Esse estudo teve como objetivo avaliar o efeito da adição de
inibidores e do parcelamento da dose N na redução das perdas de N por volatilização de amônia da ureia aplicada em cobertura na cultura do milho cultivado em terras baixas.
Autores: Eduardo Carniel¹; Fernando Viero²; Paulo Regis Ferreira da Silva³, Cimélio Bayer4.
Introdução
A cultura do milho vem se tornando uma alternativa como rotação de culturas e alto aporte de resíduos em terras baixas. Com as demandas de drenagem e irrigação estabelecidas previamente com sucesso a alta exigente em nitrogênio durante o seu ciclo produtivo é o fator de maior potencial de limitação para a cultura, tornando a sua aplicação indispensável em uma agricultura que busca altas produtividades (Silva et al., 2017; Fontoura & Bayer, 2010). Apesar da ureia ser a fonte de N mais utilizado para a cultura do milho a sua eficiência é baixa devido a diversos processos físicos, químicos e biológicos que ocorre na interface solo-planta-atmosfera, sendo os processos mais comuns lixiviação, volatilização, erosão e desnitrificação. As práticas utilizadas para minimizar as perdas por volatilização de amônia e lixiviação de nitrato são a utilização de inibidores da urease e da nitrificação (Soares et al., 2012). No entanto, o parcelamento da aplicação da dose de N em cobertura na cultura do milho pode ser uma alternativa para a redução dessas perdas. Dessa forma, esse estudo teve como objetivo avaliar o efeito da adição de inibidores e do parcelamento da dose N na redução das perdas de N por volatilização de amônia da ureia aplicada em cobertura na cultura do milho cultivado em terras baixas.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido a campo no ano agrícola 2018/19, na Estação Experimental Arroz, do Instituto Rio Grandense do Arroz, em Cachoeirinha-RS, região arrozeira da Planície Costeira Interna, do estado do Rio Grande do Sul. O solo da área experimental é classificado como Gleissolo Háplico Distrófico típico (Streck et al., 2008). A análise de solo indicou os seguintes valores: argila 260 g kg-1; pH (água): 5,4; Índice SMP: 6,7; P: 1,8 mg dm-3; K: 7,3 mg dm-3 e MO: 18 g kg-1. Os tratamentos utilizados foram aplicação de N em cobertura 1) Sem parcelamento – ureia comum (UC); 2) Sem parcelamento – ureia com inibidor da urease (UIU); 3) Sem parcelamento – ureia com inibidores da urease + nitrificação (UIN); 4) Parcelado em duas vezes – 1/3 e 2/3 – UC; 5) Parcelado em duas vezes – 1/3 e 2/3 – UIU; 6) Parcelado em duas vezes – 1/3 e 2/3 – UIU + UIN; e 7) Testemunha, sem N em cobertura.
A dose total de N foi de 250 kg ha-1, definida, com base na análise de solo, considerando o desenvolvimento do trevo vermelho como cobertura de solo no outono-inverno, visando a produtividade de 12 t ha-1. A aplicação da dose completa e/ou da primeira parcela foi realizada no estádio V4/5 (02 de dezembro de 2018) e a segunda em V7/V8 (12 dezembro de 2018). A adubação de base foi de 500 kg ha-1 de 55, 260 e 150 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, respectivamente. A semeadura do milho foi realizada em 7 de novembro de 2018, objetivando a densidade de 9,0 pl m-2, utilizando o híbrido AG 9025 PRO3.
Resultados e Discussão
As maiores perdas de N por volatilização de amônia foram verificadas no terceiro dia após a aplicação dos fertilizantes, atingindo picos de até 10 kg ha-1. Os fertilizantes que utilizaram inibidores apresentaram perdas por volatilização diária baixas na primeira época de aplicação tanto em dose única como em dose parcelada, porém na segunda dose do parcelamento as perdas se elevaram mesmo nos fertilizantes que utilizaram inibidores, o que contraria a hipótese que o parcelamento das doses de N reduz as perdas por volatilização de NH4+ (Figura 1A e 1B). Com a aplicação de N em dose única as maiores perdas por volatilização foram verificadas com a aplicação de ureia comum (sem utilização de inibidores), com perdas de até 8,8 % do N aplicado (Figura 1 A), significativamente superior à ureia com inibidores (0,6 % do N aplicado) (Figura 2).
