A produção agrícola na região sul do Brasil foi extremamente afetada na maioria das propriedades pela escassez de chuvas na safra de 2021/22. Porém, os produtores que possuíam um sistema de irrigação nas suas lavouras conseguiram garantir a produção destas áreas. Para entender melhor esse assunto é preciso conhecer as variáveis do custo de implantação, operação, manutenção e quais benefícios esse sistema pode proporcionar para o produtor e sua plantação.
O pivô central (figura 1) é um dos principais sistemas de irrigação por aspersão utilizado no mundo, pois, estando em perfeito estado de funcionamento, distribui água de maneira uniforme e controlada na área irrigada. Esse sistema possui facilidade de operação, requer pouca mão de obra, além da possibilidade de irrigar grandes áreas com apenas um único equipamento. Ainda, aliado a outros manejos, proporciona garantia da colheita através da satisfação das necessidades hídricas requeridas pelas culturas. Pode ser implantado também com o intuito de obter uma verticalização na produção, aumentando a produtividade.
Para instalar um sistema de pivô central deve-se primeiramente fazer uma análise dos fatores meteorológicos da região em que será implantado, para decidir se há ou não a necessidade da irrigação. Outros fatores importantes são: verificar se há disponibilidade de água necessária para suprir a vazão da motobomba e se a energia elétrica local é adequada para o uso do equipamento.
A soja, por exemplo, necessita de 450 a 700 mm para ciclos de 130 dias, dependendo do clima (Fendrich et al., 2003), para atingir sua produção máxima. Logo, se a precipitação na região da lavoura for inferior a esses valores durante o período do ciclo, já se tem um forte indicador na tomada de decisão. Seguindo esta linha, a irrigação também irá suprir as necessidades hídricas da cultura, evitando perdas por veranicos, principalmente quando esses ocorrem em períodos críticos fenológicos como o florescimento e enchimento de grãos.
A irrigação é uma tecnologia que demanda alto investimento inicial e operacional. Existem dois principais grupos de custos: os fixos e os variáveis. Os custos fixos referem-se à aquisição do equipamento, tubulação, instalação da rede elétrica, impostos, taxas, depreciação e o seguro do equipamento. Os custos variáveis são aqueles que variam de acordo com a intensidade do uso da máquina, tais como energia, reparos, peças, graxas e a manutenção de modo geral.
O custo de aquisição do pivô depende diretamente do tamanho da área que ele cobre, entretanto, quanto maior o raio do pivô, menor o preço por hectare. Outro fator que influencia no preço da aquisição dos equipamentos é a tubulação, pois quanto mais distante do centro do pivô ficar instalado a motobomba, maior o gasto com canos. A instalação da rede elétrica também deve ser considerada, pois em alguns casos é necessário projetar uma rede elétrica com unidade de medição e transformador. Atualmente, um sistema completo varia entre R$8000,00 e R$13000,00 por hectare. Esses valores estão diretamente ligados ao tamanho do pivô, quanto maior a área que o pivô cobre, menor o custo de aquisição por hectare.
Dentre os custos variáveis, os principais são o gasto com energia e a lâmina de água aplicada. Um fator atenuante desses valores é a quantidade de irrigação a ser realizada e a modalidade tarifária aderida, esta última se caracteriza pela quantidade de horas de uso, nível da tensão e a localidade. O horário de funcionamento do sistema também influencia diretamente na conta final, pois em horários de ponta como das 18h às 21h, exceto sábados, domingos e feriados o valor da tarifa de consumo é cerca de quatro vezes maior que o valor da tarifa fora da ponta. (Resolução ANEEL 418/2010).
O manejo da irrigação gira em torno de duas perguntas: quando e quanto irrigar? Essas respostas obtêm-se através das características físicas do solo da propriedade e qual cultura que será cultivada.
As características físicas são obtidas através de uma análise de textura do solo. Exemplo: Um solo predominantemente arenoso possui características como boa aeração, boa drenagem e suscetibilidade à lixiviação. Um solo argiloso, por sua vez,possui uma maior capacidade de retenção de água, menor suscetibilidade à lixiviação e em alguns casos deficiência na drenagem.
Já sobre a cultura que será plantada, deve-se conhecer as demandas hídricas nos diferentes estágios fenológicos, o coeficiente da cultura (Kc), e a evapotranspiração da cultura (ETc). Ainda há a decisão se a irrigação será total ou parcial. Exemplo: iniciar a irrigação na soja somente após o início do estágio reprodutivo; ou irrigar durante todo o ciclo.
Em síntese, a irrigação é um excelente investimento se existir um bom planejamento de instalação, manejo e manutenção periódica. O conhecimento das variáveis que impactam nos custos é essencial para a viabilidade econômica do sistema. A irrigação proporciona segurança para o produtor contra os extremos climáticos como as secas, e maximiza a produção da cultura gerando lucro ao proprietário.
Autor: Ricardo Pacheco Castro – Acadêmico do 3° semestre de Agronomia e Bolsista do grupo PET Agronomia e Voluntário do Grupo de pesquisa em Manejo de água em sistemas agrícolas-SISTEMA IRRIGA na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
Referências:
BERNARDO, Salassier; SOARES, Antônio Alves; MANTOVANI, Everardo Chartuni; Manual de irrigação, 8ª edição, editora UFV, Viçosa, MG, 2008.
OKAWA, Hiroshige; Pivô Central: Forma Prática De Calcular Seu Custo De Operação, São Paulo, SP, 2001.
SILVA, Saulo Cesar; CUSTO DO BOMBEAMENTO DE ÁGUA EM SISTEMA DE IRRIGAÇÃO SOB DIFERENTES MODALIDADES TARIFÁRIAS, Urutaí, RS, 2020.
RIBEIRO, B.S.R; ZANON, A.J; STRECK, N.A; FRIEDRICH, E.D; PILECCO, I.B; ALVES, A.F; PUNTEL,S; SARMENTO, L.F.V; STRECK, I.L; INKLMAN, V.B; PETRY, M.T; MARTINS, J.D; BORTOLUZZI,M.P; LOOSE, L.H; BRUNETTO, G; MARIN, F.R; ANTOLIN, L.A.S; BREDEMEIER,C; VIAN, A.L; OLIVEIRA, L.F.R; ECOFISIOLOGIA DO MILHO VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES, 1ª ed, Santa Maria, RS, 2020.