A qualidade do solo é um dos principais fatores determinantes da produtividade das culturas agrícolas. Como um sistema trifásico, coloidal e aberto, o solo é composto por frações sólida, líquida e gasosa, que interagem entre si para sustentar o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Além de fornecer suporte físico, o solo atua como meio de fornecimento de água, nutrientes e oxigênio, sendo considerado o principal substrato para a produção agrícola.
Contudo, para que o solo seja capaz de promover o bom crescimento e desenvolvimento vegetal, são necessários bons atributos químicos, biológicos e físicos, possibilitando com que as raízes cresçam sem restrições e/ou estresses, bem como estimulando a microbiota do solo e relações sinérgicas com as plantas.
Dentre os principais fatores limitantes do crescimento e desenvolvimento vegetal relacionados a qualidade do solo, destacam-se o impedimento químico e o impedimento físico. O impedimento químico se refere ao efeito tóxico do alumínio no solo e pH inadequado, que tende a limitar o crescimento e desenvolvimento das raízes. Já o impedimento físico, é reflexo da compactação do solo, em que o aumento da densidade de partículas do solo atua como uma barreira física ao crescimento radicular, limitando a zona de solo explorado pelas raízes da planta.
Diversos estudos tem avaliado a influência da compactação do solo como impedimento físico ao crescimento e desenvolvimento vegetal. De acordo com Savioli et al. (2021), as raízes de soja são os órgãos mais afetados pela compactação física do solo. O aumento da densidade do solo implica na redução da massa, comprimento e volume de raízes, prejudicando a absorção de água a nutrientes da solução do solo. Os autores destacam que a partir de 1,3g cm-3 de densidade, já é possível observar a restrição do crescimento radicular da soja e a redução da produtividade da cultura.
Uma das medidas para reduzir os efeitos da compactação do solo é inserir na rotação de culturas plantas ditas “descompactadoras”, ou seja, que apresentam um vasto sistema radicular, e tendem a estimular a formação de macroporos no solo (figura 1). Sobretudo, essa medida requer tempo, planejamento e persistência, e tende a surtir maiores resultados a longo prazo.
Figura 1. Sistema radicular de nabo-forrageiro e seu efeito no estrutura do solo.

A curto prazo, intervenções mecânicas como a escarificação podem ser alternativas interessantes para reduzir a compactação do solo e estimular o crescimento de raízes em profundidade. Os resultados da escarificação como medida de manejo do solo são controversos, em algumas ocasiões demonstrando benefícios ao sistema de produção e produtividade das culturas, enquanto em outras situações não demonstra benefícios significativos.
Esse comportamento pode estar associado ao ambiente de cultivo e condições físicas do solo. Analisando a eficácia do uso desta técnica no rompimento de camadas compactadas e potencialização da produtividade de cultivares de soja em terras baixas, Lansana et al. (2024) observaram que as respostas de produtividade em função da escarificação do solo, estão condicionadas ao ambiente de cultivo, sendo que, para um dos ambientes analisados (ambiente 1), a escarificação proporcionou ganhos substanciais na produtividade dos grãos, enquanto para o outro ambiente (ambiente 2), não foram observados ganhos estatisticamente significativos (tabela 1).
Tabela 1. Sistema de implantação e cultivares na produtividade de grãos (kg ha-¹) de soja em dois ambientes de cultivo.

Fonte: Lansana et al. (2024)
Ao avaliar o efeito de diferentes níveis de manejo no desempenho agronômico de cultivares de soja com distintos grupos de maturação, sob condições de déficit hídrico Santos et al. (2025) constataram que a escarificação do solo contribui para o aumento do comprimento radicular da soja (figura 2), entretanto, não resultou no incremento de produtividade em relação ao solo não escarificado (figura 3).
Figura 2. Comprimento de raiz de plantas de soja das cultivares BMX Fibra IPRO e BMX Zeus IPRO submetidas a distintos manejos do solo.

Fonte: Santos et al. (2025)
Figura 3. Rendimento em grãos de soja das cultivares BMX Fibra IPRO e BMX Zeus IPRO submetidas a diferentes níveis de manejo do solo.

Fonte: Santos et al. (2025)
Mesmo sem diferenças estatísticas significativas de produtividade (atribuída principalmente a ocorrência de déficits hídricos durante o período do estudo), os resultados observados por Santos et al. (2025) assim como os dados obtidos por Lansana et al. (2024), demonstram que as repostas em função da escarificação do solo são dependentes do ambiente de cultivo.
No entanto, com base nos dados apresentados por Santos et al. (2025), há indícios de que, sob condições climáticas normais, a escarificação do solo tende a proporcionar resultados positivos, especialmente em solos com grau médio a elevado de compactação. Mesmo sob estresse hídrico, os autores observaram rendimentos superiores nas áreas escarificadas em comparação àquelas com compactação.
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Referências:
LANSANA, W. A. et al. ESCARIFICAÇÃO NO ESTABELECIMENTO E DESEMPENHO AGRONÔMICO DA SOJA EM TERRAS BAIXAS. Revista Observatorio De La Economia Latinoamericana, 2024. Disponível em: < https://ojs.observatoriolatinoamericano.com/ojs/index.php/olel/article/view/4752/3134 >, acesso em: 22/07/2025.
SANTOS, V. G. E. et al. DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA SOB DIFERENTES NÍVEIS DE MANEJO DE SOLO. Revista Observatorio De La Economia Latinoamericana, 2025. Disponível em: < https://ojs.observatoriolatinoamericano.com/ojs/index.php/olel/article/view/10466/6597 >, acesso em: 22/07/2025.