- Fatores altistas
A soja teve um aumento considerável durante esta semana, impulsionada por três fatores elementares:
a) Em primeiro lugar, na segunda-feira o USDA apresentou um relatório trimestral com estoques físicos em 01 de setembro, que coincide com o fim do ano comercial de 2018/19 e que serão os estoques iniciais da temporada 2019/20. O mercado mantinha expectativa de um número de 26,7 MT, mas o Departamento de Agricultura americano divulgou um volume menor, de 24,8 MT, provocando ajustes positivos, com um cenário em que a oferta inicial da nova safra seria quase 2,0 MT abaixo do esperado.
b) Em segundo lugar, o contexto das relações comerciais entre EUA e China entrou em uma fase otimista, diante da nova rodada de negociações entre altos funcionários dos dois países. Durante as últimas semanas a China concretizou compras de soja americana que superaram as 2,4 MT, que o mercado encarou como um gesto de boa vontade a fim de realizar um possível acordo.
c) Outro aspecto muito importante foi o clima na América do Sul, com informações de que faltam de chuvas em importantes estados produtores no Brasil.
- Fatores baixistas
a) Em contrapartida a todos os fatores altistas, começaram os trabalhos de colheita dos primeiros lotes nos EUA, que já atingiu 7%. Esta entrada de nova oferta limitou uma alta maior nos preços e deve pressionar o mercado por mais algumas semanas.
b) Embora sejam 2,0 MT menores, os atuais estoques iniciais da soja nos EUA são 5 vezes maiores do que a média dos 5 anos anteriores a 2017, quando começou a guerra comercial com a China, de modo que continuam a fazer pressão sobre os preços, limitando a alta (em nossa opinião e que funcionou durante esta semana) a não mais do que $ 9,20/bushel. Para o preço da soja, tanto no Brasil quanto nos EUA, voltar aos seus patamares “normais” haveria necessidade de Chicago chegar pelo menos a $ 10,50, que significariam pelo menos 4,3 limites de alta.
Acreditamos que seja difícil, porque a China não precisa de tanta demanda no momento atual, diante da redução do seu parque de suínos em mais de 40% e porque poderá comprar praticamente 95% do que necessita na América do Sul, fato que lhe dá enorme poder de barganha na guerra comercial contra os EUA.
c) O dólar está abaixo da sua cotação mais alta dos últimos meses e com viés de baixa. O dólar é um fator importante na composição do preço da soja no Brasil, estimado em aproximadamente 35% do preço. Por sua vez, ele é composto por 30% de fatores nacionais (índices econômicos, reformas da Previdência, tributária, etc) e 70% de fatores internacionais (que, no momento, são principalmente a questão dos juros nos EUA, a guerra comercial EUA-China que está desgastando não só as economias destes países, como de todo o resto do mundo; o problema do Brexit, os problemas do BCE-Banco Central Europeu, as desavenças entre EUA e União Europeia, entre EUA e Irã, que atinge o petróleo que quando sobe enxuga os recursos financeiros do mundo, etc).
No aspecto nacional parece que as coisas estão se encaminhando para acertos, com a melhora lenta, mas firme da economia brasileira, mas o aspecto internacional pode apresentar surpresas inesperadas, que podem alterar a trajetória da moeda norte-americana.
NOSSA RECOMENDAÇÃO: O agricultor brasileiro tem duas importantes decisões a tomar:
a) se vende ou segura a soja que tem em mãos ainda não negociada e;
b) se aumenta ou não a área para a próxima safra. Em nossa opinião, no primeiro caso, acreditamos que os preços não tem força para subirem acima dos R$ 85,00 que já estiveram nas praças de Passo Fundo e Cascavel ou seus equivalentes em outras praças do país. Então, nossa recomendação é que se vendam os lotes restantes tão logo haja alguma alta em Chicago ou no dólar, mesmo que seja a preços levemente abaixo destes níveis (por exemplo R$ 83,00/82,50).
Para sua melhor orientação, apresentamos ao lado uma tabela dos custos de carregamento da posição da soja colhida em maio passado até o momento, partindo dos preços correntes naquele mês e corrigindo-os até o momento.
Se os preços em sua cidade estiverem iguais aos constantes na coluna “OUT”, significa que você não está ganhando nada mais do que ganharia vendendo logo depois da colheita e aplicando o dinheiro; se o preço atual na sua cidade está acima dos constantes da tabela, significa que valeu a pena ter guardado a soja.
No segundo caso, continuamos a recomendar que se plante tudo o que puder, porque não faltará demanda chinesa para a soja brasileira na próxima safra, a julgar pelo nível dos prêmios positivos que se mantém inalterados, quando, para os mesmos meses, os prêmios são negativos na Argentina, nosso forte concorrente. E também porque acreditamos que a China dará preferência por se abastecer na América do Sul, para usar esta possibilidade como poder de barganha contra os EUA.
Fonte: T&F Agroeconômica