A nutrição de plantas desempenha papel fundamental na produtividade de uma cultura. A água, radiação solar e nutrientes são os principais fatores limitantes da produtividade de uma planta. Tendo em vista a conservação e manutenção da fertilidade e sustentabilidade do solo, visando a eficiência do sistema de produção, é fundamental a busca por alternativas que minimizem os impactos decorrentes da produção agrícola e melhorem as características físicas, estruturais, químicas e biológicas do solo.
Pensando nisso, a diversificação de culturas entra no sistema de produção como uma alternativa técnica buscando empregar benefícios ao sistema, aliado ao retorno econômico ao produtor. Em palestra on-line na sexta-feira dia 15/05/2020, no Canal da Embrapa Radar da Tecnologia Soja,
o Pesquisador da Henrique Debiasi aborda o tema: Estratégias de diversificação de culturas em sistemas de produção, trazendo dados atualizados e práticas de manejo pertinentes ao tema e relacionadas a produtividade da soja.
Segundo Debiasi, a produtividade da soja está diretamente relacionada ao manejo do solo e além da fertilidade química a qual pode ser complementado ou corrigida por meio de fertilizantes, Henrique chama atenção para as contribuições do correto manejo do solo e rotação de culturas no incremento da matéria orgânica do solo, produção de raízes, cobertura do solo e diversidade biológica no solo.
Dentre as contribuições relacionadas da matéria orgânica do solo e maior produção de raízes, Debiasi destaca que ambos estão “atrelados com a melhora da estrutura do solo, de forma a fornecer mais água disponível” as plantas. Ambos os “insumos de sistema”, ou seja, a matéria orgânica do solo, a maior produção de raízes, a cobertura do solo e a diversidade biológica contribuem para a maior infiltração de água no solo, aeração, CTC do solo entre outros benefícios que são refletidos na produtividade da cultura.
Figura 1. Diagrama esquemático da contribuição dos “insumos de sistema” para o sistema de produção.

Henrique ainda destaca que os “insumos de sistema” não são possíveis de comprar, “não vem em bags” e a diversificação de culturas é a principal forma de trabalhar esses insumos.
Segundo DEBIASI et al. (2018), a produtividade de uma cultura apresenta resposta direta com o incremento de matéria orgânica do solo, sendo que a diferença de produtividade de um sistema com baixa matéria orgânica do solo e palhada podem chegar a 34 sc.ha-1, conforme demonstrado na figura 1.
Figura 2. Manejo do solo X Desempenho do Sistema de Produção (SPs). Relação entre a produtividade de soja e a quantidade de matéria orgânica e palha.

Contudo, os autores destacam que o incremento/aumento da matéria orgânica do solo é um processo trabalhoso, que demanda tempo e dedicação. Em média, para o incremento de 1 % da matéria orgânica do solo, são necessários 12 anos quando se trabalha com o sistema trigo/soja, contudo quando se diversifica o sistema de produção, trabalhando com diferentes rotações, no caso avaliado pelos autores (tremoço/milho – aveia/soja – trigo/soja – trigo/soja) o tempo para incrementar 1% de matéria orgânica do solo diminui 4 anos em comparação ao sistema trigo/soja, sendo de 8 anos.
Além disso, Debiasi comenta da importância do sistema plantio direto no incremento da matéria orgânica, explicando que o revolvimento do solo causa muita perda de matéria orgânica por mineralização e que a principal forma de aumentar a matéria orgânica do solo é por meio da rotação de culturas e produção de palhada.
Ele ainda destaca a importância da diversificação de culturas e da vasta contribuição que as raízes de plantas exercem sobre o sistema de produção. “Quando mais espécies colocar no sistema maior a comunidade microbiana” e com isso maior a contribuição em melhorias estruturais para o solo e produtividade das culturas (figura3). “Cada espécie contem sua comunidade microbiana”, sendo assim a diversificação de espécies contribui significativamente para o aumento e diversificação de microrganismos no solo. Além disso, segundo Debiasi, as raízes de uma cultura de cobertura correspondem de 50 a 70% da contribuição da cultura para o aumento de produtividade da soja, enquanto a palha contribui de 30 a 50%, dessa forma, fica dado o enfoque da importância das raízes, visto que geralmente a maior atenção é dada para a palha residual das culturas de cobertura.
Figura 3. Influência da atividade e diversidade biológica do solo na produtividade de milho e soja.

A diversificação dos sistemas traz importantes contribuições par o solo, atuando desde a descompactação do solo, fertilidade, controle de pragas e doenças entre outros. Contudo a diversificação do sistema de produção depende de um conjunto de fatores. Dentre esses fatores é importante destacar a aptidão de solo e região ao cultivo das plantas para diversificação, a disponibilidade de sementes e insumos e a adequação ao sistema de produção e janela de cultivo.
Contudo, apesar de diferenças entre regiões de cultivo, de modo geral é interessante buscar a rotação entre gramíneas e leguminosas, fato que segundo Debiasi contribui no aumento da matéria orgânica do solo. Das alternativas disponíveis para a diversificação, se destacam a rotação de culturas e a sucessão de culturas, no entanto a rotação de culturas “implica numa alternância de culturas numa mesma estação” fato que pode dificultar sua adesão, sendo mais facilitado o emprego da sucessão de culturas.
Veja também: Consórcios de braquiária com milho melhora o solo e a produtividade da soja
No entanto outras alternativas apresentam considerável contribuição na diversificação dos sistemas de produção, trazendo benefícios para o sistema. Trata-se da consorciação de culturas e do cultivo nas janelas de entressafras das culturas principais com espécies de rápido crescimento.
Segundo Debiasi, os efeitos do cultivo de milho sobre a produtividade da soja “perduram por aproximadamente três anos”, dessa forma é possível trabalhar com o cultivo de milho em 25% da área, privilegiando o cultivo da soja que na maioria das propriedades é atividade mais lucrativa. Para regiões subtropicais, a utilização de “mixers” de plantas de cobertura vem sendo amplamente difundida, apresentando considerável participação na diversificação de culturas principalmente nos cultivos de outono-inverno com espécies como aveia-preta, nabo-forrageiro, ervilhaca, azevém etc… Já para regiões tropicais, espécies como milheto, braquiária, capim-sudão e crotalária são mais utilizadas.
Uma alternativa interessante é o consorcio de milho safrinha com braquiária (figura 4), uma vez que a produção palhada é abundante a após colhido o milho o solo permanece coberto pela braquiária, servindo como proteção contra erosões superficiais e servindo como fonte de incremento para a matéria orgânica do solo.
Figura 4. Consorcio de milho safrinha com braquiária.

Confira a palestra do Pesquisador Henrique Debiasi, no canal do Youtube da Embrapa Clicando aqui.
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Referências:
DEBIAIS, H. et al. IMPORTÂNCIA E ESTRATÉGIAS DE DIVERSIFICAÇÃO DE CULTURAS. Embrapa, Londrina, 2018.
DEBIASI, H. et al. DIVERSIFICAÇÃO DE ESPÉCIES VEGETAIS COMO FUNDAMENTO PARA A SUSTENTABILIDADE DA CULTURA DA SOJA. Documentos, n. 366, Embrapa, 2015.
Redação: Maurício Siqueira dos Santos – Eng. Agrônomo, equipe Mais Soja.