O sucesso na condução de uma lavoura de soja está diretamente ligado ao conhecimento que o técnico responsável tem sobre a planta, o ambiente e as práticas de manejo que devem ser empregadas. Nesse sentido, o entendimento sobre a planta se dá, em parte, através do aprendizado da fenologia, que compreende o estudo de como as plantas se desenvolvem.

Acompanhar a fenologia é levar em conta a “idade fisiológica” e não a “idade cronológica” da planta (Zanon et. al., 2018). Desse modo, tem-se uma melhor representação do exato momento em que a planta encontra-se e as necessidades em termos de condições ambientais e de práticas de manejo mais adequadas para cada estágio da cultura.

A escala fenológica, também conhecida como escala de desenvolvimento, é a caracterização dos estágios fenológicos das culturas e a padronização da terminologia de modo objetivo e preciso. Isso o permite uma melhor comunicação entre pesquisadores, extensionistas, assistentes técnicos e agricultores. A escala mais utilizada a nível mundial para a soja é a proposta por Fehr e Caviness (1977) a qual é dividida em duas fases: a vegetativa e a reprodutiva. A fase vegetativa é descrita pela letra V, acompanhada por um número que varia de 1 a n, indicando o número de folhas completamente desenvolvidas na planta em determinado momento, e pelos estágios VE e VC, que indicam emergência e estágio cotiledonar, respectivamente (Zanon et. al., 2018). A fase reprodutiva é representada pela letra R, seguida por um número de 1 a 8 indicando o estágio de desenvolvimento.

O estágio VE (emergência da cultura) é alcançado quando 50% das plantas estão com os cotilédones acima do solo formando um ângulo de 45° ou mais. Já o estágio VC (estágio cotiledonar) é quando o primeiro e único par de folhas unifolioladas estão suficientemente estendidas, de modo que seus bordos não mais se tocam.

Na sequência, nos próximos estágios vegetativos tem-se: V1, que ocorre quando a folha unifoliolada está completamente desenvolvida, devendo-se levar em conta que para a folha unifoliolada ser considerada como desenvolvida, a folha imediatamente acima dela não deve estar mais com os bordos dos lóbulos se tocando; V2, que é quando a primeira folha trifoliada está completamente desenvolvida, sendo também contabilizada quando a folha imediatamente acima dela não estiver mais com os bordos se tocando (Figura 1); V3, que se caracteriza pela segunda folha trifoliolada completamente desenvolvida; e em continuidade, os estágios vegetativos subsequentes são representados também pela letra V, seguido de um número até n, em que n representa o número de folhas trifolioladas completamente desenvolvidas na haste principal, iniciando-se a contagem a partir das folhas unifolioladas.

Figura 1 – Esquema do ciclo vegetativo com algumas das fases da planta de soja. Adaptado de Iowa State University, Special Report, nº 53, 1988.

Fonte: Agrolink(https://www.agrolink.com.br/culturas/soja/informacoes/caracteristicas_361509.html)

No campo nem sempre é possível verificar todas as folhas presentes nas plantas, pois podem já ter senescido ou sido eliminadas por ataque de alguma praga ou outro motivo. Neste caso, o agricultor deve considerar o número de nós na haste principal, sendo V1 o primeiro nó após os cotilédones, V2 o segundo nó, V3 o terceiro nó e assim sucessivamente.

O início da fase reprodutiva é representado pelo estágio R1, caracterizado pelo início do florescimento com o aparecimento de uma flor aberta em qualquer nó da haste principal. O R2 corresponde ao florescimento pleno e ocorre quando há uma flor aberta em um dos 2 últimos nós da haste principal.

O estágio R3 é o início da formação do legume (vagem) com 0,5 cm de comprimento presente em qualquer um dos 4 últimos nós da haste principal, com folhas completamente desenvolvidas, conhecido popularmente como “canivete”. Enquanto o estádio R4 é a formação de legumes, tendo um legume de 2,0 cm de comprimento em qualquer um dos 4 últimos nós da haste principal, com folhas completamente desenvolvidas.

O próximo estágio é o R5, ocorrendo o início do desenvolvimento dos grãos, tendo-se a presença de grãos com 3 mm de comprimento em legume, em um dos 4 últimos nós da haste principal, com folha completamente desenvolvida.

Quando se chega ao estágio R6, tem-se grão cheio ou completo. Neste há presença de legume contendo grãos verdes preenchendo as cavidades do legume de um dos 4 últimos nós da haste principal, com folhas completamente desenvolvidas. O início da maturação é representado pelo estágio R7, em que ocorre a maturação fisiológica e há a presença de um legume na cor madura na haste principal (Zanon et.al., 2018). Neste ponto o grão atinge o máximo de peso em matéria seca e se desliga fisiologicamente da planta. Mais adiante, quando há presença de 95% dos legumes na cor madura, na haste principal chega-se à maturidade de colheita, estágio R8.

Com objetivo de melhor representar o período de enchimento de grãos, Yorinori (1996) adaptou essa escala e subdividiu o estágio R5 em 5 sub-estágios: R5.1 – grãos perceptíveis ao tato (10% de granação); R5.2 – granação de 11% a 25%;  R5.3 – granação de 26% a 50%; R5.4 – granação de 51% a 75%; R5.5 – granação de 76% a 100%.

            Segundo Zanon et. al. (2018), além da divisão do desenvolvimento da planta de soja em fases vegetativa e reprodutiva e da caracterização de cada estágio de desenvolvimento pela escala de Fehr e Caviness (1977), outra possibilidade é dividir o ciclo de desenvolvimento da soja através das exigências da cultura. Como os subperíodos: semeadura – emergência; desenvolvimento vegetativo; florescimento; formação do legume; enchimento de grãos; e maturação fisiológica. Esta classificação leva em conta as necessidades e a forma de distribuição dos fotoassimilados entre os órgãos da planta durante o ciclo.

Todo esse conhecimento é fundamental quando se busca melhorar as práticas de manejo, de modo a atender às necessidades específicas das plantas em cada período, fase e/ou estágio de desenvolvimento, possibilitando a “construção” de lavouras mais eficientes e de alto rendimento. E isso, só é alcançado quando há conexão sólida entre pesquisa básica, pesquisa aplicada, ensino e extensão, de modo que as informações e tecnologias desenvolvidas sejam aplicadas de fato lá na “ponta”, na lavoura do produtor.

Referências:

ZANON, A. J. et. al., Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. Santa Maria: 2018, 136 p.

https://www.agrolink.com.br/culturas/soja/informacoes/caracteristicas_361509.html

Autor: Alex Maquiel Klein – Acadêmico do 8º semestre do curso de Agronomia e Bolsista do grupo PET Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

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