O oídio do trigo, também conhecido como cinza do trigo, é uma doença foliar de comum na cultura do trigo, sendo encontrada em praticamente todos os locais onde são cultivadas cultivares suscetíveis. Essa doença pode ocasionar danos de até 62% na produção da cultura (Reis et al., 2010). Costamilan (2020) destaca que durante o ciclo produtivo do trigo, o oídio costuma ser a primeira doença fúngica a aparecer. As condições que favorecem o estabelecimento da doença incluem a alta umidade relativa do ar, temperaturas amenas e períodos sem a ocorrência de precipitações.
O oídio do trigo é causado pelo fungo biotrófico Blumeria graminis f. sp. tritici, e é endêmica em todas as regiões produtoras de trigo do Brasil. É uma doença facilmente identificável, pois leva ao desenvolvimento de uma massa pulverulenta branca nos órgãos infectados, devido à presença de micélio esbranquiçado do fungo na face superior de folhas e colmos (Santana et al., 2023).
Figura 1. Oídio (Blumeria graminis f. sp. tritici) em plantas de trigo.

Conforme destacam Santana et al. (2012), os primeiros sintomas característicos da doença podem surgir ainda na fase inicial da cultura, antes mesmo do perfilhamento. Além das folhas, ela também pode afetar as espigas e aristas em cultivares suscetíveis. O inóculo primário permanece durante o período entressafra em plantas de trigo voluntárias, além disso, sua disseminação ocorre facilmente pelo vento, durante períodos sem ocorrência de chuvas. É considerada uma doença explosiva, por se tratar de uma doença com ciclo muito rápido, entre 5 e 25 dias (Costamilan, 2019).
De acordo com Costamilan (2019), o oídio em trigo é uma doença que pode ter um impacto significativo na produtividade das culturas. Em média, as reduções de produtividade causadas por essa doença variam de 5% a 8%. No entanto, é importante ressaltar que em cultivares suscetíveis, as perdas de produtividade podem ser muito mais severas, chegando a superar 60%, especialmente em casos em que a doença atinge níveis mais graves.
A Embrapa desenvolveu uma rede de ensaios cooperativos com o proposito de avaliar a eficiência de fungicidas no controle de oídio do trigo. O objetivo é contribuir para melhoria da eficiência do controle fitossanitário de oídio do trigo, proporcionando a redução de perdas ocasionadas pela doença, bem como a redução e volume de produtos aplicados e seus impactos ambientais.
Na safra de 2021, na região Sul do Brasil, foram conduzidos oito ensaios, utilizando cultivares de trigo com reação moderadamente suscetível ao oídio. Foram avaliados fungicidas com diferentes princípios ativos, formulados em mistura ou associados. Cada experimento foi composto por um controle sem aplicação de fungicidas (T1) e um controle para comparação (trifloxistrobina + tebuconazol: Nativo, Bayer) (T2), foram realizadas duas aplicações de fungicidas, a primeira no estádio de perfilhamento ou por ocasião dos primeiros sintomas, até 5% de severidade da doença. Já a segunda ocorreu aos 14 +/- 2 dias após a primeira aplicação, de forma sequencial com o mesmo produto. A severidade foi estimada de acordo com a escala de severidade de oídio em trigo.
Figura 2. Escala de severidade de sintomas de oídio em trigo. Os números nas linhas superior e inferior das figuras correspondem às notas e à percentagem de severidade, respectivamente.

