Considerada uma das principais e mais devastadoras doenças fúngicas que acometem a soja, a ferrugem-asiática, causada pelo fungo (Phakopsora pachyrhizi), pode causar danos significativos na produção, podendo em alguns casos, até mesmo comprometer a viabilidade da lavoura. Estima-se que em cultivares mais suscetíveis e sob elevada pressão da doença, os danos à produtividade podem chegar a 90% (Godoy et al., 2021).
Nesse sentido, adotar medidas de manejo eficientes para o controle da ferrugem-asiática é essencial para assegurar o potencial produtivo da lavoura, reduzindo as perdas de produtividade em função da ocorrência dessa doença. Além das boas práticas agronômicas, o uso de fungicidas é a principal estratégia de manejo para o controle da ferrugem em escala comercial.
Contudo, mesmo com um bom programa fitossanitário e um adequado posicionamento de fungicidas, a doença pode incidir com maior severidade na soja, dependendo das condições climáticas e ambientais. Embora apresente um ciclo bem definido (figura 1), para que ocorra a infecção do fungo na planta, são necessárias condições ambientais específicas, o que pode influenciar no menor ou maior potencial para o desenvolvimento da ferrugem-asiática.
Figura 1. Ciclo da ferrugem-asiática da soja.
Condições necessárias para o desenvolvimento da ferrugem-asiática
Para que ocorra o desenvolvimento da ferrugem-asiática em soja, além da presença do inóculo do fungo, são necessárias condições adequadas de temperatura e umidade. De acordo com Soares et al. (2023), o processo de infecção depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha (figura 2), sendo necessários no mínimo seis horas, com um máximo de infecção ocorrendo com 10 a 12 horas de molhamento foliar.
Além da umidade, a temperatura também é fator determinante para o desenvolvimento da ferrugem. Temperaturas amenas, variando entre 18°C a 26,5°C favorecem a infecção (Soares et al., 2023). Nesse sentido, as condições climáticas exercem importante influência sobre o desenvolvimento da doenças. Além das chuvas frequentes, o orvalho por longos períodos, atrelado a temperaturas amendas tende a favorecer o desenvolvimento da ferrugem.
Figura 2. Orvalho em folhas de soja.
A temperatura exerce forte influência sobre o efeito de latência do fungo. O período latente, é o tempo entre o início da infecção e a esporulação, sendo de seis dias à temperatura de 26 °C. Esse período tende a aumentar conforme a temperatura se distancia desse ponto ótimo, em ambas as direções, podendo chegar a 12 ou 16 dias sob temperatura de 15 °C. Temperaturas acima da faixa favorável à infecção também afetam negativamente a germinação dos esporos e, por consequência, a taxa de desenvolvimento da doença (Godoy et al., 2020).
Por ser considerado um fungo policíclico, o fungo causador da ferrugem-asiática possui elevada persistência em áreas agrícolas, sobretudo, necessita de um hospedeiro para sobreviver, podendo este, ser alguma planta daninha e/ou plantas de soja. O fungo pode acometer a soja em qualquer estádio do desenvolvimento da planta, o que atrelado a complexa identificação dos sintomas iniciais da doença, dificulta o controle efetivo da ferrugem-asiática no início da infecção, fazendo com que a maioria das recomendações de manejo para a doenças, baseiem-se no controle preventivo.
Monitoramento e dinâmica populacional
A dispersão dos esporos da ferrugem-asiática ocorre pelo vento, e pode percorrer longas distancias, adentrando inclusive áreas de outros países (Yorinori; Nunes Junior; Lazzarotto, 2004). Medidas como o monitoramento dos esporos com coletores de esporos (figura 3) podem auxiliar no manejo da doença, entretanto não assumem papel definitivo, uma vez que esporos não viáveis podem ser observados nos coletores, não necessariamente representando risco de infeção.
Figura 3. Coletor de esporos.

