Efeito da inoculação e co-inoculação de sementes em resposta
a produtividades das culturas
Autores: Letícia do Socorro Cunha¹; Luane Laíse Oliveira Ribeiro2
Introdução
No contexto da agricultura, é essencial o uso adequado e racional dos fertilizantes, onde se destacam os nitrogenados. Os fertilizantes nitrogenados apresentam custo elevado e também representam potencial poluidor para o meio ambiente mas podem ser substituídos, total ou parcialmente, pela ação de bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico e bactérias promotoras do crescimento de plantas (Campo & Hungria, 2014), através da inoculação ou da co-inoculação das sementes.
Para a cultura do milho e da soja, o nutriente de maior importância é o nitrogênio, visto que é o mais absorvido e o que mais limita a produção (Roberto et al.,2010), como também o que mais onera o custo de produção. O nitrogênio pode se tornar um poluente ambiental quando disponibilizado em quantidades excessivas no solo com consequente formação, por exemplo, de diferentes compostos como NH3, N2O e NO3– que quando saem do sistema por meio dos processos de volatilização (NH3), desnitrificação (N2O) e lixiviação (NO3–) podem desencadear a poluição das águas subterrâneas e/ou superficiais, destruição da camada de ozônio e contribuir, também, para intensificação do efeito estufa (Garcia et al., 2013).
A preocupação quanto ao impacto dos fertilizantes nitrogenados no meio ambiente tem sido objeto de várias pesquisas (Zhang et al., 2017). No entanto, bactérias diazotróficas podem por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN) disponibilizar esse nutriente para fabáceas, assim como para poáceas (Moreira et al., 2013a).
A técnica alternativa da co-inoculação ou inoculação mista, consiste na utilização de combinações de diferentes microrganismos, os quais produzem efeito múltiplo, em que se superam os resultados produtivos obtidos com os mesmos isoladamente, podendo promover incrementos no rendimento de culturas agrícolas, quando utilizada conjuntamente (Bárbaro et al., 2011).
Neste sentido é favorável dar-se mais atenção a estudos voltados para a inoculação e co-inoculação na agricultura, para que o agricultor tenha meios eficazes que promovam maiores produtividades às culturas.
Efeito da inoculação e co-inoculação de sementes na produtividade de culturas
O uso de bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCPs), como o Azospirillum brasilense conjuntamente com Bradyrhizobium sp (fixadora de nitrogênio), pode ser eficiente na redução ou até mesmo substituição da aplicação de insumos químicos, além de diminuir os efeitos causados por estresses bióticos e abióticos e aumentar a produtividade da cultura (Ferreira, 2017).
A coinoculação na cultura da soja com uma mistura de Bradyrhizobium elkanii, Bradyrhizobium diazoefficiens e Azospirillum brasilense promoveu um aumento da produtividade de 11% comparado com inoculação padrão apenas com Bradyrhizobium (Bárbaro et al., 2009). Outro trabalho, realizado no Paraná, mostrou que a
produtividade com tratamento de coinoculação (com Bradyrhizobium diazoefficiens e Azospirillum brasilense) foi maior que a inoculação padrão com Bradyrhizobium. Na cidade de Londrina, na safra de 2010/11, a cultura da soja teve um aumento de 243 kg ha-1, e na cidade de Ponta Grossa teve-se aumento de 167 kg ha-1 pelo uso da coinoculação (Hungria, 2013).
Okon & Vanderleyden (1997), concluíram que o gênero Azospirillum promove ganhos em rendimento em importantes culturas nas mais variadas condições de clima e de solo; contudo, esses autores salientam que, além da FBN, essas bactérias auxiliam no aumento da superfície de absorção das raízes da planta e, consequentemente, no aumento do volume de substrato de solo explorado. Outros autores também encontraram respostas semelhantes, trabalhando com inoculação de bactérias do gênero Azospirillum. Já para Costa et al. (2015), a aplicação de Azospirillum brasilense via semente associada à adubação nitrogenada realizada com diferentes doses, observaram maior desenvolvimento de plantas de milho quando estas receberam a bactéria via semente. Foi observada maior altura de plantas, diâmetro do caule, índice de clorofila, matéria seca de raízes e parte aérea, comprimento da folha bandeira, peso de mil grãos e produtividade. Resultado similar foi encontrado por Morais et al. (2016) em relação à produtividade quando a bactéria A. brasiliense foi aplicada no sulco de semeadura.
Considerações finais
A utilização da inoculação e coinoculação de sementes, segundo os estudos desenvolvidos, além de ser um fator que ajuda no incremento de crescimento e nodulação nas culturas de milho e soja, também garante um aumento na produtividade e pode ser usada para aumentar a renda do agricultor. No entanto esta técnica ainda deve ser estudada para garantir melhores rendimentos das culturas.
Figura 1. Efeito de diferentes tratamentos de inoculação de soja sobre a produtividade em
grãos. Fonte: Munhoz, 2016.
Referências
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BÁRBARO, I. M.; MACHADO, P. C.; BÁRBARO JÚNIOR, L. S.; TICELLI, M.; MIGUEL, F. B.; SILVA, J. A. A. da. Produtividade da soja em resposta à inoculação padrão e coinoculação. Colloquium Agrariae, Presidente Prudente, v. 5, n. 1, jan./jun. 2009.
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Informações dos autores
¹Engenheira Agrônoma e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Marechal Cândido Rondon/PR.
2Engenheira Agrônoma e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Marechal Cândido Rondon/PR.
Disponível em: Anais do II Congresso Online para Aumento de Produtividade do Milho e Soja (COMSOJA), Santa Maria, 2019.