Fenômenos climáticos e seus efeitos interferem, significativamente, nos resultados alcançados pela agricultura.  No Brasil, após quase três anos com recordes na produção agrícola, o cenário pode mudar drasticamente com o encerramento do efeito La Niña, em março deste ano, e a chegada do El Niño com intensidades de moderada a forte, segundo Cleverson Freitas, agrometeorologista do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET.

Para Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), há uma preocupação em relação às consequências do El Niño para as safras de verão. “Já existem estudos estimando uma redução da safra 2023/24 maior que a prevista inicialmente”.

Aumento de intensidade

A maioria dos modelos climáticos sugere que, durante a próxima primavera e o verão, o El Niño possa alcançar intensidades de moderada a forte. “No entanto, é importante notar que estes estudos apresentam divergências, especialmente em relação à intensidade do fenômeno nos próximos meses. Essa variação na intensidade e a incerteza nos modelos tornam crucial o monitoramento contínuo para entender os impactos potenciais em diferentes regiões do Brasil”, disse Cleverson.

Efeitos esperados por região

O El Niño tem impactos climáticos distintos em diferentes regiões do Brasil. De forma geral, esse fenômeno contribui para uma atmosfera mais aquecida, o que serve como combustível para chuvas de verão em forma de pancadas. Além disso, as correntes polares tendem a enfraquecer, reduzindo o risco de geadas durante o inverno.

– Norte e Nordeste/INMET: Tendência a secas mais severas e aumento dos focos de incêndio.

“Os efeitos para o nordeste vão variar de acordo com a estrutura de cada propriedade. Por exemplo, o Vale do São Francisco é um grande produtor de uva; porém a falta de chuva não é uma preocupação para eles, porque a maioria das áreas possui irrigação. Sem contar que os agricultores daquela região regulam a o teor de umidade, garantido a qualidade dos seus produtos”, explicou o vice-presidente da SNA.

– Centro-Oeste e Sudeste/INMET: Aumento das temperaturas médias e irregularidade nas chuvas.

Hélio Sirimarco acredita que uma das consequências para a agricultura no centro-oeste, principalmente em áreas não irrigadas, é uma queda na produtividade. “Na região Sudeste, outras culturas como o café e a cana-de-açúcar também podem ser afetadas com o excesso de chuva”.

– Sul/INMET: Chuvas acima da média, especialmente durante a primavera e o verão, o que pode levar a enchentes e deslizamentos de terra.

“O Sul sofreu esse triênio com a seca ocasionada pelo La Niña e agora pode sofrer com excesso de chuva”, comentou Hélio.

*Vale ressaltar que nem todo evento El Niño gera impactos típicos, podendo ser observados efeitos distintos de acordo com a configuração e intensidade do fenômeno.

El Niño nos EUA

Sirimarco mencionou a situação que os Estados Unidos estão enfrentando. “Como eles estão com excesso de temperaturas muito altas e falta de chuva nas regiões do chamado Corn Belt (Cinturão do milho) a produção está caindo e as estimativas estão sendo reduzidas, porque a qualidade das lavouras está caindo. Um relatório apresentado pelo USDA, na última semana, mostrou que a condição das lavouras de milho em boas e excelentes condições caiu 3% em uma semana e as de soja caiu 5% no mesmo período”.

La Niña x El Niño

O El Niño se difere da La Niña em vários aspectos, pois são dois estados opostos do fenômeno, sendo ambos caracterizados por variações na temperatura da superfície do mar (TSM) no Oceano Pacífico Equatorial, entretanto cada um com seus efeitos distintos.

“Nesses últimos três anos que passamos sob a influência da La Niña, a região Sul do país enfrentou secas severas, além de ondas de calor nos meses de verão e invernos mais rigorosos. Além disso, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o inverno também foi, ligeiramente, mais rigoroso. Já nas regiões Norte e Nordeste, houve um aumento das chuvas e dos níveis dos reservatórios, e também de condições mais favoráveis para os cultivos em áreas do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”, relembrou o agrometeorologista do INMET.

Em resumo, enquanto o El Niño tende a trazer condições mais quentes e úmidas para várias regiões do Brasil, a La Niña, geralmente, traz condições mais frias e secas. No entanto, é importante notar que esses são padrões gerais e que os impactos específicos podem variar devido a uma série de fatores locais e regionais, incluindo outros sistemas meteorológicos e padrões de teleconexão.

Fonte: SNA – Por Equipe SNA

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