No cenário atual, a ferrugem-asiática, causada pelo fungo (Phakopsora pachyrhizi) é uma das principais e mais devastadoras doenças que acometem a cultura da soja. Dependendo da severidade da doença, do período em que ocorre e da suscetibilidade da cultivar, perdas de produtividade de até 90% podem ser observadas (Godoy et al., 2024).
A doença possui um ciclo relativamente curto, e é considerada policíclica, ou seja, apresenta a capacidade de completar múltiplos ciclos de infecção durante o ciclo da cultura, o que permite que a doença se manifeste em qualquer estádio fenológico da planta, dificultando o controle efetivo da ferrugem.
O processo de infeção começa pela chegada do inóculo. Os uredosporos chegam à planta carregados principalmente pelo ar. A epidemia começa com a germinação dos uredosporos (figura 1), seguida da produção do tubo germinativo e posterior crescimento do mesmo na superfície da folha, até ocorrer a formação do apressório (Pelin et al., 2020).
Figura 1. Uredosporos de Phakopsora pachyrhizi não germinados (A) e germinados (B).

Vale destacar que o fungo causador da ferrugem é classificado como biotróficos, ou seja, necessita de um hospedeiro vivo para sobreviver (Godoy et al., 2020). Além disso, condições específicas são necessárias para que ocorra a infecção na planta. O desenvolvimento da doença depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha, sendo necessárias no mínimo seis horas, com um máximo de infecção ocorrendo com 10 a 12 horas de molhamento foliar e temperaturas variando entre 18°C e 26,5°C (Henning et al., 2014).
Figura 2. Sintomas da ocorrência de ferrugem-asiática em soja. Face abaxial da folha.
Com base nos aspectos observados e tendo em vista o impacto exercido pela ferrugem-asiática sobre a cultura da soja, adotar estratégias de manejo que possibilitam reduzir a incidência da doença é determinante para a manutenção do potencial produtivo da lavoura.
Estratégias para o manejo da ferrugem-asiática
Resistência genética
Para algumas regiões, cultivares de soja resistentes a ferrugem-asiática já estão disponíveis para cultivo, demonstrando ser uma importante ferramenta para reduzir os danos em decorrência da doença. No entanto, o manejo fitossanitário dessas cultivares não dispensa a utilização de fungicidas, uma vez que populações virulentas podem ser selecionadas em decorrência da variabilidade do patógeno (Soares et al., 2023),
O posicionamento de cultivares quanto a época de semeadura também exerce efeito determinante para o sucesso no manejo da ferrugem-asiática. Mesmo se tratando de cultivares com resistência genética, recomenda-se que toda a semeadura de soja deva ser realizada no início da época indicada, utilizando preferencialmente cultivares precoces (Soares et al., 2023).
Vazio sanitário
Considerando que o fungo causador da ferrugem-asiática é biotrófico, e portanto necessita de hospedeiros vivos para sobreviver, o controle de plantas voluntárias de soja (soja guaxa), durante os períodos entressafra é uma das principais estratégias para quebra do ciclo do patógeno e redução da incidência da doença.
Figura 3. Soja voluntária em pastagem de inverno.
Tendo em vista a importância dessa prática para o manejo da ferrugem-asiática, estabelece-se o vazio sanitário para as regiões produtoras de soja. Durante o período do vazio sanitário, é proibido cultivar ou manter vivas plantas de soja em qualquer fase de desenvolvimento.
Para a safra 2025/2026, o Ministério da Agricultura e Pecuária estabeleceu os períodos de vazio sanitário em nível nacional, por meio da Portaria nº 1.271, publicada em 5 de Maio de 2025. Essa portaria pode ser consultada clicando aqui! O vazio sanitário é uma medida crucial para reduzir a disseminação e desenvolvimento da ferrugem-asiática, contribuindo efetivamente para a redução da incidência da doença durante a safra de verão.
Fungicidas
O uso de fungicidas químicos para o manejo e controle da ferrugem-asiática tem se mostrado indispensável para a obtenção de boas produtividades em soja. Sobretudo, o fungicida deve ser aplicado preventivamente ou nos primeiros sintomas da doença (Soares et al., 2023).
As recomendações de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja devem priorizar produtos devidamente registrados, contendo estrobilurinas associadas a triazóis, triazolintione e/ou carboxamidas. A aplicação desses fungicidas deve seguir rigorosamente as doses, os intervalos e os períodos indicados pelas empresas responsáveis pelo registro, conforme orientações do Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas (FRAC-BR, 2024).
De acordo com Godoy et al. (2024), o fungo Phakopsora pachyrhizi apresenta diferente sensibilidade a fungicidas com um único ingrediente ativo, sendo que, há menor severidade da doença entre os triazóis, para protioconazol e tebuconazol. Já entre as estrobilurinas, há uma menor severidade quando utilizado picoxistrobina e metominostrobina (figura 4).
