Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja, em Chicago, seguiram a tendência da semana anterior e continuaram recuando durante quase toda a corrente semana. O bushel chegou a bater em US$ 15,03 no fechamento do dia 26/05. Em 10 dias úteis, entre os dias 12 e 26 de maio, o bushel de soja perdeu US$ 1,57. A partir daí, um forte ajuste diário na quinta-feira (27) trouxe o fechamento para US$ 15,37/bushel, para o primeiro mês cotado, contra US$ 15,33 uma semana antes. Houve recuo acentuado, igualmente, junto ao farelo de soja, até o dia 26/05, com a tonelada curta atingindo a US$ 383,80 neste dia, perdendo, em 10 dias, US$ 67,10 e atingindo seu mais baixo preço desde o dia 14 de dezembro do ano passado. No dia 27 a mesma se recuperou um pouco e fechou em US$ 390,30. Já o óleo de soja também recuou, porém, em menor intensidade, oscilando bastante e se mantendo nos patamares que estão sendo vistos há mais de mês. Seu fechamento no dia 27/05 ficou em 66,81 centavos de dólar por libra-peso em Chicago.

Este movimento, que pode estar caracterizando uma mudança na tendência de preços que vinha ocorrendo em Chicago, tem como motivação o bom comportamento do clima nos EUA, com avanço significativo do plantio da soja na atual safra; e das reações da China aos preços altos, modificando suas fórmulas de rações para usar menos farelo de soja e milho, mas também deixando de comprar soja estadunidense nas últimas semanas. Além disso, os Fundos se desfizeram de muitas posições compradas diante do atual cenário fundamentalista.

Com o clima favorável, o plantio da soja, até o dia 23/05, atingia a 75% da área esperada nos EUA, contra a média histórica de 54% para esta época. Cerca de 41% das lavouras já emergiram, contra 25% na média histórica para esta época. Dito isso, é bom lembrar que as tensões climáticas irão até setembro naquele país. Portanto, pode haver reversão neste quadro positivo, especialmente se houver escassez de chuvas a partir de final de junho.

Por outro lado, na semana encerrada anteriormente, os EUA exportaram apenas 84.200 toneladas de soja referentes a safra 2020/21 e 96.000 toneladas referentes a safra nova, com a China não estando presente às compras desta nova safra, consolidando a quarta semana de ausência no mercado estadunidense. Isto se deve a margens industriais muito ruins para a soja dos EUA, enquanto o produto brasileiro se mostra mais competitivo para agosto e setembro. Quanto aos derivados de soja, as exportações de farelo, na semana em questão, somaram 189.400 toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado, enquanto para a safra nova o volume foi de 77.600 toneladas, superando o esperado pelo mercado. Quanto ao óleo de soja, para 2020/21, as vendas semanais acabaram sendo negativas, com o cancelamento de embarques ao redor de 4.500 toneladas. E não houve registros de vendas de óleo relativo à safra nova.

Chama muito atenção, para os menos atentos, a ausência da China no mercado, embora o país oriental tenha vindo comprar soja brasileira nesta semana, contratando entre 15 a 18 navios. Com isso, os prêmios médios nos portos brasileiros melhoraram um pouco, pois saíram dos menores níveis desde 2018, para algo em torno de menos 16 centavos de dólar por bushel. Como se nota, ainda assim negativos. Por enquanto, nossa soja continua mais barata do que a estadunidense, favorecendo nossas exportações aos chineses. (cf. Agrinvest Commodities)

Em abril, o Brasil vendeu para a China 5,08 milhões de toneladas de soja, contra apenas 315.000 toneladas em março. Mas o total de abril deste ano foi menor se comparado com abril do ano passado.

