Vendas totais, no entanto, tiveram alta
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) divulgou na última quinta-feira (4 de setembro) os números referentes ao primeiro mês de vigência do tarifaço. São os primeiros dados consolidados desde que a alíquota de 50% passou a valer. Como já se esperava, as exportações do Brasil para os Estados Unidos registraram uma queda de 18,5% em agosto, em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Entre os principais itens da pauta exportadora brasileira para os EUA, quedas relevantes, na comparação com agosto do ano passado, ocorreram em aeronaves (93%), turborreatores, turbopropulsores e outras turbinas a gás (60,9%), óleos essenciais (52,25%), madeira perfilada (48,52%) e carne bovina congelada (47,69%).
Em relação ao mês anterior, a queda foi de 27,7%. Em julho, as exportações brasileiras para os americanos haviam somado US$ 3,82 bilhões, valor mensal máximo desde junho de 2022, em grande parte em razão da antecipação de compras por parte de importadores, cientes do iminente aumento das tarifas desde o dia 9 daquele mês. Houve uma diminuição de US$ 600 milhões em relação aos ganhos obtidos pelas exportações em comparação com o mesmo período do ano passado. As importações de produtos americanos, por outro lado, aumentaram 4,6% em agosto, um ganho de US$ 200 milhões.
Com isso, o Brasil registrou um déficit nas transações comerciais com os americanos pelo oitavo mês seguido neste ano, ou seja, importou mais produtos americanos do que exportou para os EUA. Desse modo, o saldo deficitário para o Brasil ficou em US$ 1,23 bilhão em agosto. Ainda segundo a balança comercial, apesar da queda nas compras de produtos brasileiros pelos EUA, houve um crescimento de 3,9% das exportações do Brasil em agosto como um todo. A agropecuária e indústria extrativa foram os setores que puxaram o desempenho para cima, com uma alta de 8,3% e 11,3%, respectivamente.
Empresas americanas com atuação no Brasil também sofrem

O tarifaço imposto ao Brasil e outras nações vem afetando empresas americanas com atuação no país. É o caso da John Deere, conglomerado gigantesco do ramo de maquinário agrícola. Há dois anos, a líder do setor registrou lucro recorde, mas as tarifas e outras políticas comerciais do governo Trump prejudicaram o desempenho da marca, que precisou recorrer à demissão em massa de funcionários e fechamento de unidades nos EUA. As informações foram publicadas pelo New York Times e compartilhadas pela Folha de São Paulo.
O preço de tabela dos tratores novos subiu pelo menos 60% nos últimos oito anos, segundo a University of Illinois Extension, com alguns modelos mais que dobrando de preço, custando pelo menos US$ 250 mil a mais do que antes. A base de clientes da empresa vem recorrendo ao mercado de usados, o que prejudica a John Deere e seu foco em potentes e sofisticadas máquinas agrícolas, com cujo valor o produtor americano não tem conseguido arcar.
As safras menores explicam parte do problema, mas as dificuldades também são oriundas da taxação sobre o aço e alumínio de outros países, elementos fundamentais na fabricação dos tratores, colheitadeiras e pulverizadoras. No mês passado, a John Deere informou que o lucro líquido no trimestre mais recente caiu 29% em relação ao ano anterior. Ironicamente, a tradicional empresa integra um nicho enaltecido por Trump, mas que vem sendo na prática prejudicado pelas decisões do republicano.
No Brasil, a John Deere tem forte presença e atuação. Um exemplo é a inauguração recente, em Indaiatuba (SP), do primeiro centro global de pesquisa e desenvolvimento da John Deere voltado à agricultura tropical. O projeto demandou um investimento de R$ 180 milhões. A empresa também quer levar conectividade e autonomia para o campo brasileiro, firmando parcerias para conexões de internet que permitam a implementação de máquinas sem condutores. Alguns obstáculos regulatórios precisam ser contornados para que isso aconteça.
A sustentabilidade também está no radar da companhia. Embora outras regiões do mundo estejam apostando na eletrificação, a empresa vê no etanol a melhor solução para o Brasil. Apesar dos avanços em inovação, o setor ainda convive com entraves estruturais. Um dos maiores, segundo representantes da John Deere, está fora das fazendas: a logística. Esse assunto é constantemente abordado em matérias e entrevistas do Portal SNA.
Em curto prazo, no entanto, o cenário é de atenção, com o tarifaço e os juros altos, tanto nos EUA quanto aqui, o que pode fazer a matriz repensar seus planos globalmente se esses aspectos não mostrarem arrefecimento.
Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Com informações complementares do Ministério da Agricultura, da Fazenda e da Secretaria de Comércio Exterior
Fonte: Disponível no portal da SNA