Nesse contexto, o monitoramento com o coletor de esporos não dispensa a inspeção das lavouras para avaliação de sintomas, principalmente sob condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença, devendo portanto, ser utilizado como ferramenta complementar de manejo. A avaliação dos sintomas deve ser feita em folhas dos terços inferior e médio, com o uso de lupa de bolso (mínimo 20x de aumento), buscando visualizar as urédias do fungo (figura 5), na face inferior das folha. As urédias são as estruturas nas quais são formados os uredosporos (esporos) para posterior liberação (Oliveira et al., 2020).
A avaliação de campo é fundamental, para quantificação das primeiras ocorrências, determinação da severidade da epidemia e ajustes do programa de manejo, mas não devemos desconsiderar o fato de que, o manejo fúngico deve ser iniciado preventivamente.
Figura 4. Esporos de Phakopsora pachyrhizi (ferrugem-asiática da soja) em microscópio óptico com diferentes aumentos. A – Fotos feitas com lamínula; B – Fotos feitas sem lamínula.

Figura 5. Urédias (pústulas) de ferrugem-asiática na face inferior da folha de soja.
Considerando os aspectos observados, a dinâmica populacional da ferrugem-asiática normalmente se inicia em áreas com presença prévia de inóculo, em plantas daninhas hospedeiras ou soja voluntária remanescente. A partir dessas fontes, os esporos do fungo podem ser facilmente disseminados pelo vento para áreas vizinhas. Quando essas novas áreas apresentam condições favoráveis de temperatura e, especialmente, de umidade (como orvalho persistente ou chuvas frequentes), ocorre a infecção das plantas, o desenvolvimento dos sintomas e o subsequente aumento da população do patógeno, intensificando a severidade da doença.
Além da ferramentas supracitadas para o monitoramento (condições ambientais, coletor de esporos e análise de sintomas) atualmente uma parceria público/privada contribui para o monitoramento dos casos de evolução da ferrugem-asiática no Brasil. Trata-se do Consórcio Antiferrugem, uma plataforma gratuita que é constantemente atualizada e demonstra a dispersão dos casos de ocorrência da doença em lavouras de soja cultivadas, os casos de ocorrência em soja voluntária e a presença de esporos da ferrugem-asiática, auxiliando técnicos e produtores no posicionamento de estratégias de manejo. Na safra passada, 124 casos de ocorrência da ferrugem-asiática foram relatados pelo Consórcio Antiferrugem. Abaixo apenas uma imagem da dinâmica e dispersão observada na safra passada.
Figura 6. Dispersão dos casos de ferrugem-asiática no Brasil, safra 2024/2025.

Em suma, umidade (disponibilidade de água livre), temperatura e inóculo viável, são os três fatores necessários para que ocorra a infecção do fungo Phakopsora pachyrhizi em soja.
Nesse sentido, medidas preventivas a ocorrência da doenças devem ser adotadas para reduzir a severidade da doença, dando ênfase para o monitoramento da ferrugem sob condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do patógeno e, quando condições favoráveis são observadas ou previstas, já ajustar o seu programa de manejo, visando a aplicação de produtos com maior eficácia e em momentos adequados.
Referências:
CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM. Parceria público-privada no combate à ferrugem asiática da soja. Disponível em: < http://www.consorcioantiferrugem.net/#/main >, acesso em: 17/06/2025.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2020/2021: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 174, 2021. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/225501/1/Circ-Tec-174.pdf >, acesso em: 17/06/2025.
GODOY, C. V. et al. FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA: BASES PARA O MANEJO DA DOENÇA E ESTRATÉGIAS ANTIRRESISTÊNCIA. Embrapa Soja, Documentos, n. 428, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1122923/1/DOC-428.pdf >, acesso em: 17/06/2025.
OLIVEIRA, G. M. et al. COLETOR DE ESPOROS: DESCRIÇÃO, USO E RESULTADOS NO MANEJO DA FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 167, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1129482/1/Circ-Tec-167.pdf >, acesso em: 17/06/2024.
SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1158639 >, acesso em: 17/06/2025.
YORINORI, J. T.; NUNES JUNIOR, J.; LAZZAROTTO, J. J. FERRUGEM “ASIÁTICA” DA SOJA NO BRASIL: EVOLUÇÃO, IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E CONTROLE. Embrapa, Documentos, n. 247, 2004. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/467712/1/Documentos247.pdf >, acesso em: 17/06/2024.