Em todos os locais onde os ensaios foram realizados, foram observados sintomas e sinais de oídio. Os pesquisadores destacam que, em geral, a aplicação de fungicida reduziu a severidade de oídio em todos os locais dos ensaios.
No ensaio conduzido no município de Mauá da Serra – PR, observou-se que todos os tratamentos com fungicidas apresentaram redução da severidade de oídio em relação ao controle sem aplicação (T1). A severidade de oídio variou de 9,8% a 22,9%. Com relação ao peso do hectolitro (PH), não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos. Além disso, todos os tratamentos com fungicidas apresentaram resultados semelhantes entre si em termos de rendimento de grãos, variando de 2.402 Kg ha-1 a 3.011 Kg ha-1, diferindo do T1.
Figura 3. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas em Mauá da Serra, PR, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

No ensaio realizado em Guarapuava – PR, os tratamentos T5 (Tetraconazol + azoxistrobina), T6 (Metominostrobina + tebuconazol), T11 (Trifloxistrobina + tebuconazol e propiconazol) e T12 (Piraclostrobina + epoxiconazol e fenpropimorfe), apresentaram diferenças significativas em relação aos demais tratamentos com fungicida e ao T1, se tratando da severidade de oídio, variando entre 8,1% (T5) a 41,6 (T1).
No que se refere ao PH, não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos. Em relação ao rendimento de grãos de trigo, os tratamentos T5, T6, T8, T10, T11, T12, T13 não apresentaram diferenças entre si, mas diferiram dos demais tratamentos com fungicidas e do T1, com variação de 2.928 kg ha-1 (T1) a 3.705 kg ha-1 (T5).
Figura 4. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas em Guarapuava, PR, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

No ensaio realizado em Palmeira – PR, todos os tratamentos com fungicidas, exceto T9, apresentaram reduções significativas da severidade do oídio comparado ao T1. Não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos fungicidas e o controle em relação ao PH. Com relação ao rendimento de grãos, os tratamentos com fungicidas T5, T6, T7, T11 e T12 apresentaram diferenças significativas dos demais tratamentos com fungicida e do controle sem aplicação.
Figura 5. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas em Palmeira, PR, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

No ensaio realizado em Campo Mourão – PR, foi observada baixa incidência de doença, além disso, houve a ocorrência de severas geadas e déficit hídrico ao longo do ciclo da cultura. Foram observadas diferenças significativas em relação à severidade de oídio nos tratamentos T2, T3, T11 e T12. Também foram observada diferença significativa quanto ao peso do hectolitro, sendo superior em T1, T3, T4, T12 e T13. No entanto, os autores destacam que estes fatores não influenciaram no rendimento de grãos, apresentando-se semelhante em todos os tratamentos.
Figura 6. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas em Campo Mourão, PR, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

No ensaio conduzido em Ponta Grossa – PR, foi observada baixa severidade da doença. Todos os tratamentos com fungicidas foram semelhantes e apresentaram reduções significativas da severidade do oídio comparado ao T1, variando de 0,3% a 9% de severidade. Os tratamentos T7, T12 e T13 apresentaram maior valor de PH que os demais tratamentos com fungicidas e o T1, no entanto, os pesquisadores ressaltam que todos os tratamentos apresentaram valores abaixo de 72,0 kg hL-1, e seriam classificados como ‘fora de tipo’. Se tratando do rendimento de grãos de trigo, não foram observadas diferenças significativas entre o T1 e os tratamentos com fungicidas.
Figura 7. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de tri- go, obtidas em Ponta Grossa, PR, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

No ensaio de Cruz Alta – RS, a severidade de oídio variou significativamente entre os tratamentos com fungicidas, variando de 0,9% nos tratamentos T3 e T13 a 16,2% no T1. Os tratamentos T3 e T13 foram os que apresentaram a maior redução da severidade com relação ao T1, diferindo dos demais tratamentos com fungicidas. Por outro lado, os tratamentos T6, T8, T11 e T12 foram semelhantes entre si e diferiram dos tratamentos T2, T4, T5, T7, T9 e T10, além disso, todos os tratamentos fungicidas diferiram do T1. Com relação ao PH e ao rendimento de grãos, não foram verificadas diferenças significativas entre os tratamentos.
Figura 8. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas em Cruz Alta, RS, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

