A falta de água é um dos principais desafios para a produção agrícola no mundo. O déficit hídrico pode ocorrer em diversas regiões produtoras devido a fatores como chuvas irregulares, longos períodos de seca e mudanças climáticas. No Brasil, essa limitação hídrica tem um impacto significativo, especialmente no Sul do país, onde as perdas podem chegar a 3.000 kg/ha, representando até 50% do potencial produtivo. Esses números evidenciam a necessidade de estratégias eficazes para mitigar os efeitos da falta de água e manter a produtividade das lavouras.
Quando a planta enfrenta falta de água, ela ativa mecanismos para se adaptar e evitar desidratação. Alguns exemplos incluem o fechamento dos estômatos (que regula a perda de água), o enrolamento das folhas, desenvolvimento de tricomas, a redução da área foliar pela senescência precoce de folhas e o desenvolvimento de raízes mais profundas (Figura 1). No entanto, essas mudanças também afetam a fotossíntese, principal processo responsável pelo enchimento dos grãos, reduzindo assim a produtividade.
Figura 1. Sintomas visuais da deficiência hídrica em soja aos 12 dias de supressão hídrica (A) e diferenças morfológicas em soja cultivada no município de Alegrete (safra 2021/22) em ambiente de sequeiro e irrigado por pivô central (B).
A demanda de água pela planta é controlada por dois fatores principais: o déficit de pressão de vapor (demanda atmosférica, ligado à temperatura e umidade relativa do ar) e o índice de área foliar (IAF), que mede o tamanho da superfície das folhas em relação ao solo. Quando há menos água no solo, a planta percebe essa limitação, ajusta seu crescimento e aumenta a prioridade para as raízes. Ao mesmo tempo, o fechamento dos estômatos reduz a transpiração, mas também limita a entrada de dióxido de carbono (CO₂), essencial para a fotossíntese. Com menos água disponível, também há dificuldade na absorção de nutrientes e aumento do estresse térmico, prejudicando ainda mais o desempenho da planta.
Ou seja, a planta no primeiro momento, aumenta a produção, acúmulo e translocação de ácido abscísico para a parte aérea da planta. Em segundo momento, ocorre a redução do crescimento foliar e a antecipação da senescência foliar, para manter a taxa de transpiração e evitar o rompimento da coluna de água do xilema. Após, ocorre o fechamento estomático (induzido pelo ácido abscíciso), que reduz a taxa de transpiração e o consumo de água.
Pesquisas recentes têm buscado formas de desenvolver plantas mais tolerantes à seca. Um exemplo é o trabalho da EMBRAPA, que introduziu genes como AREB, DREB e NCED na soja, permitindo maior resistência ao déficit hídrico. Outro destaque é a soja transgênica HB4®, desenvolvida pela Verdeca, que reduz a sensibilidade ao etileno, ajudando a planta a lidar melhor com períodos secos. Na Argentina, essa cultivar apresentou ganhos de produtividade de até 10,5% em condições quentes e secas. Essas tecnologias prometem auxiliar os produtores em regiões com períodos frequentes de seca, contribuindo para manter a rentabilidade mesmo em condições adversas.
Dessa forma, a gestão do déficit hídrico é fundamental para garantir boas produtividades de soja, principalmente em regiões com clima irregular. O avanço da biotecnologia, associado a práticas de manejo eficientes, oferece soluções promissoras para reduzir os impactos da falta de água. Assim, produtores podem se preparar melhor para os desafios climáticos e aumentar a sustentabilidade da produção agrícola.
Referências bibliográficas
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades 2. ed. Santa Maria, 2022.