A densidade de plantas agronômica ótima (DPAO) é um conceito fundamental para garantir altas produtividades na cultura da soja. Trata-se do número ideal de plantas por metro quadrado que minimiza a competição entre elas e maximiza a eficiência no uso da luz solar, temperatura, água e nutrientes. Definir corretamente essa densidade é uma estratégia eficaz para reduzir custos e aumentar a produtividade da lavoura.

Para determinar a DPAO, foram analisadas mais de mil lavouras de soja ao longo de seis anos agrícolas (2015-2021) pela Equipe FieldCrops. Os resultados apontaram que a densidade ideal para atingir altas produtividades é de 29 plantas por m². Essa quantidade maximiza a interação entre a genética da cultivar, o ambiente e o manejo adotado. No entanto, existe uma faixa de densidade aceitável que varia conforme a duração do ciclo da cultura.

Para lavouras com ciclo de até 133 dias, a perda de uma planta por metro quadrado pode resultar em uma redução de 78 kg ha-1 na produtividade. Já em ciclos mais longos, essa perda é de aproximadamente 59 kg ha-1 (Figura 1). Além da densidade, a distribuição uniforme das plantas no momento da semeadura é essencial, pois falhas podem comprometer o potencial produtivo, mesmo em cultivares com alta capacidade de compensação.

Figura 1. Relação entre a produtividade de grãos (t ha-1) e o número de plantas por m² para cultivares com duração do ciclo total menor que 133 dias (A) e maior que 133 dias (B) para soja em cultivo irrigado (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). A linha preta sólida representa a função limite e a linha vermelha sólida indica o valor de densidade de plantas agronômica ótima que maximiza a produtividade de grãos. A linha vermelha tracejada indica a perda de produtividade (kg ha-1) a cada planta a menos por m².
Fonte: Equipe FieldCrops.

A plasticidade da soja, ou seja, sua capacidade de emitir ramificações para compensar falhas na distribuição das plantas, é um fator importante a ser considerado. Estudos indicam que, em lavouras com menor densidade, as plantas produzem mais ramificações para manter altos níveis produtivos.

Já em lavouras com maior densidade, a tendência é que as plantas invistam mais na haste principal, reduzindo o número de ramificações (Figura 2). No entanto, mesmo que a cultivar tenha potencial para compensar a baixa densidade, o ajuste da densidade de plantas deve ser feito com base em recomendações específicas para cada cultivar e ambiente de produção, visando sempre a melhor captura de luz solar ao longo do ciclo.

Figura 2. Relação entre a produtividade de grãos de soja (t ha-1) e o número de ramificações por planta para densidade < 16 pl/m² (A), entre 17 e 32 pl/m² (B), entre 32 e 44 pl/m² (C) e > 45 pl/m² (D) em soja irrigado (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). A linha vermelha tracejada indica o valor de ramificações que maximizam a produtividade de grãos.
Fonte: Equipe FieldCrops.

A DPAO não é um valor fixo para todas as lavouras, pois depende da cultivar utilizada e das condições de cada área de produção. Características como a capacidade de ramificação da cultivar, tolerância ao acamamento, oferta de água e nutrientes no solo influenciam diretamente no número ideal de plantas por hectare.

Em lavouras de alto nível tecnológico, já se utiliza a semeadura e adubação a taxa variável, ajustando a densidade conforme as condições do ambiente. Pesquisas recentes mostraram que, em áreas de alta produtividade (acima de 5 t ha-1), é possível reduzir a densidade de sementes em até 24% em comparação com áreas de menor produtividade.

Ensaios realizados em 13 lavouras comerciais no Rio Grande do Sul, Tocantins, Paraná e Mato Grosso demonstraram um incremento de 3% a 6% na produtividade com o uso da taxa variável, especialmente nas zonas de menor rendimento.

No entanto, a adoção desse manejo exige atenção à qualidade da semeadura. Fatores como tipo e ano do maquinário, velocidade e profundidade de deposição das sementes, além das características do solo, podem influenciar no estande final de plantas.

Em algumas lavouras, foi observada uma variação de até 30% entre a densidade planejada e a realmente alcançada, sendo que valores aceitáveis giram em torno de 15%. Além disso, para justificar economicamente a adoção da taxa variável, a diferença de produtividade entre as zonas da lavoura deve ser de pelo menos 500 kg ha-1.

De maneira geral, a recomendação de densidade de plantas pode ser ajustada conforme o histórico de produtividade da lavoura. Em áreas com menor potencial produtivo, onde fatores como baixa fertilidade, déficit hídrico e doenças podem limitar o crescimento das plantas, o adensamento (31 plantas m-2) é uma estratégia viável para garantir maior estabilidade produtiva.

Já em ambientes de alta produtividade, a densidade ideal é aquela que reduz a competição entre as plantas, permitindo melhor aproveitamento da água, luz e nutrientes. Nesses casos, densidades em torno de 24 plantas m-2 são mais indicadas, pois evitam problemas como o acamamento, que pode levar à senescência precoce das folhas e à perda de rendimento.

Portanto, definir corretamente a densidade de plantas na lavoura de soja é um passo essencial para maximizar a produtividade e a rentabilidade. O ajuste deve considerar não apenas a cultivar utilizada, mas também as condições específicas de cada área, garantindo que as plantas tenham o espaço necessário para expressar seu máximo potencial produtivo.

Referências bibliográficas

Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. 2. ed. Santa Maria, 2022.



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