Com o surgimento da tecnologia RR, assumiu-se uma nova dinâmica no controle de plantas daninhas de culturas como soja e milho, utilizando o glifosato como principal ferramenta de manejo. Oficialmente, segundo Adegas et al. (2010), o glifosato começou a ser utilizado em pós emergência na cultura da soja na safra 2005/2006, passando a ser um dos principais herbicidas utilizados no controle de plantas daninhas. Entretanto a constante utilização do herbicida no controle de plantas daninhas aumentou a pressão de seleção dessas daninhas, selecionado biótipos resistentes ao herbicida.

Várias plantas daninhas passaram a desenvolver resistência ou tolerância ao herbicida, dificultando o controle dessas daninhas, dentre elas o capim-amargoso (Digitaria insularis), resultando em redução da produtividade das culturas cultivadas e maiores custos de controle dessas plantas daninhas.

O capim-amargoso, como é popularmente conhecido é uma planta daninha pertencente à família Poaceae, segundo Lorenzi (2014), é considerada uma planta perene, herbácea, cuja altura varia normalmente entre 0,5 – 1,0 m, sendo capaz de formas touceiras e cuja reprodução pode ocorrer por meio de sementes ou curtos rizomas.

Figura 1. Plântula de capim-amargoso (A), sementes de capim-amargoso (B).

Adaptado: Lorenzi (2014).

A problemática da resistência do capim amargoso ao glifosato preocupa agricultores, segundo dados do grupo Supra Pesquisa, a planta daninha pode causar perdas de produtividade de 21% na soja com apenas uma planta por metro quadrado.

Figura 2. Interferência de diferentes densidades populacionais de capim-amargoso sobre a produtividade da soja.

Fonte: Grupo Supra Pesquisa.

Além disso, a elevada produção de sementes e facilidade de dispersão das mesmas, tornam o capim-amargoso uma planta de rápida disseminação.

Figura 3. Planta adulta de capim-amargoso.


Veja também: Interferência da buva e capim-amargoso na soja


No Brasil, essa planta daninha desenvolveu resistência aos herbicidas inibidores de EPSPs em 2008 (weedscience.org), sendo o glifosato o principal deles. A resistência foi observada por Adegas & Gazziero (2008) em lavouras de milho e soja. Após esse evento, em 2016 foi observada por Melo (2016) a resistência da planta daninha a herbicidas inibidores da ACCase na cultura da soja.



Segundo Yamashita & Guimarães (2013), são três os principais fatores que afetam a evolução da resistência de plantas daninhas a herbicidas:

  • fator genético;
  • fator bioecológico;
  • fator agronômico.

Dentre as principais variáveis envolvidas da seleção de biótipos resistentes destacam-se a o tipo de fecundação e adaptabilidade da espécie; a taxa de reprodução, densidade de plantas, sensibilidade ao herbicida; sistema de cultivo, prática culturais e frequência de aplicação de herbicidas de mesmo mecanismo de ação.

A elevada frequência de exposição das plantas daninhas a herbicidas de mesmo mecanismo de ação é uma das principais formas de seleção dos biótipo resistentes. A medida em que a utilização de certo produto passa a se tornar rotina no sistema de produção, diferentes mecanismos de resistência da planta daninha passam a se adaptar a ação do herbicida, o que resulta nos casos de resistência.

O mesmo pode ser observado com o capim-amargoso, pois a medida que o glifosato passou a ser amplamente e frequentemente utilizado nos cultivos de soja e milho, e seleção dos biótipos resistentes e disseminação das sementes dos mesmo contribuiu para o aumento populacional de indivíduos resistes ao herbicida. Sendo assim, é fundamental pensar em estratégias que permitam o controle eficientes dessa planta daninha minimizando danos econômicos decorrentes da perda de produtividade dos cultivos agrícolas.

Dentre as alternativas disponíveis, uma das principais é a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, sendo uma das opções a utilização do herbicidas inibidores da ACCase que além do controle do capim-amargoso também proporciona o controle de gramíneas como capim-colchão, capim-marmelada, milho-tiguera entre outros. Outras alternativas de produtos também apresentam satisfatório controle da planta daninha, conforme observado por Grigolli (2017) onde o autor avaliou a eficiência de diferentes herbicidas no controle do capim-amargoso com e sem roçada mecânica. Os herbicidas avaliados podem ser observados na tabela 1.

