Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
Nesta semana mais curta em Chicago, diante do principal feriado anual nos EUA ocorrido quinta-feira (25), que é o dia de Ação de Graças, as cotações da soja se mantiveram relativamente estáveis. O fechamento para o primeiro mês, na quarta-feira (24), ficou em US$ 12,66/bushel, contra US$ 12,65 uma semana antes. Destaque para o fato de que as cotações do farelo, depois de terem atingido recordes nas últimas semanas, cederam, perdendo quase 20 dólares por tonelada curta, ao fechar o dia 24/11 em US$ 357,60 em Chicago. Enquanto isso, o óleo voltou a ultrapassar o teto dos 60 centavos de dólar por libra-peso, enquanto as altas nas cotações do trigo também ajudaram a puxar o valor da soja nestas duas últimas semanas.
Enquanto isso, a colheita de soja nos EUA, até o dia 21/11, atingia a 95% da área total, contra 96% na média histórica para esta data.
Já as exportações estadunidenses, na semana encerrada em 18 de novembro, atingiam a 1,7 milhão de toneladas, ficando dentro das projeções do mercado. Em todo o atual ano comercial os EUA embarcaram 18,2 milhões de toneladas, ou seja, 27% a menos do que há um ano.
Por sua vez, a demanda chinesa por soja continua privilegiando o produto brasileiro. Em outubro passado o país asiático importou 775.331 toneladas de soja dos EUA, representando 77% a menos do o importado no mesmo mês do ano passado. Já do Brasil, no mesmo mês, os chineses importaram 3,3 milhões de toneladas de soja, porém, ainda com uma redução de 22% em relação a outubro de 2020. Assim, a China importou um total de 5,1 milhões de toneladas em outubro passado, sendo este volume 41% menor do que o importado um ano antes. O total de outubro é o menor desde março de 2020, indicando que a China vem comprando menos soja em termos gerais. De fato, nos primeiros 10 meses de 2021 a China importou 79,1 milhões de toneladas de soja, ou seja, 5% abaixo do importado no mesmo período do ano passado. Segundo o mercado, parte desta redução se deve às margens de esmagamento muito baixas na China devido a situação ruim da suinocultura local. Já a preferência pelo produto brasileiro se dá em função da boa competitividade do produto nacional, tanto pelo preço quanto pela qualidade do grão, o qual oferece maior teor de proteína e óleo quando esmagado. Tradicionalmente, a soja dos EUA domina o mercado chinês no quarto trimestre do ano devido ao término da colheita no país norte-americano. Outro fator que tem pesado em favor da soja brasileira é a forte desvalorização do Real, a qual deixa a oleaginosa nacional mais competitiva no mercado externo. Neste contexto geral, pesa cada vez mais o desenrolar da safra sul-americana. Neste caso, aumenta a preocupação em torno de dois fatores: a falta de chuvas no sul do Brasil e parte da Argentina, obrigando muitos produtores ao replantio; e a redução de área semeada na Argentina, devido ao reintegro (tarifa imposta nas exportações) aplicado pelo governo local. As últimas estimativas dão conta de uma área argentina que será a menor dos últimos 15 anos, para a soja, nesta safra que está sendo semeada neste momento. Com isso, as cotações em Chicago têm encontrado mais um motivo para, por enquanto, se manterem um pouco acima dos US$ 12,00/bushel. (cf. Notícias Agrícolas) Lembrando que no ano passado, no final de novembro, o bushel de soja girava ao redor de US$ 11,90. Portanto, não muito distante do que está hoje em Chicago.
Por sua vez, na América do Sul, mesmo com a menor produção na Argentina, o volume total de soja a ser colhido na safra 2021/22 está sendo esperado em 212,5 milhões de toneladas, com um aumento de 8,5% em relação ao ano anterior, especialmente graças ao crescimento na produção brasileira. Este total sul-americano corresponderia a 55% da oferta mundial da oleaginosa. Serão 63,8 milhões de hectares plantados com soja na região, com aumento de 3% sobre o ano anterior, na medida em que a maior área brasileira compensaria a redução argentina. (cf. Cogo Inteligência) Algo a ser confirmado, pois a Argentina ainda tem muito a semear, já que apenas 32% da área esperada havia sido plantada até o início da presente semana no vizinho país.
E aqui no Brasil os preços subiram novamente, puxados pela manutenção de um câmbio favorável (R$ 5,58 na manhã do dia 25/11), e pela reação de Chicago nas últimas duas semanas, quando o bushel ganhou quase 6%. Assim, o balcão gaúcho fechou a presente semana com o saco de soja valendo R$ 158,97 na média estadual, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 149,00 e R$ 161,00/saco. Esse retorno aos preços anteriores levou muitos produtores a venderem soja que ainda estava estocada de safras passadas.
O plantio da nova safra brasileira de soja atingia a 84% da área esperada até o dia 19/11, contra a média histórica de 77% para esta época. No Mato Grosso e Mato Grosso do Sul o plantio chegava a 99%, no Paraná a 97% (cf. Safras & Mercado). No Rio Grande do Sul, o mesmo atingia a 52%, contra 48% na média histórica. (cf. Emater) Se o clima ajudar, a safra nacional poderá chegar a 144 milhões de toneladas, havendo analistas privados já avançando a possibilidade de quase 146 milhões.
Já em termos de exportações, nas duas primeiras semanas de novembro o Brasil enviou ao exterior um total de 1,5 milhão de toneladas, sendo que, em todo o ano de 2021, as vendas externas nacionais somam, 86,2 milhões de toneladas, contra 82 milhões em todo o ano de 2020. (cf. Secex)
Enfim, a Embrapa Agrossilvipastoril, de Sinop-MT, divulgou o primeiro Boletim Agrometeorológico da safra 2021/2022 em Mato Grosso. De acordo com a publicação, a distribuição das chuvas naquele Estado tem sido favorável para a semeadura da soja em todas as regiões. Este clima positivo, conforme a Conab, teria permitido o plantio de 84,3% da área esperada até o final de outubro, contra apenas 44,7% na mesma época do ano passado, quando a região enfrentou forte estiagem.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).