 1843) nos cerrados brasileiros: Biologia e medidas de controle. Boletim P&D, número 2, maio de 2015. Disponível em: < http://www.imamt.com.br/system/anexos/arquivos/301/original/Boletim_Pesquisa_Bicudo_completo.pdf?1441842704>. Acesso em: 19.03.2020

INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA SEDEC/INDEA-MT Nº 001/2016. Disponível em: <http://www.indea.mt.gov.br/documents/9141339/0/04-13+-+Algod%C3%A3o+-+Instru%C3%A7%C3%A3o+Normativa+Conjunta+INDEA-MT_SEDEC+N.%C2%BA+001-2016%2C+de+3+de+maio+de+2016.pdf/12826e17-7f8d-be7c-67ff-379dcf4aa8dc >. Acesso em: 20.03.20

MIRANDA, J. E; RODRIGUES, S. M. Manejo do Bicudo-do-algodoeiro em Áreas de Agricultura Intensiva. Embrapa – Circular Técnica, Campina Grande, PB.

NEVES, R. C. S. Adequação de práticas culturais para o manejo de pragas do algodoeiro. 2010. Dissertação (Mestrado em Entomologia Agrícola) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2010. 99p.

SANTOS, W. J. Monitoramento e controle das pragas do algodoeiro. In: CIA, E.; FREIRE, E. C.; SANTOS, W. J. (Ed.). Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafós, 1999. p. 133−179

VIVAN, L. M. Impacto do tubo mata-bicudo sobre populações de bicudo nos refúgios no período de entressafra no estado do Mato Grosso. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 7, 2009, Foz do Iguaçu, PR. Anais. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2009. p.658-664.

Redação: Equipe Mais Soja.

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