Autores: Gabriela Benini1; Antônio Augusto Pinto Rossatto1; Leonardo Seibel Sander1; João Paulo Hubner1; Heloísa Schmitz1; Daniela Batista dos Santos2; Juliano Dalcin Martins3
Introdução
O Brasil encontra-se consolidado, em nível mundial, como 3º maior produtor e 2º maior exportador de milho (Zea mays). O consumo interno de milho é elevado no País, por este ser um dos principais produtores mundiais de proteína animal (Conab, 2019). Tendo em vista a importância socioeconômica da cultura do milho, a busca por manejos que aumentem sua produtividade é uma constante.
Sabendo-se que o nitrogênio (N) é o macronutriente mais demandado pela cultura do milho (Sangoi & Almeida, 1994), a utilização de plantas visando a adubação verde, como o nabo forrageiro (Raphanus sativus L.), é uma maneira de atender a essa necessidade. Isso porque, o nabo, que pertencente à família Brassicaceae, possui vigoroso sistema radicular pivotante que explora as camadas mais profundas do solo (Heinzmann, 1985) e apresenta resíduo vegetal com baixa relação C/N, o que o configura com um resíduo com elevada taxa de mineralização e, portanto, uma importante cultura para ciclagem de nutrientes e para ser usada em rotação de culturas no sistema plantio direto.
No entanto, a dinâmica de mineralização dos resíduos e a consequente ciclagem de nutrientes é influenciada pelo manejo que antecede o cultivo de milho. As práticas mais comuns de manejo do nabo incluem a dessecação com herbicidas, rolagem mecânica, trituração ou semeadura direta. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho é avaliar sistemas e épocas de manejo do nabo forrageiro quanto ao estabelecimento inicial e no rendimento de grãos da cultura do milho.
Material e Métodos
A área experimental localizou-se na área agrícola do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Ibirubá, a uma latitude de 28°39’2.72″S e longitude de 53° 6’26.70″O. Segundo Köppen & Geiger a classificação do clima é Cfa (subtropical úmido), com solo da região classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico típico, pertencente à unidade de mapeamento Cruz Alta (Embrapa, 2018). O experimento foi conduzido sob sistema plantio direto (SPD), no ano agrícola 2019/2020, utilizando o delineamento de blocos casualizados em faixa, com 8 tratamentos e 3 repetições. Cada parcela experimental possuía as dimensões de 10 metros de comprimento x 3,5 metros de largura.
A semeadura do nabo forrageiro foi realizada no dia 07 de junho de 2019, com cerca de 22 kg de sementes.ha-1, sob restos culturais de aveia. Cerca de 80 a 120 dias após a semeadura do nabo forrageiro, foram realizados os manejos referentes a cada tratamento (sistemas e épocas), levando em consideração a data de semeadura do milho, ocorrida em 16 de setembro de 2019.
Os manejos, que totalizam 8 tratamentos, foram:
1) T = Testemunha (ausência de plantas de nabo, ou seja, mantido em pousio desde 09 de junho de 2019, após dessecação);
2) RF-30DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca 30 dias antes da semeadura de milho;
3) H-30DAS = Manejo químico das plantas de nabo 30 dias antes da semeadura de milho;
4) RF-15DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca 15 dias antes da semeadura de milho;
5) H-15DAS = Manejo químico das plantas de nabo 15 dias antes da semeadura de milho;
6) S-00DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo com semeadora direta no dia da semeadura de milho;
7) T-00DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo com equipamento triturador no dia da semeadura de milho; e
8) RF-00DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca, no dia da semeadura de milho.
Para o manejo químico das plantas de nabo utilizou-se mistura dos herbicidas 2,4-D (2 L.ha-1) mais Glifosato (3L.ha-1).