No ensaio conduzido em Passo Fundo – RS, com relação a severidade, todos os tratamentos com fungicidas diferiram significativamente do T1. Neste local, não foram realizados os tratamentos T8, T11 e T13. Os tratamentos que apresentaram menores severidades foram T5, T7 e T12. Não foram observadas diferenças significativas no PH dos grãos de trigo. Com relação ao rendimento de grãos de trigo, os tratamentos T2, T4, T5, T6, T7, T10 e T12 foram semelhantes entre si, a variação foi de 3.778 kg ha-1 (T3) a 4.697 kg ha-1 (T5), com uma diferença de 919 kg ha-1.
Figura 9. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas em Passo Fundo, RS, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

No experimento de Santa Bárbara do Sul – RS, a severidade do oídio variou entre 12,2% (T5) a 22,9% (T1). Todos os tratamentos com fungicidas diferiram do T1, e os tratamentos T5, T7, T11 e T12 foram semelhantes entre si, e apresentaram a maior redução da severidade de oídio. Não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos quanto às variáveis PH e rendimento de grãos de trigo.
Figura 10. Estimativas de médias para severidade de oídio (%), peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas em Santa Bárbara do Sul, RS, da Rede de Ensaios Cooperativos do Trigo para controle de oídio, na safra 2021.

Os pesquisadores concluem destacando que os fungicidas que contêm formulações combinando triazois e estrobilurinas demonstraram ser eficazes tanto na redução do oídio em trigo como no aumento do rendimento de grãos, em comparação a testemunha que não recebeu aplicação de fungicidas. Ressaltando, que embora cada fungicida que tenha se destacado nos diferentes ensaios seja composto por combinações dos princípios ativos (tetraconazol + azoxistrobina, trifloxistrobina + tebuconazol, propiconazol e piraclostrobina + epoxiconazol), todos são semelhantes quanto ao modo de ação. A aplicação sequencial de um mesmo produto não é uma prática de controle recomendada, é de fundamental importância a rotação de fungicidas com diferentes mecanismos de ação e ingredientes ativos pertencentes a diferentes grupos químicos para evitar o desenvolvimento de variantes resistentes do patógeno.
Entre os fungicidas utilizados nos experimentos na safra de 2021, a utilização de produtos que contêm fenpropimorfe em sua formulação é considerada uma estratégia no manejo da doença, visto que o fenpropimorfe pertence ao grupo G2, atuando em locais diferentes no patógeno comparado aos triazois. Essa diferança, destaca-se por reduz as chances de o patógeno desenvolver resistência ao produto formulado, tornando-o uma alternativa eficaz no controle do oídio (Santana et al., 2023).
Confira os resultados completos dos ensaios cooperativos, safra 2021, aqui!
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Referências:
COSTAMILAN, L. M. MOMENTO DE OBSERVAR O OÍDIO EM TRIGO. Embrapa News, 2019. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/46358370/artigo—momento-de-observar-o-oidio-em-trigo >, acesso em: 06/11/2023.
COSTAMILAN, L. M. PRINCIPAIS DOENÇAS DO TRIGO NO SUL DO BRASIL: DIAGNÓSTICO E MANEJO – OÍDIO. Embrapa, comunicado técnico 375. Passo Fundo – RS, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/221150/1/ComTec-375-Online-2021.pdf >, acesso em: 06/11/2023.
REIS, E. M. et al. CICLO OÍDIO DO TRIGO. Revista Plantio Direto, 2010. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/116/8.pdf >, acesso em: 06/11/2023.
SANTANA, F. M. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA CONTROLE DE OÍDIO DO TRIGO: RESULTADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS, SAFRA 2021. Embrapa, circular técnica 83. Passo Fundo – RS, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1157699/1/Circular-Tecnica-83-online.pdf >, acesso em: 06/11/2023.
SANTANA, F. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE TRIGO. Embrapa, documentos 108. Passo Fundo – RS, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/137343/1/ID-42681-CNPT.pdf >, acesso em: 06/11/2023.
Foto de capa: Dirceu Gassen.
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