O mercado mundial da soja é uma disputa entre três competidores, que se sobressaem em relação aos demais países: Brasil, Estados Unidos e Argentina. Por muito tempo, os Estados Unidos ocuparam a primeira posição no ranking mundial de produção e exportação de soja, até serem ultrapassados pelo Brasil há alguns anos. É possível que esse cenário se mantenha inalterado pelos próximos anos? E como esses dados se traduzem em termos de custo e lucro para os produtores?
Na Argentina, os custos operacionais para produção de soja são 43% menores que no Mato Grosso e 46% menores que em Iowa (EUA). Insumos como fertilizantes e produtos químicos, responsáveis pela grande parte dos custos no Brasil, representam pouco gasto aos produtores argentinos, que enfrentam baixa pressão de pragas e doenças e cujos solos apresentam alta fertilidade natural. Por outro lado, os custos com maquinário são comparativamente maiores na Argentina. Já nos Estados Unidos, os custos operacionais dividem-se igualmente entre os quatro fatores avaliados.
Figura 1. Custos operacionais para produção de soja em Iowa (EUA), Mato Grosso (Brasil) e Zona Nucleo (Argentina), em dólares (US$) por tonelada de grãos produzidos. Baseado em dados da safra 2020/21.
Fonte: The Daily Scoop. Imagem original disponível, clicando aqui.
Além de arcarem com os maiores custos operacionais, os produtores norte-americanos também possuem menor margem de lucro, devido ao alto custo da terra. De setembro de 2020 a setembro de 2022, o valor da terra para cultivo agrícola em Iowa aumentou em 28%, chegando a 26 mil dólares por acre. No câmbio atual, isso equivale a aproximadamente 360 mil reais por hectare.
Figura 2. Margem de lucro dos produtores de soja em Iowa (EUA), Mato Grosso (Brasil) e Zona Nucleo (Argentina), baseado no preço de comercialização dos grãos (dólares por tonelada ou por bushel).
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Quanto à expectativa de crescimento da produção, a projeção é que o Brasil mantenha a sua posição no topo do ranking pelo menos até 2030, embora EUA e Argentina também venham a apresentar incrementos na sua produção de soja. É improvável que os Estados Unidos voltem a ultrapassar o Brasil em termos de produção total, como ocorria há cerca de dez anos atrás. Uma das principais razões para isso é a falta de área disponível para expansão agrícola nos Estados Unidos, bem como a já citada baixa margem de lucro dos produtores norte-americanos.
Figura 3. Produção total de soja (milhões de toneladas) e taxa de crescimento da produção (%) nos Estados Unidos, Brasil e Argentina.
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De forma geral, cada país apresenta pontos fortes e fracos na competição pela maior produção e exportação de soja. O Brasil destaca-se pela alta margem de lucro e pela possibilidade de realizar duas safras de verão, mas peca pela alta dependência de insumos importados. Essa desvantagem tornou-se particularmente evidente na safra atual (2020/21), quando a baixa oferta de fertilizantes e agroquímicos resultou no esgotamento de estoques e aumento vertiginoso de preços.
Já nos Estados Unidos, a eficiente infraestrutura disponível para transporte e armazenamento de grãos contrapõe-se à baixa margem de lucro. Em 2019/20, os produtores norte-americanos passaram pelo oitavo ano seguido de margem estreita, e dependeram de auxílios governamentais para pagar os custos da produção. Por fim, os produtores argentinos beneficiam-se de baixos custos operacionais e baixa utilização de insumos, mas são prejudicados pela falta de suporte governamental e altas taxas de exportação, gerando um cenário de incerteza no país.
Figura 4. Pontos fortes e fracos da produção de soja nos EUA, Brasil e Argentina.
Fonte: The Daily Scoop. Imagem original disponível clicando aqui.
Portanto, na queda de braço entre os três maiores produtores e exportadores de soja do mundo, o Brasil está sagrando-se vencedor. Entretanto, a manutenção desse posto dependerá da capacidade de aprendermos com os pontos fortes dos nossos competidores, como a infraestrutura norte-americana e os baixos custos operacionais dos argentinos, adaptando esses quesitos à nossa realidade. Naturalmente, grande parte dessa evolução passa pelos investimentos e políticas governamentais a serem implantadas nos próximos anos, possibilitando uma exploração eficiente e sustentável do gigantesco potencial agrícola brasileiro.
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
SCHAFER, S. Global scorecard: see how the top soybean exporters stack up in terms of competitiveness. 2020. Disponível em: https://www.thedailyscoop.com/news/retail-business-news/retail-business-markets/global-scorecard-see-how-top-3-soybean-exporters