A produtividade da soja é o reflexo direto de diversas interações ambientais, e o coeficiente fototérmico (Q) surge como um dos parâmetros fundamentais para entender e otimizar esse processo. Esse coeficiente, que integra radiação solar e temperatura, é calculado dividindo a radiação solar incidente pela temperatura média do ar. Na prática, ele revela como essas variáveis influenciam o crescimento da planta, especialmente durante os estágios críticos de formação da produtividade.
Estudos em culturas como trigo e arroz já demonstraram a importância do coeficiente fototérmico em maximizar os rendimentos. Para a soja, a pesquisa recentemente revelou de forma detalhada como Q se relaciona com o potencial produtivo. Experimentos em ambientes subtropicais, realizados sem limitações de água, nutrientes ou estresses bióticos, mostram que o atraso na semeadura reduz linearmente os valores de Q, e são mais elevados em GMRs menores que 6.9 em semeaduras de final de setembro e outubro.
O coeficiente fototérmico se torna crucial no período entre os estágios R3 (início da formação de vagens) e R7 (maturação), quando a soja define sua produtividade. Simplificando, quanto mais tarde a semeadura, menor o coeficiente fototérmico, o que leva a uma queda na produtividade (Figura 1).
Figura 1. Relação entre a produtividade de grãos de soja e o coeficiente fototérmico (Q) entre os estágios R3 e R7 em cultivo de sequeiro (círculo amarelo) e irrigado (círculo azul) (A) e coeficiente fototérmico (Q) entre R3 e R7 em função da data de semeadura em cultivares precoces (GMR 4.8 – 5.4, losangos verdes), intermediário (GMR 5.5 – 6.9, círculos vermelhos) e tardios (GMR 7.0 – 8.2, triângulos amarelos) (B). Os dados foram coletados em quatro safras agrícolas (de 2011 /12 a 2014/15).
A compreensão desse mecanismo é ainda mais relevante quando se observa a forte relação entre potencial produtivo (PP) e Q em várias regiões do Brasil. Analisando 32 locais, é evidente que o incremento na produtividade está diretamente ligado à maior incidência de radiação solar, especialmente nas regiões mais ao sul do país.
Aqui, onde a radiação é mais intensa, os maiores valores de PP são alcançados. Essa relação destaca a importância de ajustes estratégicos na escolha do grupo de maturação e no momento da semeadura, maximizando a área foliar da planta no momento em que a radiação solar é mais abundante, tipicamente ao final de dezembro.
Em termos práticos, isso significa que produtores podem ter em mãos um importante fator de manejo: alinhar a data de semeadura e a escolha do grupo de maturação com as condições locais de radiação solar. A estratégia se traduz em maior eficiência na captura de luz solar, essencial para o desenvolvimento da soja e, consequentemente, para o alcance de um maior potencial produtivo.
Essa compreensão permite que decisões agronômicas sejam tomadas com base em dados concretos, proporcionando melhores produtividades e maior retorno econômico. Ao planejar a semeadura da soja de forma estratégica, é possível garantir que o período de maior área foliar da planta coincida com o pico de radiação solar, resultando em um aproveitamento energético ideal para o enchimento de grãos.
Referências bibliográficas
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas 2. ed. Santa Maria, 2022.