Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do milho em Chicago voltaram a subir fortemente na semana e romperam o teto dos US$ 7,00/bushel, fechando esta quinta-feira (29) em US$ 7,02/bushel, contra US$ 6,50 uma semana antes.
O plantio de milho nos EUA, até o dia 25/04, atingia a 17% da área, contra 20% na média histórica. Já os embarques do cereal, por parte do país norte-americano, somaram 1,95 milhão de toneladas na semana anterior, ficando acima do esperado pelo mercado. Os EUA, no ano comercial, já embarcaram 41,2 milhões de toneladas de milho, volume 61% acima do registrado na mesma época no ano passado.
Aqui no Brasil, a pouca oferta disponível e uma demanda aquecida, somada a problemas importantes de clima na safrinha, mantêm os preços em alta. Os mesmos já estão em níveis de recordes históricos em valores reais em muitos locais do país. A média no balcão gaúcho atingiu a R$ 85,67/saco na semana, enquanto nas demais praças nacionais os valores oscilaram entre R$ 77,00 e R$ 99,00/saco, sendo que o CIF Campinas fechou em R$ 102,00/saco. Já o indicador ESALQ/BM&FBovespa fechou em R$ 98,70/saco no dia 23/04, um recorde real para a série.
Por sua vez, na B3, o pregão da quinta-feira (29) iniciou com o contrato maio valendo R$ 105,17/saco, enquanto julho estava em R$ 105,65, setembro em R$ 102,70 e novembro em R$ 103,80/saco.
Além do atraso na colheita da soja, a qual atrasou a semeadura do milho safrinha, desde então a safra vem sofrendo com as poucas chuvas nas regiões produtoras. A tendência é um nítido recuo na produtividade das lavouras e, portanto, na produção final. No Paraná e no Mato Grosso do Sul a situação já é crítica. A umidade dos solos está em seu nível mais baixo dos últimos 30 anos. No Paraná, nos primeiros 25 dias de abril chouve 12mm, contra uma média histórica de 90,3mm para o mês. Já se calcula uma quebra de 21% na safrinha de milho deste ano em relação à média dos últimos 15 anos. No Mato Grosso do Sul o cenário aponta 29,9mm de chuva entre 20/03 e 25/04, contra a média de 125,7mm para o período. No final de abril houve chuvas interessantes naquela região mas ainda insuficientes para reverter o quadro. Já no Mato Grosso o quadro climático foi melhor, com 73,7mm nos primeiros 25 dias de abril, porém, ainda abaixo da média que é de 101,8 mm. Neste Estado a recuperação das lavouras da safrinha pode ocorrer desde que haja chuvas adequadas nas próximas semanas. (cf. Geosys Brasil)
Nestas condições, se o quadro não melhorar, não será surpresa se a safrinha resultar em uma produção final abaixo de 75 milhões de toneladas, trazendo a safra total nacional para níveis ao redor de 100 milhões de toneladas apenas, contra expectativas iniciais que chegaram a bater em 112 milhões e expectativas atuais que giram entre 107 e 109 milhões de toneladas.
Dito isso, no Rio Grande do Sul, a colheita da safra de verão de milho se aproxima de 90%, havendo ainda regiões com déficit hídrico. Devido à seca na primavera passada, a safra gaúcha de milho ficaria em 4 milhões de toneladas, contra expectativas iniciais em 5,9 milhões.
No Mato Grosso do Sul, diante dos problemas climáticos existentes, a produção final da safrinha pode ficar abaixo de 9 milhões de toneladas, lembrando que 44% da área local foi semeada fora da janela ideal.
No Paraná, segundo o Deral, enquanto o plantio da safrinha de milho está encerrado, as condições das lavouras voltaram a piorar, com apenas 40% delas estando hoje em boas condições, 42% em situação média e 18% em condições ruins.
Em Goiás, na medida em que a safrinha preocupa, os preços sobem. O preço para entrega futura do milho safrinha atingiu a R$ 73,00/saco, enquanto o produto disponível bate em R$ 82,00/saco. Cerca de 30% das lavouras goianas foram plantadas fora da janela ideal.
Enfim, de acordo com a Secex, a exportação de milho por parte do Brasil, nos primeiros 15 dias úteis de abril, atingiu a 130.147 toneladas, sendo 44% do total exportado em março. Mesmo assim, o volume exportado neste mês de abril está mais de 1.900% acima do exportado em abril de 2020. O preço da tonelada exportada do cereal fica atualmente em US$ 240,40.
Neste momento, indica-se entre 20 a 25 milhões de toneladas de milho já comprometidas com a exportação no Brasil. A expectativa é de que o Brasil, neste ano comercial, atinja a 35 milhões de toneladas vendidas ao exterior. Se isso vier a ocorrer, a oferta interna ficará em níveis críticos diante da quebra da safrinha, fato que manterá os preços locais em elevação para o próximo ano. Mas a valorização recente do Real segura as exportações no momento, já que o mercado interno está pagando mais do que o mercado externo. Isso pode levar muitas tradings a reverter volumes já vendidos ao exterior para o mercado interno. Hoje o milho brasileiro é o mais caro do mundo. Por exemplo: enquanto um comprador mundial adquire uma tonelada de milho argentino a US$ 220,00, aqui no Brasil a mesma está em US$ 283,00. Desta forma, as tradings redirecionam para o mercado interno o produto que estava previsto para exportação. Este movimento pode segurar os preços do milho nas próximas semanas, caso ele seja expressivo.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).