Figura 4. Média da porcentagem de controle da ferrugem-asiática com os fungicidas tebuconazol (TBZ), ciproconazol (CPZ), tetraconazol (TTZ), protioconazol (PTZ), azoxistrobina (AZ), picoxistrobina (PCX) e metominostrobina (MTM) nos experimentos (n) cooperativos nas safras: 2003/2004 (n=11), 2004/2005 (n=20), 2005/2006 (n=15), 2006/2007 (n=10), 2007/2008 (n=7), 2008/2009 (n=23), 2009/2010 (n=15), 2010/2011 (n=11), 2011/2012 (n=11), 2012/2013 (n=21), 2013/2014 (n=16), 2014/2015 (n=21), 2015/2016 (n=23), 2016/2017 (n=32), 2017/2018 (n=26), 2018/2019 (n=25), 2019/2020 (n=14), 2020/2021 (n=19), 2021/2022 (n=19), 2022/2023 (n=18) e 2023/2024 (n=12) em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil.

Nesse sentido, o uso de fungicidas que contemplem em sua formulação, misturas comerciais ou misturas em tanque, com mais de um princípio ativo de fungicidas, incluindo os fungicidas multissítios, tende a proporcionar um controle mais eficiente da doença. Além disso, a rotação de grupos químicos de fungicidas torna-se essencial para o manejo da resistência do fungo Phakopsora pachyrhizi a fungicidas.
Conforme recomendações de manejo estabelecidas pelo FRAC-BR para um controle eficaz da ferrugem, alguns cuidados devem ser seguidos para garantir bom níveis de controle ao posicionar fungicidas em soja. Os fungicidas multissítios, devem estar presentes em todas as aplicações de fungicidas, associadas a produtos sítios específicos, já as estrobilurinas, devem ser aplicadas sempre combinadas com fungicidas multissítios, triazóis, triazolintione ou carboxamidas (FRAC-BR, s. d.).
No que diz respeito ao uso de triazóis e triazolintione, indica-se a associação com multissítios, estrobilurinas ou carboxamidas. Já com relação ao uso das carboxamidas, orienta-se que as aplicações sejam sempre realizadas em combinação com fungicidas multissítios e triazóis, triazolintione ou estrobilurinas garantindo adequados níveis de eficácia (FRAC-BR, s. d.).
Com base nos aspectos observados e na necessidade de se associar grupos químicos no controle da ferrugem-asiáticas, fungicidas modernos como o Excalia Max® trazem em sua formulação mais de um principio ativo e grupo químico, possibilitando um controle mais eficaz da ferrugem-asiática e proporcionando maior praticidade nas pulverizações. No entanto, embora formulações modernas possibilitem um controle mais eficiente dessa doença, vale destacar que todo o programa de controle da ferrugem deve ser realizado de forma preventiva a ocorrência da doença (FRAC-BR, s. d.).
Referências:
FRAC-BR. IMPORTANTE: NOVAS RECOMENDAÇÕES PARA MANEJO DA FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA. Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas FRAC-BRASIL, 2024. Disponível em: < https://www.frac-br.org/recomendacoes-ferrugem-asiatica-da- >, acesso em: 04/07/2025.
FRAC-BR. NOVAS RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO DE DOENÇAS EM SOJA. Comitê de Ação A Resistência a Fungicidas – Brasil, s. d. Disponível em: < https://www.frac-br.org/_files/ugd/6c1e70_5494e2a5f1204eafa26ec81bce3aec6f.pdf >, acesso em: 04/07/2025.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEMASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2023/2024: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa Soja, Circular Técnica n. 206, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1165843/1/CT-206-Claudia-Godoy.pdf >, acesso em: 03/07/2025.
GODOY, C. V. et al. FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA: BASES PARA O MANEJO DA DOENÇA E ESTRATÉGIAS ANTIRRESISTÊNCIA. Embrapa Soja, Documentos, n. 428, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1122923/1/DOC-428.pdf >, acesso em: 03/07/2025.
HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, 2014. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/991687/1/Doc256OL.pdf >, acesso em: 03/07/2025.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA. PORTARIA DAS/MAPA N° 1.271, DE 30 DE ABRIL DE 2025. Diário Oficial da União, 2025. Disponível em: < https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-sda/mapa-n-1.271-de-30-de-abril-de-2025-627009485 >, acesso em: 03/07/2025.
NASCIMENTO, J. M. et al. GERMINAÇÃO DE UREDINOSPOROS DE Phakopsora pachyrhizi E Puccinia kuehnii SOB DIFERENTES ADJUVANTES. Arq. Inst. Biol. 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/aib/a/vp8J43rj8WBfrK8ZzR9dpDR/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 04/07/2025.
PELIN, C. et al. FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA: ETIOLOGIA E CONTROLE. Agropecuária catarinense, 2020. Disponível em: < https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/rac/article/view/497/974 >, acesso em: 04/07/2025.
SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, ed. 6, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1158639 >, acesso em: 03/07/2025.