Para a semeadura milho foi utilizado híbrido Agroceres AG 9025, com espaçamento de 45 cm entre linhas, regulada para distribuir 3,6 plantas/metro linear, e 440 Kg.ha-1 adubo de formulação NPK 05-20-20. Aos 28 dias após a emergência (DAE) das plântulas de milho, foram amostradas três plantas por parcela para determinação da altura de plantas (realizada com o auxílio de uma régua, medindo-se da base do colo até a parte apical) e da quantificação da matéria, para a qual as amostras foram acondicionadas em sacos de papel, secas em estufa de circulação forçada à temperatura de 60 °C até obterem peso constante e então tiveram a massa quantificada para extrapolação da produção de matéria seca em kg.hectare-1. Também, aos 28 DAE, o teor de clorofila da folha foi determinado por meio de leituras de um clorofilômetro, obtidas no terço médio da última folha completamente expandida, em todas as plantas da área útil da parcela. Quando em maturação fisiológica, a produtividade da cultura do milho foi determinada por meio da colheita manual das espigas presentes nas 3 linhas centrais das parcelas, cada uma com 4 metros de comprimento. As espigas de milho foram trilhadas e os dados foram corrigidos para 13% de umidade dos grãos para o cálculo do rendimento em kg.ha-1
Resultados e Discussão
O crescimento inicial do milho depende de uma adequada disponibilidade de N, que pode ser fornecida junto a semeadura ou pela na decomposição dos resíduos de Nabo forrageiro, o N orgânico é mineralizado e absorvido. Conforme pode ser observado na tabela 1, maiores alturas de plantas de milho foram encontradas em H-30DAS e S-00DAS, que sem diferirem dos demais foram superiores à RF-30DAS (manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca 30 dias antes da semeadura de milho). Na matéria seca o tratamento T-00DAS (manejo mecânico das plantas de nabo com equipamento triturador no dia da semeadura de milho) foi superior apenas à RF-30DAS. Sendo assim, a quantidade de N fornecida no momento da semeadura em conjunto com o N do nabo forrageiro foi suficiente para suprir a demanda de N inicial.
Anteriormente a adubação de N em cobertura, realizou-se a determinação do teor de clorofila, visto que a mesma está associada a quantidade de N fornecida pelo nabo forrageiro e a adubação de base. Maiores teores foram observados em S-00DAS e RF-00DAS e a menor quantidade em RF-30DAS. Sendo assim, em se tratando do desenvolvimento inicial da cultura do milho, o tratamento com RF-30DAS apresentou os piores índices entre as variáveis analisadas, possivelmente devido ao manejo que incluía maior contato entre o resíduo e o solo, acelerando a mineralização, isso num longo período (30 dias) antecedente à semeadura do milho. Heinz (2011), em um estudo determinou que o N do nabo forrageiro tem sua liberação de cerca de 30% do N total já aos 15 dias após o manejo, passando a atingir 60% do N total aos 30 dias após o manejo.
Quanto ao rendimento de grãos, salienta-se que o ano agrícola foi marcado por forte déficit hídrico, o que impossibilitou que os tratamentos avaliados expressassem seus efeitos. De acordo com a tabela 1 pode-se observar que não houve diferenças entre os manejos do nabo pré-semeadura do milho e que a testemunha apresentou menor rendimento, devido ao pousio e à baixa disponibilidade de N fornecida as plantas de milho.
Conclusão
O manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca 30 dias antes da semeadura afetou negativamente o desenvolvimento inicial da cultura do milho.
A presença do nabo forrageiro antecedendo a semeadura do milho, independente do manejo adotado, incrementa o rendimento de grãos. A testemunha (pousio) apresentou o pior rendimento de grãos de milho.
Referências
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/perspectivaspara-a-agropecuaria/item/download/28825_2ed3fc3b5b25a350206d276620cf1c85>. 2019.
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2018. 5ª ed.
HEINZ, R. et al. Decomposição e liberação de nutrientes de resíduos culturais de crambe e nabo forrageiro. Ciência Rural, v.41, n.9, set, 2011. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/cr/v41n9/a11611cr5315.pdf>.
HEINZMANN, F. X. Resíduos culturais de inverno e assimilação de nitrogênio por culturas de verão. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 20, n. 9, p. 1021- 1030, 1985.
SANGOI, L.; ALMEIDA, M. L. de. Doses e épocas de aplicação de nitrogênio para a cultura do milho num solo com alto teor de matéria orgânica. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 29, n. 1, p. 13 – 24, 1994.
Informações sobre os autores:
- ¹ Acadêmica (o) do Curso de Agronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Ibirubá/RS. E-mail: gaby_benini@hotmail.com; antonio_rossatto@hotmail.com; leonardo.sander@ibiruba.ifrs.edu.br; joaopaulo.hubner@hotmail.com; heloschmitz@outlook.com
- ² Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Ibirubá/RS. E-mail: daniela.santos@ibiruba.ifrs.edu.br
- ³ Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS. E-mail: julianodalcinmartins@gmail.com