Enquanto isso, segundo a Reuters Internacional, as processadoras chinesas aumentaram suas compras, antecipando uma demanda maior por alimentação animal nos próximos meses diante de uma recuperação da suinocultura. Mas em pleno pico da retomada, novos surtos de Peste Suína Africana foram identificados, além de outras zoonoses, e dificultaram o movimento. Na outra ponta, os preços dos suínos e da carne suína vinham amargando baixas agressivas, comprometendo ainda mais o quadro. Assim, as margens de esmagamento na China passam por momentos bem difíceis diante dos elevados preços da soja, contendo a demanda, mesmo que pontualmente. Mesmo assim, as importações de soja pelo país oriental, em abril, somando todas as origens, atingiram a 7,45 milhões de toneladas, 11% a mais do que há um ano. E como já comentamos diversas vezes neste espaço, o Ministério de Agricultura e Assuntos Rurais da China determinou que especialistas em nutrição animal trabalhassem em fórmulas com a menor utilização de farelo de soja, o que já vem se confirmando em algumas empresas.

Neste último caso, segundo o portal internacional Global Times, a New Hope Liuhe, a maior indústria chinesa de ração, já está usando somente 10% de farelo em seus produtos desde o final de abril, comparado aos 13,2% de 2019 e 12,5% de 2020. Eles estão usando outros tipos de farelos e de proteínas, em substituição ao da soja. Como havíamos prevenido tempos atrás, os altos preços da soja são bons para quem produz, porém, em algum momento provocam reações dos consumidores, levando a um ajuste dos mesmos. No caso da soja, parece estar se iniciando este processo. Hoje, a China busca diminuir seu consumo de farelo de soja e, por consequência, a importação do grão. Mas, obviamente, este é um movimento de longo prazo, com efeitos mais agudos a ocorrerem nos próximos anos se a estratégia chinesa continuar. Para este ano, a China ainda deverá importar cerca de 100 milhões de toneladas de soja.

Por outro lado, a área a ser semeada com soja na China deverá diminuir em 5,4% em 2021/22, ficando ao redor de 9,3 milhões de hectares. O plano chinês é aumentar a área com milho, a qual deverá crescer 3% nesse novo ano. De fato, as importações do cereal, por parte da China, vêm crescendo nestes últimos tempos, tendo em maio já atingido a 11 milhões de toneladas procedentes dos EUA. Neste contexto todo, o governo chinês passou a interferir sobre o andamento dos preços locais.

E no Brasil, os preços voltaram a recuar, puxados também pela estabilização do dólar em torno de R$ 5,30. Assim, além do dólar mais baixo, em relação ao mês passado, Chicago recuou bastante e os prêmios nos portos permanecem negativos em sua maioria.

Diante disso, a média gaúcha no balcão recuou para R$ 162,85/saco, perdendo cerca de quatro reais por saco na semana. Nas demais praças nacionais o produto igualmente recuou, com os preços médios oscilando entre R$ 156,00 a R$ 162,00/saco.

O recuo se deu igualmente, além dos movimentos externos já comentados, à menor procura interna pela soja, pois houve recuo na demanda de farelo de soja no Brasil, diante do fato de que boa parte dos compradores estar abastecida.

Soma-se a isso o fato de que a estimativa para a safra 2020/21 não para de crescer. Agora a mesma seria de 137,2 milhões de toneladas, aumentando 7,9% em relação ao ano anterior. A área semeada teria aumentado em 4%, ao atingir 38,93 milhões de hectares no país, confirmando então aumento da produtividade média nacional. (cf. Safras & Mercado)

Por sua vez, as exportações de soja, por parte do Brasil, começam a ser revistas para baixo neste mês de maio. A estimativa mais recente da Anec dá conta de um volume de 14,9 milhjões de toneladas, contra um total inicial previsto de 16,2 milhões. Até o momento, a máxima histórica de vendas externas foi atingida em abril, com 15,7 milhões de toneladas, segundo a Associação. Lembrando que em maio do ano passado o Brasil exportou 13,8 milhões de toneladas de soja. Quanto ao farelo de soja, a expectativa é de que o país, em maio, atinja um total de 1,9 milhão de toneladas exportadas (100 mil a mais do que o projetado anteriormente), e mais 21.991 toneladas de milho, até então ausente das projeções da Anec.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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