Os inseticidas químicos são ferramentas essenciais na proteção da soja, e demais culturas agrícolas, contra o ataque de pragas. De acordo com Comitê de Ação contra Resistência a Inseticidas (IRAC), existem atualmente cerca de 30 modos de ação diferentes, classificados em quatro grandes categorias de acordo com o processo biológico afetado no inseto: sistema nervoso e muscular, crescimento e desenvolvimento, respiração celular e sistema digestivo. Há ainda produtos que não se encaixam nessa classificação por atuarem simultaneamente em mais de um sítio, ou cujo sítio de ação ainda é desconhecido.
Figura 1. Sítios de ação dos principais inseticidas químicos utilizados atualmente. A representação de um percevejo é meramente ilustrativa, já que vários desses inseticidas não apresentam efeito de controle sobre essa espécie.
Créditos da imagem: Henrique Pozebon e Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM.
Ao contrário dos inseticidas neuromusculares, que geralmente agem tanto por contato quanto por ingestão, os chamados reguladores de crescimento precisam necessariamente ser ingeridos pelo inseto, de modo que sua ação é comparativamente mais lenta. Entretanto, essa menor velocidade de ação é compensada por um residual mais longo. Além disso, costumam ser inseticidas altamente seletivos e com baixa toxicidade aos organismos não-alvo, já que atuam sobre estruturas e processos fisiológicos presentes apenas nos insetos.
Os insetos passam por mudas periódicas (ecdise), processo este controlado por dois hormônios principais: o hormônio juvenil e o hormônio da ecdise. É aqui que atuam os inseticidas denominados juvenoides e ecdisteroides, capazes de mimetizar (imitar) a ação desses dois hormônios, respectivamente. O primeiro grupo é recomendado para o controle de sugadores, como percevejos e mosca-branca, enquanto o segundo é utilizado no manejo de larvas de lepidópteros (lagartas desfolhadoras) e de coleópteros (corós do solo).
Durante o processo de mudança de tegumento, ocorre intensa divisão celular na epiderme do inseto, demandando alta quantidade de lipídios. A síntese desses compostos pode ser interrompida pelo espiromesifeno, inseticida altamente eficiente no controle das fases iniciais de mosca-branca, pulgões e ácaros. Outra particularidade desse ingrediente ativo é a sua ação translaminar: ao ser aplicado na face superior da folha, o inseticida distribui-se pelo mesófilo até atingir a face inferior, podendo controlar os insetos ali presentes (Figura 2).
Figura 2. Representação do controle de pulgões por contato direto com o inseticida e por translocação do ingrediente ativo via xilema e ação translaminar.
Fonte: BAYER. Confira a imagem original clicando aqui;
Para que o novo tegumento do inseto seja produzido, é necessária também uma alta quantidade de quitina, sendo essa a substância responsável por conferir resistência e rigidez à cutícula. A síntese de quitina pode ser inibida por meio de dois grupos de inseticidas: as benzoilureias, com ação específica sobre lepidópteros (lagartas); e a buprofezina, com efeito sobre hemípteros (sugadores). Há ainda o etoxazole, ingrediente ativo com modo de ação semelhante e com alta eficiência de controle sobre ácaros; e a ciromazina, específica para o controle de dípteros.
Lembre-se que os nomes citados em negrito (juvenoides, ecdisteroides, etc.) representam os grupos químicos dos inseticidas, cada qual podendo conter vários ingredientes ativos diferentes. As benzoilureias, por exemplo, incluem 11 inseticidas distintos, comercializados sob diferentes nomes e formulações. Já o local primário de ação do inseticida no organismo do inseto, associado ao processo fisiológico afetado, constituem o seu modo de ação propriamente dito. Para compreender melhor, veja a Figura 3.
Figura 3. Modos de ação, grupos químicos e ingredientes ativos das benzoilureias, buprofezina, ciromazina e diacilhidrazinas (ecdisteroides). O nome do ingrediente ativo é informado na bula de cada produto comercial.
Fonte: IRAC-BR. Para conferir a classificação dos demais inseticidas, clique aqui;
Ressalta-se que inseticidas dotados de novos modos de ação surgem no mercado apenas a cada cinco ou dez anos, denotando a importância de prevenir-se o surgimento de resistência em pragas por meio da rotação dos modos de ação nas lavouras. No próximo texto, abordaremos os aspectos gerais da terceira grande classe de inseticidas: os inibidores da respiração celular. Para saber mais sobre o funcionamento dos inseticidas reguladores de crescimento, clique aqui.
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
SALGADO, V. L. 2013. BASF Insecticide Mode of Action Technical Training Manual. Disponível em: https://agriculture.basf.com/global/assets/en/Crop%20Protection/innovation/BASF_Insecticide_MoA_Manual_2014.pdf
IRAC. 2018. Mode of Action Classification Scheme.
Disponível em: https://www.irac-online.org/documents/moa-structures-poster-english/?ext=pdf