Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
As cotações do trigo, em Chicago, continuaram despencando nesta semana. O primeiro mês cotado chegou a bater em US$ 7,92/bushel no dia 06/07. Após ajuste técnico (tomada de lucros), o fechamento desta quinta-feira (07) ficou em US$ 8,24/bushel, contra US$ 8,68 uma semana antes. Lembrando que a média de junho ainda fechou em US$ 10,10/bushel. Mesmo assim, um recuo de 11,4% em relação a maio. Para comparação, em junho de 2021 a média ficou em US$ 6,66/bushel.
Esta significativa baixa dos preços mundiais do trigo está relacionada ao fato de que a Ucrânia teria encontrado um meio de escoar seu produto, mesmo em plena guerra, segundo o chefe do grupo suíço de produtos de panificação Aryzta. Segundo a fonte, “quando os navios puderem deixar o porto (ucraniano bloqueado) de Odessa novamente, de maneira controlada, os preços vão se corrigir até certo ponto. O fator decisivo será se os agricultores da Ucrânia poderão semear trigo de inverno no outono europeu, que começa em 21 de setembro”. Caso esse último ponto não ocorra, a tendência será novo aumento dos preços mundiais, pois haveria escassez de 30% de trigo no mercado mundial. Lembrando que as exportações de grãos da Ucrânia caíram 43% em relação ao ano anterior, ficando em 1,41 milhão de toneladas em junho. Todavia, as exportações de grãos, para o total do ano comercial 2021/22, encerrado em 30 de junho, aumentaram 8,5%, para 48,5 milhões de toneladas, impulsionadas por fortes embarques anteriores à invasão russa em 24 de fevereiro. A própria exportação de trigo aumentou para 18,7 milhões de toneladas no ano comercial que acaba de findar, contra 16,6 milhões no ano anterior.
Outro fator baixista no mundo está na safra recorde da Austrália e, mais recentemente, na informação de que o Canadá semeou a sua maior área de trigo nesta primavera do Hemisfério Norte, nestes últimos nove anos. O país prevê plantar, em trigo, um total de 10,3 milhões de hectares, sendo a maior área desde 2013. O aumento de área é de 9% sobre o ano anterior. (cf. Statistics Canada)
Enquanto isso, na União Europeia, a Comissão local reduziu sua previsão para a safra de trigo macio em 2022/23, porém, manteve suas projeções de exportações recordes. Assim, a produção ficaria em 125 milhões de toneladas, sendo 5,4 milhões abaixo do projetado um mês atrás, e abaixo das 130,1 milhões colhidas em 2021/22. Já para as exportações a expectativa é de um volume ao redor de 38 milhões de toneladas, o que seria um recorde para o bloco, superando em 8 milhões o estimado para 2021/22. Dito isso, com a redução na projeção de produção, os estoques de trigo macio, no bloco europeu, ficariam em 13,2 milhões de toneladas, ou seja, um recuo de 4 milhões em relação ao ano anterior.
Em paralelo, na Argentina o plantio de trigo, para a safra 2022/23, é o mais atrasado da última década, segundo a Bolsa de Comércio de Rosário. Com isso, poderá haver novo corte na área semeada do país, atualmente prevista em 6,3 milhões de hectares para o trigo. O problema central é a continuidade do déficit hídrico no vizinho país.
Outrossim, a colheita do trigo de inverno nos EUA, até o dia 03/07, atingia a 54% da área, contra 48% na média histórica. Já as condições das lavouras deste trigo, ainda a colher, apresentavam-se com 31% entre boas a excelentes, 26% regulares e 43% entre ruins a muito ruins. Já o trigo de primavera apresentava 20% de suas lavouras germinadas, contra 57% na média histórica para a data. Ao mesmo tempo, as condições das lavouras deste trigo registravam 66% entre boas a excelentes, 26% regulares e 8% entre ruins a muito ruins.
E no Brasil, os preços estabilizaram, porém, mantendo o viés de alta. Ou seja, por enquanto, devido à nova desvalorização do Real e a escassez de produto nacional, o recuo das cotações internacionais não está atingindo os preços nacionais. Entretando, a forte queda nos valores mundiais pode frear o ímpeto exportador que ainda possa existir no país.
Assim, em junho, os preços médios seguiram recordes no Rio Grande do Sul (R$ 2.147,24/tonelada) e em Santa Catarina (R$ 2.094,40/tonelada), considerando-se a série histórica do Cepea/Esalq, iniciada em 2004. No Paraná e em São Paulo, as médias de junho foram as maiores desde 2013. E na semana, a média gaúcha fechou, no balcão, em R$ 114,21/saco, com regiões gaúchas pagando R$ 115,00, enquanto no Paraná os valores oscilaram entre R$ 110,00 e R$ 112,00/saco.
Dito isso, o plantio no Paraná chegava a 96% da área neste início de semana, enquanto no Rio Grande do Sul o mês de junho fechava com 60% da área semeada, contra 80% um ano antes e 81% na média histórica. (Deral e Emater)
Por sua vez, os moinhos brasileiros apontam para novos reajustes no preço da farinha e derivados de trigo no país, mesmo com a queda nos preços externos. Isso porque, enquanto o custo do trigo, para os moinhos, teria subido 30%, no acumulado do ano, o repasse aos consumidores teria sido de 15%. Portanto, haveria a necessidade de repassar outros 15%, pois as indústrias não têm interesse em reduzir suas margens de ganho, em alguns casos já parcialmente comprometidas. A situação interna somente poderá melhorar, para o consumidor, a partir de fins de setembro, com a entrada da nova safra, desde que a mesma não sofra quebras importantes. Na prática, as fortes exportações deste ano, puxadas pela elevação de preços mundiais e a ausência da Ucrânia no mercado, começam a ter seus efeitos negativos sobre a oferta de trigo no mercado interno brasileiro, pois elas reduziram em mais de 3 milhões de toneladas a disponibilidade local.
Enfim, a Conab revisou novamente para cima a futura produção nacional de trigo, projetando um total de 9 milhões de toneladas em 2022. Em isso se confirmando, estaremos diante de um aumento de 17,6% sobre a safra anterior. A área de trigo deverá ser a maior nos últimos 32 anos no país. De forma geral, o Brasil já teria semeado 65% da área esperada, que é de 2,9 milhões de hectares (perde apenas para os 3,28 milhões de hectares semeados em 1990). A Conab igualmente espera um ganho de produtividade ao redor de 10,3%, com a mesma atingindo a 3.000 quilos/hectare. 32 anos atrás esta produtividade era de 1.000 quilos/hectare. Em tudo isso ocorrendo, o Brasil deverá importar, em 2022/23, 6,5 milhões de toneladas e exportar 2,5 milhões, lembrando que no atual ano comercial, que está se encerrando em julho, o país deverá importar 6 milhões de toneladas e exportar 3,2 milhões.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).