Por sua vez, com aplicação da segunda parcela, considerando a dose total de N aplicado, as perdas de N da ureia por volatilização de amônia aumentaram para 16,3 % do N aplicado (Figura 1B), enquanto que, com o uso de inibidores as perdas aumentaram para 5,9 % do N Aplicado (Figura 1B), inferiores a verificadas em solos de sequeiro (Viero et al., 2017), o que pode estar ocorrendo pela maior umidade nos solos de terras baixas, facilitando a incorporação do fertilizante e reduzindo a ação da enzima urease sobre o N (Sanz-Cobena et al., 2011). comparando. A aplicação parcelada do N aumentou as perdas de N por volatilização, comparadas à aplicação em dose total. Esse resultado pode ser resultante da proximidade das datas de aplicação e do período aplicado, dezembro.
Figura 1. Perda acumulada de N por volatilização de amônia após a aplicação superficial de
diferentes fertilizantes nitrogenado em dose única ou na primeira parcela (A) e na segunda parcela (B) na cultura do milho.
Figura 2. Perda acumulada de N por volatilização de amônia após a aplicação de diferentes
fertilizantes nitrogenados em cobertura na cultura do milho, em terras baixas. Letras iguais não diferem pelo teste de Tukey a 5 %.
Conclusão
As maiores taxas de volatilização ocorrem até o terceiro dia após a aplicação de ureia comum, reduzindo com o uso de inibidores. No entanto, o parcelamento de N não foi uma estratégia efetiva para a redução das perdas de N por volatilização de amônia.
Referências
Cantarella H, Otto R, Soares JR e de Brito Silva AG. Agronomic efficiency of nbpt as a urease inhibitor: A review. Journal of advanced research, 2018.
Fontoura & Bayer. Ammonia volatilization in no-till system in the south-central region of the State of Paraná, Brazil. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 34, n. 5, p. 1677- 1684, 2010.
Sanz-Cobena A, Misselbrook T, Camp V e Vallejo A. Effect of water addition and the urease inhibitor nbpt on the abatement of ammonia emission from surface applied urea. Atmos Environ, 45:1517-1524, 2011.
Silva, P.R.F; Marchesan, E.; Schoenfeld, R. Rotação e sucessão de culturas em áreas de arroz irrigado. In: Cultivo de soja e milho em terras baixas do Rio Grande do Sul. Beatriz Marti Emygdio; Ana Paula Scheider Afonso da Rosa; Ana Claudia Barneche de Oliveira. Editoras técnicas. Brasília, DF : Embrapa, 2017. p.267-284.
Soares, J. R., Cantarella, H. & Menegale, M. L. D. C. Ammonia volatilization losses from surface-applied urea with urease and nitrification inhibitors. Soil Biology and Biochemistry, v. 52, n. 0, p. 82-89, 2012.
Streck EV, Kampf N, Dalmolin RCD. Solos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EmaterRS; 2008.
Viero F, Menegati GB, Carniel E, Silva PRF e Bayer C. Urease inhibitor and irrigation management to mitigate ammonia volatilization from urea in no-till corn. R. Bras. Ci. Solo, 41:1-11, 2017.
Informações dos autores
¹Programa de Pos-Graduação em Ciência do Solo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS. E-mail: duducarniel@gmail.com;
²Engenheiro Agrônomo. E-mail: fernandoviero@gmail.com;
³Consultor IRGA, Cachoeirinha/RS. E-mail: paulo.silva@ufrgs.br;
4Professor Associado, Departamento de Solos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre/RS. E-mail: cimelio.bayer@ufrgs.br.
Disponível em: Anais do II Congresso Online para Aumento de Produtividade do Milho e Soja (COMSOJA), Santa Maria, 2019.