Tabela 1. Herbicidas, estádio de aplicação do capim-amargoso, dosagem (mL.ha-1) e ingrediente ativo utilizados no experimento. Maracaju, MS, 2017. (Grigolli, 2017).

Fonte: Grigolli (2017).

Conforme apresentado por Grigolli (2017), sete herbicidas apresentaram controle do capim-amargoso superior a 80% para o controle químico sem a roçada, sendo os ingredientes ativos Clethodim (87% e 91%); Quizalofop-P-Metílico (85%); Clethodim + Haloxifop-P-Metílico (91%); Clethodim + Quizalofop-P-Metílico (90%); Clethodim + Quizalofop-P-Tefuril (86%) e Clethodim + Glufosinato Amônio (85%).

Figura 4. Eficiência de controle de capim-amargoso sem roçada mecânica aos 28 dias após a aplicação dos tratamentos. Maracaju, MS, 2017. (Grigolli, 2017).

Barras seguidas da mesma cor são estatisticamente iguais pelo teste de Scott-Knott (p<0,05).
Fonte: Grigolli (2017).

Conforme observado por Grigolli (2017), além do uso de herbicidas de diferentes mecanismos de ação, práticas como a rocada das áreas infestadas de capim-amargoso contribuem para o controle da planta daninhas, aumentando a eficiência de controle dos herbicidas aplicados no rebrote do capim-amargoso (figura 5).

Figura 5. Eficiência de controle de capim-amargoso com roçada mecânica aos 28 dias após a aplicação dos tratamentos. Maracaju, MS, 2017.

Barras seguidas da mesma cor são estatisticamente iguais pelo teste de Scott-Knott (p<0,05).
Fonte: Grigolli (2017).

O autor destaca que a aplicação dos herbicidas após a roçada do capim-amargoso aconteceu após a emissão de novas brotações. Confira o trabalho completo de Grigolli clicando aqui.

Além da prática da roçada e da utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação, outras alternativas interessantes podem auxiliar no controle do capim-amargoso, sendo uma delas a utilização de herbicidas pré-emergentes, atuando no banco de sementes do solo e “freando” o fluxo de emergência das plantas daninhas, assim como a rotação de culturas e utilização de culturas que possibilitem boa cobertura do solo com seus resíduos culturais.

Assim como a buva, o capim amargoso é uma planta daninhas que precisa ser manejada com cautela, evitando a desenvolvimento de novas resistências a herbicidas. O controle da planta daninhas deve ser eficaz, evitando a matocompetição e com ela perdas de produtividade da soja, para tanto, é fundamental pensar na lavoura como um sistema de cultivo, visando não só o controle das plantas daninhas na safra principal, mas também nas demais safras e períodos entre safra.



Referências:

ADEGAS, F. S. DIAGNÓSTICO DA EXISTÊNCIA DE Digitaria insularis RESISTENTE AO HERBICIDA GLYPHOSATE NO SUL DO BRASIL. XXVII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, jul. 2010.

GRIGOLLI, J. F. J. MANEJO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURAS DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja safra 2016/2017, disponível em: < http://www.fundacaoms.org.br:8080/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/269/269/5ae0947f6d6c239c33990fa9c4cbf2b40e9a4fa66a99d_capitulo-04-plantas-daninhas-somente-leitura-.pdf>, acesso em: 08/09/2020.

LORENZI, H. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS: PLANTIO DIRETO E CONVENSIONAL. Instituto Plantarum, 2014.

WEEDSCINCE. INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE. Weedscience.org, disponível em: <http://weedscience.org/Pages/Case.aspx?ResistID=5350>, acesso em: 08/09/2020.

WEEDSCINCE. INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE. Weedscience.org, disponível em: <http://weedscience.org/Pages/Case.aspx?ResistID=13043>, acesso em: 08/09/2020.

YAMASHITA, O. M.; GUIMARÃES, S. C. RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AO HERBICIDA GLYFOSATE. VARIA SCIENTIA AGRÁRIAS, v.03, n.1, p.189-215, 2013.

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