A ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyhizi é considerada uma das doenças mais severas que acometem a cultura. De acordo com Godoy et al. (2020), os danos causados por esse fungo podem variar de 10 a 90%. Abdelnoon et al. (2021), afirmam a primeira ocorrência de ferrugem asiática no Brasil ocorreu na safra 2001/2002 e se espalhou rapidamente pelas principais regiões produtoras, devido à sua disseminação através do vento.

Os primeiros sintomas da ferrugem asiática, segundo Henning et al. (2014), manifestam-se através de pequenos pontos, com dimensões de no máximo 1 mm, que apresentam uma cor mais escura em comparação com o tecido sadio da folha. Essas lesões podem variar de coloração esverdeada a cinza-esverdeada, com protuberâncias conhecidas como urédia, localizadas na face inferior da folha. Com o tempo, as urédias adquirem cor castanho-clara a castanho-escura, abrem-se em um minúsculo poro, liberando os esporos hialinos que se acumulam ao redor dos poros e são dispersos pelo vento.

Figura 1. Ferrugem asiática na soja.

Durante os estádios iniciais de desenvolvimento, ainda antes da esporulação, as lesões de ferrugem podem ser confundidas com as lesões de pústula bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines), de mancha parda (Septoria glycines) e de crestamento bacteriano (Pseudomonas savastanoi pv. glycinea) sendo a diferenciação feita principalmente pela presença das urédias na lesão de ferrugem que se abrem liberando os uredosporos (Seixas et al., 2020).

De acordo com Godoy et al. (2017), a identificação da doença é realizada ao observar a presença de saliências que se assemelham a pequenas feridas ou bolhas, que correspondem às estruturas de reprodução do fungo as urédias, na face abaxial da folha. Essa doença pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura, as plantas infectadas apresentam desfolha precoce o que compromete a formação e o enchimento das vagens, consequentemente, reduz a produtividade da cultura. Contudo, Grigolli & Grigolli (2020), destacam que a ferrugem asiática da soja tem sido observada com maior frequência em plantas próximas no enchimento de grãos, especialmente nas folhas do baixeiro das plantas.

Godoy et al. (2017) destacam que o processo de infecção depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha, sendo necessário no mínimo 6 horas de molhamento foliar, sendo que o máximo de infecção ocorre com 10 a 12 horas de molhamento. A infecção ocorre principalmente sob condições de temperaturas entre 15 e 28 °C e elevadas umidades relativas entre 75 a 80%, sendo que chuvas bem distribuídas ao longo da safra favorece a doença, pois essas condições proporcionam um ambiente favorável para o desenvolvimento do fungo causador.



Godoy et al. (2006), desenvolveram uma escala diagramática para avaliar a severidade da ferrugem da soja, onde foram coletados folíolos em diferentes níveis de severidade e com base na lei do estímulo visual de Weber-Fechner, foram determinados os limites mínimos e máximos, bem como os níveis intermediários, a escala proposta apresentou seis níveis severidade, conforme podemos observar a seguir.

Figura 2. Escala diagramática para avaliação da severidade da ferrugem da soja.

Fonte: Godoy et al. (2006).

O controle da ferrugem asiática da soja requer a adoção de várias práticas combinadas, visando evitar perdas de rendimento na cultura, conforme Grigolli & Grigolli (2020), algumas recomendações essenciais são: optar pela semeadura de cultivares precoces no início da época recomendada para cada região, evitar o prolongamento do período de semeadura, pois a soja semeada mais tarde ou de ciclo longo pode sofrer maiores danos, devido à multiplicação do fungo nas primeiras semeaduras.

Além disso, é fundamental realizar um monitoramento cuidadoso desde o início da safra, especialmente durante o período de maior ocorrência da doença (próximo à floração), principalmente em áreas onde a ferrugem já foi constatada. Ao detectar a presença da doença na lavoura e identificar condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo, como chuvas frequentes ou abundante formação de orvalho, pode ser necessária a aplicação de fungicidas. Essa medida previne o avanço da ferrugem e protege a cultura da soja contra os maiores prejuízos causados ​​pela doença. Porém, o uso de fungicidas só é eficiente quando o manejo da área inclui as demais estratégias de controle, é preciso atentar para o uso de fungicidas com diferentes mecanismos de ação para evitar a ocorrência de resistência.

Os Ensaios Cooperativos de Eficiência de Fungicidas para o Controle da Ferrugem-asiática da Soja na Safra 2022/2023, trazem informações importantes sobre o manejo da ferrugem asiática na cultura da soja. De acordo com Godoy et al. (2023), os ensaios foram realizados em quatro experimentos nas principais regiões produtoras de soja do país, o objetivo desses ensaios foi avaliar a eficácia de novos fungicidas em fase de registro, fungicidas registrados com e sem multissítios, além de monitorar as possíveis mudanças de sensibilidade do fungo aos fungicidas. Além disso, a semeadura dos experimentos foi realizada mais tarde, nos meses de novembro e dezembro, a fim de garantir maior probabilidade do desenvolvimento da doença.

Nos ensaios realizados com fungicidas registrados (Tabela 1), foi observada severidade estatisticamente inferior em todos os tratamentos em comparação à testemunha, que não recebeu tratamento com fungicida. As porcentagens de controle dos fungicidas registrados variaram de 28% a 69% nos tratamentos T8 – Elatus e T15 – Almada, respectivamente. Destacando-se os tratamentos com programa de rotação de fungicidas, as menores severidades e as maiores porcentagens de controle foram observadas nos (T16 – 69%), Almada (T15 – 69%) e Sugoy (T12 – 67%), seguidos dos tratamentos com Evolution (T14 – 63%), Excalia Max (T6 – 63%), Fusão (T3 – 62%) e Armero (T13 – 61%).  Por outro lado, foi observada uma menor eficiência de controle para o tratamento com Elatus (T8 – 28%), seguido por Aproach Power (T2 – 41%).

