As doenças da cultura da soja (Glycine max) são um dos fatores bióticos que limitam a obtenção de altos rendimentos da cultura. Os danos ocasionados por essas doenças podem variar de ano para ano e de região para região, dependendo de cada safra, sendo que algumas delas podem ocasionar perdas de até 100% (EMBRAPA, 2010). Além disso, elas podem estar presentes desde o momento da semeadura até o final do ciclo da cultura, sendo estas últimas, comumente denominadas Doenças de Final de Ciclo (DFC). O final do ciclo é variável e depende da região, no entanto na região Sul esse período é mais longo, podendo perdurar até o mês de abril (FINOTO et al, 2011). Neste texto o objetivo é destacar as principais doenças e informar as maneiras de evitá-las na lavoura.

Dentre as DFC pode-se citar o crestamento foliar de cercospora (Cercospora kikuchii). Essa doença é favorecida em condições de clima quente e chuvoso. O fungo pode atacar todas as partes da planta, sendo que os sintomas nas folhas são pontuações escuras, com coloração castanho-avermelhado, que se desenvolvem e formam manchas grandes, esse sintoma também é observado nas vagens. Nesse caso, pode ocorrer também a desfolha da soja, que em função da menor área foliar e redução da fotossíntese, acaba diminuindo também a produtividade. Outra consequência dessa doença é a “mancha-púpura” nos grãos de soja (Figura 1). Essa mancha é prejudicial, especialmente para as empresas produtoras de sementes, que têm o seu produto desvalorizado.

Figura 1: Sintoma de pontuações escuras, com coloração castanho-avermelhado nas vagens e Mancha púrpura no grão. Fonte: SARAN, A.P., 2011.

A mancha-parda (Septoria glycines) também é uma doença recorrente no final do ciclo da cultura que causa a desfolha. Este patógeno necessita de um período mínimo de molhamento foliar de 6 horas e temperatura entre 15℃ a 30℃ para o desenvolvimento dos sintomas. Essa doença causa pontuações pardas nas folhas que evoluem para manchas castanhas com centro angular com halo amarelo (Figura 2). Especialmente nesse caso, cabe destacar que o fungo sobrevive após a colheita da cultura. Característica de importante compreensão para adoção de estratégias eficientes de controle da doença.

Figura 2: Sintoma de Mancha parda na folha com manchas castanhas com centro angular com halo amarelo. Fonte: SARAN, A.P., 2011.

Além das doenças exclusivas de final de ciclo, há aquelas que acometem o final do ciclo da cultura, mas também, outros momentos do ciclo (Figura 3). Como primeiro exemplo, pode ser citada a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Essa doença é um dos grandes temores atualmente, devido às perdas que essas doenças podem causar, variando de 10% a 90%. Apesar de poder ser diagnosticada em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, a sua ocorrência é preferencialmente a partir do fechamento do dossel.

Figura 3: Períodos de ocorrência das doenças da soja. Fonte: SARAN, A.P., 2011.

Ademais, ela é de difícil identificação nos estádios iniciais, pois a sua característica principal é a presença de esporos alaranjados e a ausência desses dificulta o controle antecipado. Os esporos incidem na face inferior da folha, sendo que para a observação das pústulas é necessário o auxílio de uma lupa. Em estágios mais avançados de desenvolvimento da doença, essas estruturas ficam com coloração castanha, se abrem e liberam esporos. Quando há presença de folhas amarelas na lavoura, possivelmente, a ferrugem já está presente há mais de 30 dias na lavoura, dificultando o seu controle.

Figura 4: Sintoma de ferrugem asiática na folha com manchas de coloração castanha. Fonte: SARAN, A.P., 2011.

A Antracnose (Colletotrichum truncatum) é favorecida em regiões de clima quente e úmido. Em outras safras essa doença foi considerada como a segunda mais importante. Ela pode incidir no início da cultura ocasionando a morte das plântulas. Durante o crescimento da cultura, o fungo tende a causar manchas na haste e folhas. Na floração os sintomas podem ser observados nas vagens, que ficam com coloração castanha-escura. As sementes ou grãos, se atacadas pelo fungo, apresentam manchas deprimidas de coloração castanha. O fungo pode sobreviver em restos culturais e sementes.

Figura 5: Sintoma de antracnose em vagens. Fonte: SARAN, A.P., 2011.

O oídio (Microsphaera diffusa) que também ocorre em mais de um momento do ciclo, é favorecido por temperaturas amenas e baixa umidade. Ele pode ocorrer em folhas, vagens e hastes, apresentando inicialmente coloração branca e, com o passar do tempo, coloração castanha-acinzentada. Esta doença, assim como as demais, pode ocasionar a desfolha.

Figura 6: Sintoma de oídio, com coloração branca. Fonte: SARAN, A.P., 2011.

Por fim, entre as principais DFC’s destaca-se também a mancha olho de rã (Cercospora sojina), sendo que as perdas decorrentes dela podem chegar a 60%. Ela é favorecida pela presença de água nas folhas e temperaturas altas, sendo mais comum na fase de floração da planta. Os sintomas consistem em pequenos pontos escuros que evoluem para lesões marrons, com margem mais escura. Em estágios mais avançados da doença, a face superior das folhas ficam com manchas castanho-claras no centro, com bordos castanho-avermelhados. Na face inferior, a região central apresenta coloração cinza. Esse fungo também ataca as sementes, que ficam com coloração acinzentada a marrom. O patógeno sobrevive em restos culturais, podendo ser disseminado por semente.

Figura 7: Sintoma de mancha olho de rã.. Fonte: SARAN, A.P., 2011.

Cabe destacar que as DFC são na verdade um complexo de doenças, por isso a sua identificação e controle é dificultado. Portanto, o mais indicado é realizar o controle preventivo, a fim de retardar ou evitar ao máximo a sua incidência na cultura da soja.

Nesse contexto, apesar de ainda não existirem cultivares resistentes a todos os patógenos recorrentes no final do ciclo (SEDIYAMA et al, 2011), caso a região possua alguma doença recorrente e cultivares resistentes estiverem disponíveis a sua utilização é recomendada. Além disso, a utilização de sementes certificadas e o seu tratamento auxiliam no controle destes patógenos, tendo em vista que muitos são transmitidos por meio de sementes contaminadas. Outra estratégia de manejo é a rotação de culturas, buscando introduzir no sistema espécies que não sejam hospedeiras. Aliado a todas as práticas de manejo, e mais comumente buscado há o controle químico, com a utilização de fungicidas. O objetivo dele é agir de modo protetivo e, além disso, para cada doença os procedimentos adotados serão diferentes. Para que todas essas práticas de manejo sejam realmente efetivas, o planejamento das atividades é essencial. Como, por exemplo, organizar as aplicações de fungicida, além de realizar o monitoramento desses patógenos e adotar as práticas de manejo mais adequadas à situação.

Autor: Mariana Miranda Wruck – Acadêmica do 8º semestre de Agronomia e Bolsista do grupo PET Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

Referências:

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Soja. Tecnologias de produção de soja – região central do Brasil, 2011. Londrina: Embrapa Soja: Embrapa Cerrados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2010, 255p.

SARAN, P. E. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DAS DOENÇAS DA SOJA. Coletânea FMC: cada dia mais completa. Disponível em: < http://www.faesb.edu.br/biblioteca/wpcontent/uploads/2017/09/publication1.pdf>, acesso em: 19/02/2021.

SEDIYAMA, Tuneo et al. Efeito da aplicação de fungicida sobre caracteres agronômicos e severidade das doenças de final de ciclo na cultura da soja. 2011.

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