A Diabrotica speciosa, popularmente conhecida como vaquinha-verde, brasileirinha ou patriota, é uma das espécies de besouros mais comuns entre as vaquinhas. Sua característica marcante é a cor verde, com três manchas ovais amarelas em cada asa anterior, a cabeça apresenta uma tonalidade castanha avermelhada. Os adultos dessa espécie têm um tamanho médio de cinco a sete mm de comprimento (Gomez, 2021). É uma espécie polífaga que causa danos em diversas culturas de importância econômica, como batata, trigo, milho, feijão e soja.

Conforme Medina et al. (2013), a D. speciosa tem uma ampla distribuição, ocorrendo em praticamente todos os estados brasileiros e em todos os países da América do Sul. Durante a fase adulta, esse inseto se alimenta de folhas, brotações novas, vagens ou frutos de várias culturas, o que pode resultar em significativa redução de produtividade. Essa redução pode ocorrer tanto pelo dano direto às plantas, quanto pelo seu papel indireto como agente transmissor de patógenos, especialmente vírus. Já as larvas possuem hábito subterrâneo, causando perdas de produtividade em milho e batata, em função dos danos causados ao sistema radicular e tubérculos.

Figura 1. Diabrotica speciosa.

Foto: Paulo Roberto Valle da Silva Pereira (2022).

A oviposição, de acordo com Viana (2010), é realizada no solo ao redor das plantas. Os ovos são amarelos e medem 0,5 mm de diâmetro e o período de incubação varia de 6 a 8 dias. De acordo com Milanez (1995), os adultos de D. speciosa demonstram uma clara preferência por áreas com solo mais escuro e que retém umidade por períodos mais longos, pois esses locais proporcionam condições ideais para a oviposição. Além disso, Medina et al. (2013) destaca que a sobrevivência das larvas é mais alta nesses ambientes, uma vez que essas larvas são rizófagas, ou seja, se alimentam das raízes das plantas.

Conforme Sosa-Gómez (2014), a larva da Diabrotica speciosa apresenta coloração amarela-pálida, com o tórax, cabeça e pernas torácicas em tom preto. Essas larvas passam por um desenvolvimento subterrâneo e atingem um tamanho de 10 a 12 mm quando estão completamente desenvolvidas. O período larval abrange uma duração de 23 dias. Após esse estágio, segue-se a fase de pupa, que dura cerca de 17 dias, também ocorrendo no solo, dentro de câmaras.

Figura 2. Ciclo biológico de Diabrotica.

Fonte: Medina et al. (2013).

De acordo com Viana (2010), a larva tem sido considerada uma das principais pragas subterrâneas de culturas como milho, trigo, outros cereais e batata. Sua ação prejudicial concentra-se na alimentação das raízes dessas plantas, resultando na redução da capacidade de absorção de água e nutrientes. Consequentemente, a produtividade das culturas é afetada negativamente, tornando-as menos produtivas e mais suscetíveis ao acamamento.

Viana (2010), afirma que a cultura do milho tem enfrentado perdas significativas na produção, variando entre 10% e 13%, quando ocorre uma alta infestação de Diabrotica speciosa. Valicente (2015), destaca que o prejuízo causado pela larva de D. speciosa tem sido significativo nos estados do Sul e em algumas áreas das regiões Sudeste e Centro-Oeste. A presença de mais de 3,5 larvas por planta é suficiente para desencadear danos ao sistema radicular do milho. Esses danos podem afetar a região subterrânea do colmo, coleto e raízes principais das plantas em estágios iniciais, resultando no acamamento das plantas em situações de ventos fortes e alta precipitação pluviométrica, além da formação de raízes adventícias. As plantas emitem raízes adventícias nos nós e desenvolvem um colmo em forma curvada em um formato de “pescoço de ganso” (Viana, 2010).

Figura 3. Sintoma “pescoço de ganso” em milho causado por larva de D. speciosa.

Fonte: Viana (2010).

Conforme Salvadori et al. (2022), em trigo, as larvas de D. speciosa, além de atacarem as raízes também têm a capacidade de perfurar a região coronal das plantas. Esse processo de broqueamento pode levar ao enfraquecimento das plantas e, em casos mais intensos de ataque, até mesmo à morte.

Figura 4. Dano de adulto de Diabrotica speciosa em colmo de trigo.

Foto: Alberto Marsaro Júnior (2022).

De acordo com Sosa-Gómez (2014), na cultura da soja a D. speciosa apresenta pouca capacidade de causar grandes desfolhas, os adultos se alimentam de folhas e brotos, preferindo as folhas mais tenras, ao se alimentar, abrem pequenos orifícios na folha e as larvas, se alimentam das raízes. O autor destaca ainda, que o controle na soja, normalmente não é necessário. Contudo, foi observado pelo pesquisador da CCGL Glauber Stürmer (2022) a ocorrência de danos em vagens de soja, causada pela D. speciosa, o pesquisador destaca que a mudança do hábito alimentar dessa praga, além do consumo de folhas, passou a atacar legumes em formação, podendo causar o abortamento dos legumes e consequentemente reduzir a produtividade da soja.

Figura 5. Danos causados por Diabrotica speciosa em legumes de soja.