Além disso, a maior produtividade verificada foi com o tratamento com fungicida Almada (T 15), com produtividade de 3.495 Kg ha-1. Em seguida, os tratamentos com Excalia Max (T6 – 3.352 kg ha-1), o programa de rotação de fungicidas (T16 – 3.296 kg/ha), Fox Supra (T5 – 3.271 kg ha-1) e Sugoy (T12 – 3.253 kg ha-1). Os autores destacam que o tratamento sem fungicida T1, teve uma redução de 41% na produtividade em relação ao tratamento de maior produtividade (T15), sendo que a produtividade foi de 2.075 Kg ha-1.

Tabela 1. Severidade da ferrugem-asiática (SEV), porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos no protocolo com FUNGICIDAS REGISTRADOS. Média de 21 experimentos para severidade e produtividade, safra 2022/2023.

Fonte: Godoy et al. (2023).

Nos experimentos com fungicidas sítio-específicos em mistura com fungicidas multissítios (Tabela 2), foram observados em todos os tratamentos, severidade inferior a testemunha (T1), que não recebeu tratamento com fungicida, as porcentagens de controle com misturas de fungicidas variaram de 65% a74% nos tratamentos 2 e 3, respectivamente. Os tratamentos que apresentaram menores severidades e maiores porcentagens de controle foram aqueles com misturas Fusão e Absoluto Fix (T3 – 74%) e Fox Supra e Milcozeb (T6 – 72%).

De acordo com Godoy et al. (2023), foi observado que a adição de fungicidas multissítios resultou em um aumento nas porcentagens de controle em comparação com os fungicidas sítio-específico no ensaio de fungicidas registrados (Tabela 1), aumentando 7% (Excalia Max) a 14% (Mitrion), ressaltando a importância da adição de fungicidas multissítios em semeaduras tardias e com alta pressão de ferrugem.

Tabela 2. Severidade (SEV) da ferrugem-asiática, porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos no protocolo com FUNGICIDAS SÍTIO-ESPECÍFICOS EM MISTURA COM FUNGICIDAS MULTISSÍTIOS. Média de 18 experimentos para severidade e produtividade, safra 2022/2023.

Fonte: Godoy et al. (2023).

Conforme destacado por Godoy et al. (2023), os fungicidas para o controle da ferrugem asiática devem ser utilizados sempre em misturas comerciais ou misturas em tanque, incluindo os fungicidas multissítios para maior eficiência de controle e para atrasar o processo de resistência. É importância priorizar a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação, bem como ajustar a época de semeadura.  Além disso, é fundamental evitar aplicações sequenciais e de forma curativa, pois tais práticas contribuem para a redução da pressão de seleção de resistência do fungo aos fungicidas.

De acordo com o comunicado emitido pelo Comitê de ação a Resistência a Fungicidas – FRAC-Brasil (2023), pesquisas recentes revelaram o surgimento de populações de Phakopsora pachyrhizi com sensibilidade reduzida aos triazóis e às triazolintione, novas mutações pontuais como a V130A, além das descritas anteriormente como F120L, Y131H, Y131F, I145F, K142R, I475T, dentre outras. Essas mutações estão relacionadas a redução do controle efetivo as diferentes moléculas pertencentes a esse grupo. Diante desse cenário, o FRAC (2023) enfatiza a importância da adoção de práticas de manejo integrado na cultura da soja, dentre as medidas que devem ser adotadas no manejo da cultura da soja estão:

Rotacionar os ingredientes ativos de mesmo mecanismo de ação ou grupo químico (triazóis/triazolintiona, carboxamidas, estrobilurinas, morfolinas e multissítios) nos programas de controle das doenças em soja;

Rotacionar entre fungicidas com diferentes mecanismos de ação (triazóis/triazolintiona, carboxamidas, estrobilurinas, morfolinas e multissítios);

– Aplicar os fungicidas para controle das doenças em soja sempre em associação com fungicidas multissítios;

– Realizar a aplicação de fungicidas de forma preventiva, sempre nas doses e nos intervalos recomendados pelos fabricantes;

– Utilizar tecnologia de aplicação e volume de calda adequado para eficiente distribuição do produto sobre a planta;

Não plantar soja “safrinha”;

Respeitar o vazio sanitário e eliminar as plantas voluntárias remanescentes em lavouras e beiras de estrada (sojas guaxas);

Realizar o plantio na época recomendada, utilizando variedades de ciclo mais curto e quando possível, com tolerância genética frente às doenças;

Realizar a rotação de culturas.

De acordo com as novas recomendações para o manejo de doenças na cultura da soja FRAC (2023), é fundamental adotar medidas de controle que incluam o uso de estratégias químicas eficientes para o manejo das fontes de inóculo. O principal objetivo é reduzir a progressão das doenças e evitar o risco de casos de resistência a fungicidas. Para alcançar esse propósito, é essencial combinar o uso de produtos multissítios com produtos sítio-específicos, como Estrobilurinas, Triazóis e Carboxamidas. Além disso, a inclusão de produtos biológicos em programas de aplicação é recomendada para aprimorar ainda mais o controle das doenças na cultura da soja.


Veja mais: Eficiência de fungicidas no controle da ferrugem-asiática da soja



Referências:

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GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154837/1/Circ-Tec-195.pdf >, acesso em: 31/07/2023.

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GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019. Fundação MS, Maracaju – MS, 2020. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 31/07/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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