A Embrapa Meio Ambiente promoveu, nos dias 23 e 24 de outubro, o “Workshop sobre adubação em sistemas de produção e compartilhamento de nutrientes entre culturas”, reunindo mais 25 pesquisadores e especialistas em fertilizantes e contabilidade de carbono. O encontro, coordenado pelas pesquisadoras Nilza Patrícia Ramos e Marília Folegatti, buscou alinhar critérios técnicos e conceituais para calcular a pegada de carbono associada à adubação em sistemas agrícolas integrados.
Segundo Nilza Patrícia Ramos, o principal desafio foi consolidar um entendimento comum sobre como tratar a adubação de sistemas na contabilidade de carbono de produtos agrícolas. As discussões se concentraram nos três principais nutrientes exportados pelas culturas — nitrogênio, fósforo e potássio —, considerando o comportamento de cada um no sistema solo–planta–atmosfera. “É um tema central para a agricultura de baixo carbono e precisa ser tratado de forma sistêmica”, afirmou a pesquisadora.
A abordagem ganha relevância com a expansão dos programas de valorização de cultivos de baixo carbono no Brasil, liderados pela Embrapa. O pioneiro foi o Programa Soja Baixo Carbono, que abriu caminho para outros como Trigo, Milho, Sorgo e Frutas Baixo Carbono. Esses programas adotam protocolos de boas práticas agrícolas aliados a ferramentas de contabilidade de carbono baseadas na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que mensura as emissões e remoções de gases de efeito estufa em cada etapa produtiva.
De acordo com Marília Folegatti, a ferramenta de cálculo está sendo desenvolvida de forma integrada, respeitando as particularidades da produção agrícola nacional. “Nosso objetivo é gerar resultados de pegada de carbono individualizados por produto, mas levando em conta o compartilhamento de operações e insumos entre diferentes culturas”, explicou. Em sistemas de sucessão ou rotação, insumos como fertilizantes beneficiam mais de uma cultura e isso precisa ser refletido nos cálculos de emissões.
O workshop contou com a participação de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, Agricultura Digital, Agropecuária Oeste, Milho e Sorgo, Soja, Suínos e Aves e Trigo, além de consultores de empresas privadas. A Embrapa Milho e Sorgo foi representada pelos pesquisadores Alexandre Ferreira da Silva, Álvaro Vilela de Resende, Arystides Resende Silva e Ciro Augusto de Souza Magalhães, que compartilharam experiências sobre práticas de adubação e suas implicações no balanço de carbono.
Álvaro Resende destacou que, em sistemas como soja/milho ou soja/sorgo, é comum se antecipar a aplicação de fósforo e potássio para antes da semeadura da soja, prática frequente em regiões do Cerrado. “Essa estratégia busca otimizar o uso de fertilizantes e o rendimento operacional, e o desafio está em atribuir corretamente o impacto de carbono a cada cultura”, afirmou. Já Ciro Magalhães ressaltou que a alocação de nutrientes deve considerar a exportação pelos grãos e o efeito residual dos fertilizantes. “A pegada de carbono precisa refletir a demanda real de cada cultivo no sistema de produção”, completou.
Como exemplo, Alexandre Ferreira explicou que a adubação antecipada com fósforo, feita antes do plantio da soja, deve ter seu impacto de emissões de gases de efeito estufa compartilhado com o milho da segunda safra, de forma proporcional ao uso de nutrientes. “No caso do nitrogênio, a alocação é feita conforme o uso em cada cultura, enquanto o potássio depende de fatores como a capacidade de troca de cátions (CTC) do solo e o tempo de uso da área”, detalhou.
Os resultados do encontro subsidiarão publicações técnicas e científicas, que orientarão a contabilidade dos Programas Baixo Carbono da Embrapa. A iniciativa é uma das primeiras ações conjuntas da Rede Embrapa de Programas de Baixo Carbono, que reúne mais de 21 unidades da Embrapa dedicadas à temática da agricultura de baixo carbono.
Fonte: Assessoria de Imprensa Embrapa