Fonte: Rede Técnica Cooperativa – RTC (2022).

Como a maioria das pragas que acometem as culturas de interesse agrícola, o controle da Diabrotica speciosa pode ser alcançado através de uma combinação de medidas que podem ser utilizadas na lavoura. A escolha de sementes de qualidade, o preparo adequado do solo e a eliminação de plantas hospedeiras são práticas preventivas essenciais para reduzir a ocorrência de Diabrotica speciosa. Monitorar de perto a presença da praga na lavoura é fundamental e, caso sejam identificadas populações significativas, é recomendado realizar medidas de controle para proteger o potencial produtivo da cultura.



O uso de híbridos de milho com tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) é uma alternativa para reduzir a ocorrência e os danos causados por essa praga nas lavouras, estudos realizados por Machado et al. (2022) observaram que híbridos que contêm a proteína apresentaram menor escore de dano em raiz de milho quando comparado com híbridos que não expressam essa proteína.

Conforme Viana (2010), vários inimigos naturais são descritos atacando adultos e larvas de D. speciosa, sendo que os de ocorrência mais frequentes são Celatoria bosqi (Diptera: Tachinidae), Centistes gasseni (Hymenoptera: Braconidae), os fungos Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae e Paecilomyces lilacinus. Além disso, destaca que o controle de larvas, especialmente com fungos, tem grande potencial para ser implementado em condições de campo.  Dentre as estratégias de controle, o uso de fungos, especialmente para o combate às larvas, tem se mostrado promissor e com grande potencial para implementação em ambientes de cultivo. A utilização desses agentes de controle biológico pode ser uma alternativa eficiente e sustentável para reduzir a população de D. speciosa.

Além das estratégias de controle mencionadas, o uso de inseticidas para o controle de Diabrotica também pode ser utilizado, aliás, de acordo com Viana & Marochi (2002), o controle químico tem sido o método mais utilizado para o controle das várias espécies de Diabrotica O tratamento de sementes pode ser empregado como medida preventiva, enquanto o uso de inseticidas é recomendado quando a população da praga presente na lavoura ameaça causar prejuízos à cultura e reduzir sua produtividade. Contudo, é fundamental a integração dos métodos de controle para o controle eficiente.


Veja mais: Quais os principais parasitoides de ovos para o controle de pragas na soja?



Referências:

GOMEZ, D. R. S. VAQUINHAS. Embrapa Soja, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/manejo-integrado-de-pragas/pragas/pragas-que-atacam-folhas/vaquinhas >, acesso em: 26/07/2023.

MACHADO, J. N. C. et al. DANOS DA LARVA Diabrotica speciosa EM MILHO BT. Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, v.5, n.1, p.842-846, Curitiba – PR,2022. Disponível em: < https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJAER/article/view/44433/33308 >, acesso em: 26/07/2023.

MEDINA, L. B.; TRECHA, C. O.; ROSA, A. P. S. A. BIOECOLOGIA DE Diabrotica speciosa (GERMAR, 1824) (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE) VISANDO FORNECER SUBSÍDIOS PARA ESTUDOS DE CRIAÇÃO EM DIETA ARTIFICIAL. Documentos 375, Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS, 2013. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/999017/1/documento375webIncluido.pdf >, acesso em: 26/07/2023.

MILANEZ, J. M. TÉCNICAS DE CRIAÇÃO E BIOECOLOGIA DE Diabrotica speciosa (GERMAR, 1824) (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE).  Tese – ESALQ, Piracicaba – SP, 1995. Disponível em: < https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11146/tde-20210104-172543/publico/MilanezJoseMaria.pdf >, acesso em: 26/07/2023.

REDE TÉCNICA COOPERATIVA – RTC. DANOS EM VAGENS OCASIONADOS POR VAQUINHAS NA CULTURA DA SOJA. Dica RTC: CCGL. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=DS_6up4Texs >, acesso em: 26/07/2023.

SALVADORI, J. R. et al. PRAGAS DA CULTURA DO TRIGO. Documentos 200, Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/243709/1/Documentos-/200-online-VFinal-ODS.pdf >, acesso em: 26/07/2023.

SOSA-GÓMEZ, D. R. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE INSETOS E OUTROS INVERTEBRADOS DA CULTURA DA SOJA. Embrapa Sojs, Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105924/1/Doc269-OL.pdf >, acesso em: 26/07/2023.

VALICENTE, F. H. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA CULTURA DO MILHO. Circular Técnica 208, Embrapa, Sete Lagoas – MG, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/125260/1/circ-208.pdf >, acesso em: 26/07/2023.

VIANA, P. A. MANEJO DE Diabrotica speciosa NA CULTURA DO MILHO. Circular Técnica 141, Embrapa, Sete Lagoas – MG, 2010. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/manejo-de-diabrotica-speciosa-na-cultura-do-milho.pdf/a0ec3a33-2864-47b3-ac6e-b2fc63d4fa02 >, acesso em: 26/07/2023.

VIANA, P. A.; MAROCHI, A. I. CONTROLE QUÍMICO DA LARVA DE Diabrotica spp. NA CULTURA DO MILHO EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.1, n.2, p.1-11, 2002. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/30515/1/Controle-quimico-2.pdf >, acesso em: 26/07/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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